RECEITA BOLIVARIANA

 

Artigo publicado no número 243 do Vila em Foco.

 

Economista Marcos Coimbra

Professor, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.

         A imprensa noticiou que o primeiro mandatário do Equador, Sr. Rafael Corrêa, enviou mensagem ao Legislativo com o seguinte conteúdo: “Eu decidi pedir para o nosso bloco na Assembleia que a Constituição seja alterada para estabelecer a reeleição por tempo indefinido em todas as posições de eleição popular para que o povo possa escolher quem continua e quem alterna". Ele já foi eleito duas vezes, inclusive usando um artifício de encurtar o primeiro mandato, para, após alteração da Constituição, poder ser candidato novamente, o que não era permitido. Como possui maioria no Legislativo, o desejo dele deverá ser aprovado e teremos um novo “presidente perpétuo”, a exemplo do falecido Hugo Chávez. Somente sairá do poder morto e, possivelmente, nomeando seu sucessor, a exemplo de outros países bolivarianos. Na Argentina, a dinastia Kirchner. Na Nicarágua, Daniel Ortega. Na Bolívia, Evo Morales e por ai vai.

         O receituário é o mesmo. Utilizando-se das fragilidades da democracia, um candidato bolivariano é eleito e ao tomar as rédeas do poder, altera a Constituição, para perpetuação no poder ou pessoalmente ou através de um títere.

         No antigo Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, sob a direção do seu então chefe Luiz Gushiken, um dos cenários prospectivos traçados partia da premissa de que Lula seria o presidente da República em 2022, ano de comemoração do bicentenário da independência do Brasil. Ora, isto só seria possível de acontecer nas seguintes hipóteses. Na primeira, Lula conseguiria obter via plebiscitária o direito de concorrer “ad eternum” à presidência, a semelhança do  conseguido por Chávez e outros. Na segunda, caso não conseguisse seu intento, elegeria um títere em 2010, retornando ao poder em 2014, sendo reeleito em 2018 e permanecendo no poder até 2022. A primeira hipótese não ocorreu.

Como a presidente Dilma não abriu mão da reeleição, caso ela ganhe, ele adiará seu projeto para 2018. Caso ela perca, o vencedor viverá um verdadeiro inferno, pois a situação econômica do país exigirá medidas drásticas e impopulares, após as eleições, além da sabotagem previsível a ser implementada pelos milhares de petistas enquistados em cargos de relevância na máquina governamental, em aliança com os ditos movimentos sociais, sob o comando dos recursos oriundos dos atuais detentores do poder político, facilitando seu retorno triunfal.

         Desta forma, o PT permaneceria no poder para sempre, pois após 16 anos de administração petista (incluindo-se o período 2014/2018 ou 2018/2022, é evidente o quase completo domínio de todas as fontes de poder por ele. Mais da metade dos componentes das mais altas cortes de Justiça do Brasil foi nomeada por Lula ou Dilma. Já possuem a maioria formal no STF. Com mais uma nomeação, obterão o controle total. O Legislativo é inteiramente submisso aos seus caprichos. Inexiste uma oposição digna deste qualificativo. Os sindicatos foram cooptados. Até as lideranças estudantis foram anuladas. A mídia, com raras exceções, depende das verbas de publicidade da União e das estatais. Quem diverge e verbaliza sua crítica é silenciado. A exposição positiva de Lula/Dilma é digna de um plano de Goebbels. Atualmente, ela aparece todos os dias em praticamente todos os principais veículos de comunicação, em especial na televisão, mais vista pelas classes C, D e E, segmentos mais importantes em uma eleição, a exemplo de Lula, seguindo o modelo: pai dos pobres e mãe dos ricos, aliança imbatível.

         Com a insegurança propiciada pela adoção das urnas eletrônicas de primeira geração e com o mote “O bicho vai pegar”, o pleito de outubro promete ser um dos mais agressivos da história pátria. Após a realização da Copa, o país vivenciará dias muito difíceis. A posição da Sra. Marina merece ser estudada com calma. Oriunda do PT e defensora de teses agradáveis aos interesses da oligarquia anglo-saxônica ela vai, pouco a pouco, dinamitando a estrada de cooperação construída por Aécio/Campos, tornando este último seu refém e sinalizando que partirá no segundo turno para a neutralidade ou mesmo para o apoio aos petistas.

         Estaria consolidada, de maneira irreversível, uma ditadura constitucional brasileira, sem perspectiva de reversão. E o quadro de 2014 é assustador. Qualquer um dos principais candidatos apresentados até agora (Dilma. Aécio, Campos) representa a continuação da mesma política de submissão aos interesses da banca internacional. Caso o PT vença,  será imposta uma reforma política bolivariana, a censura velada aos meios de comunicação e outras medidas ditatoriais previstas no PNDH-3.

         Será que os outros partidos políticos aliados dos petistas, bem como a classe empresarial ainda não perceberam o perigo real existente? A consequência natural da concretização deste plano sinistro será a redução a pó de qualquer vestígio de importância de ambos os segmentos e a implantação de uma ditadura branca baseada no binômio ilusionismo/cleptocracia.

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