O DIÁLOGO INTERAMERICANO E FHC
Artigo publicado em 28.11.2002
no Monitor Mercantil.
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de
Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro
da ESG.
A imprensa noticiou nesta semana que o Sr. FHC assumirá
a co-presidência do Diálogo Interamericano, bem como concluirá os preparativos
para a criação de uma nova organização de estudos não-governamental de estudos
políticos, ligada ao citado Diálogo. A maioria dos brasileiros não possui a menor idéia do que seja tal entidade,
apesar de inúmeros artigos escritos sobre ele. Vamos recordar algumas de suas
características.
O Diálogo Interamericano foi fundado em 1982, por
iniciativa do banqueiro David Rockefeller. Seu
endereço é 1211 Connecticut Avenue,
Suite 510, Washington, DC 20036, tel. (202) 822-9002, Fax (202) 822-9553, site:
iad@thedialogue.org. É composto por cidadãos oriundos dos EUA, Canadá, México,
América do Sul e Caribe. Seus
dois objetivos principais são: a)
propiciar um significativo canal não governamental de comunicação entre líderes
das Américas; b) providenciar análise substancial e propostas de políticas
específicas, com o objetivo de resolver problemas regionais cruciais. Tudo isto
dentro do receituário neoliberal, preconizando o fortalecimento das entidades
de direitos humanos, o enfraquecimento das Forças Armadas, a necessidade de
garantir o pagamento das dívidas externas e privatização de empresas estatais
para abater dívidas e a questão das
drogas, em especial no que afeta ao Poder Nacional dos EUA.
Suas principais fontes de financiamento são as Fundações Ford, MacArthur, a corporação Carnegie, American Airlines, Banco Itau, Bank America, Bank Boston, Chase Manhattan Foundation, General Eletric, Texaco, Time Warner, Trans-Brasil Airlines, USAID, BID, Xerox, Banco Mundial e outras. No ano de 1988, houve uma reunião ampla, já acrescida de novos membros, em Washington, quando então foram acordadas as políticas e estratégias a serem adotadas para domínio da América Latina e do Caribe, de onde surgiu a expressão “Consenso de Washington”, porém do qual resultou , por escrito, apenas um documento modesto, informando sua realização, sem entrar em pormenores, em função da gravidade dos assuntos tratados e da necessidade de sigilo. Não é por acaso que o instituto da reeleição foi implementado na Argentina, no Peru e no Brasil, nem a nomeação de integrantes desta “seleta” elite para cargos de importância em seus respectivos países, bem como a padronização caracterizada pela subordinação das medidas econômicas de todos os países ao FMI, pela elevada taxa de juros, pelo brutal endividamento externo e interno, pela tentativa de “dolarização” das economias, pela pressão para implantar o “currency board”, pelo fortalecimento das ONG’s (vide o "Viva Rio" no Brasil, que orienta a política de segurança pública do país) e das comissões de “direitos humanos”, pelo desarmamento da população (vide projeto encaminhado ao Congresso pelo Presidente FHC), pela venda por “tostões” das jóias da coroa, pela cumplicidade da grande imprensa, pela entrega de setores vitais e estratégicos dos respectivos países a empresas estrangeiras, algumas até estatais, pela pressão para incorporação do Mercosul à ALCA .
Possuía, segundo dados de novembro do
corrente ano, setenta fundadores e
cerca de cem membros, dentre os quais destacamos: a) Brasil- Sr. Fernando
Henrique Cardoso- ex-presidente do CEBRAP, licenciado; Sr. Celso Lafer,
ministro das Relações Exteriores; Sr. Roberto Civita, Presidente da Editora
Abril. Mais tarde entraram o Sr. Roberto Teixeira da Costa, o Sr. Bolívar
Lamounier, o Sr. Henrique Campos Meirelles, a Sra. Celina Vargas do Amaral
Peixoto, a Sra. Dulce Maria Pereira (ex-Fundação Palmares), a Sra. Jacqueline
Pitanguy e outros; b) EUA- Sr. Jimmy Carter - ex-presidente do país; Sr. Albert
Fishlow-Departamento de Economia da Universidade da Califórnia (Berkeley); Sr.
Cyrus Vance-ex-secretário de Estado; Sr. Robert McNamara-ex-secretário de
Defesa; Sr. Abraham Lowenthal-ex-Diretor Executivo do Diálogo e Professor da Universidade da Califórnia; Sr. Peter
Hakim-atual Presidente do Diálogo.
Encontramos ainda figuras de proa de
praticamente todos os países da América do Sul, como o Sr. Raúl Affonsin,
ex-presidente da Argentina, o Sr. Mario Vargas Llosa, ex-candidato à
Presidência do Peru, o Sr. Enrique Iglesias, presidente do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID) e o Sr. Júlio Maria Sanguinetti, presidente atual do
Uruguai, mas licenciado do Diálogo, em
função de suas atuais funções. Como podem os leitores perceber, é uma amostra
significativa. Todos estes dados podem ser encontrados na Biblioteca do
Congresso dos EUA, livremente, numa publicação com mais de 50 páginas, datada
de 28 de abril de 1988- “The Americas in 1988: A Time for Choices” e no próprio
site do Inter-American Dialogue, citado anteriormente, o qual pode ser acessado
livremente por qualquer interessado. Inclusive no nosso sítio www.brasilsoberano.com.br há um
"link" para o Diálogo Interamericano.
A tarefa dos
seus integrantes nada mais é do que o fiel cumprimento das normas ditadas
justamente pelos "donos do mundo", através da Trilateral, do Diálogo
Interamericano e do Consenso de
Washington. Estas ações de submissão, de entreguismo explícito, de
subserviência incondicional, trouxeram, como conseqüência, a grave situação
vivenciada pelos principais países da América Latina, de acordo com o
receituário neoliberal. Caiu a máscara final!
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