A GLOBALIZAÇÃO E A SOBERANIA TERRITORIAL
Prof. Marcos
Coimbra
Membro
efetivo do Conselho Diretor do CEBRES, Professor aposentado de Economia na UERJ
e Conselheiro da ESG.
(Artigo
publicado em 01.11.08 no Vila em Foco).
O processo de Globalização é divulgado como sendo a
forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo,
levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos.
Com isso, gerando a fase da expansão capitalista, onde é possível realizar
transações financeiras, expandir seu negócio até então restrito ao seu mercado
de atuação para mercados distantes e emergentes, sem necessariamente um
investimento alto de capital financeiro, pois a comunicação no mundo
globalizado permite tal expansão, obtendo-se o aumento acirrado da
concorrência.
Na realidade, a globalização nada mais é do que uma
forma moderna de neocolonialismo, onde as nações mais
ricas (G-7) implementam uma estratégia de dominação
sub-reptícia, com o emprego do ardil de necessidade de maior integração para
que possam continuar a utilizar os recursos naturais e riquezas dos países
periféricos, de forma a beneficiar seus respectivos povos.
Na esfera política há a contribuição direta e
indireta para eleição no Executivo e Legislativo, em especial de sicários
comprometidos com suas estratégias de dominação. Na expressão psicossocial
existe o domínio da Educação (exemplo: acordo MEC-USAID) e Cultura (Cinema,
Teatro, Meios de Comunicação, Universidades etc). No
âmbito econômico diagnosticamos o uso inteligente dos termos das relações de
troca e dos fluxos econômico-financeiros para manutenção das relações de
dependência existentes, com a instituição de 3 padrões
de países. A China realizando a Produção, a Índia operando como
escritório e o Brasil fornecendo matérias primas. Na Ciência e Tecnologia
presenciamos a criação de óbices de toda ordem para impedir a autonomia
tecnológica dos países dependentes. E no aspecto militar identificamos o
bloqueio empregado por meios de toda ordem (imprensa, tecnologia, campanha
difamatória etc.) ao desenvolvimento de qualquer evolução do estado da arte das
Forças Singulares, inclusive impedindo o progresso em setores críticos
(nuclear, aeroespacial etc.), bem como contribuindo direta ou indiretamente
para a destruição de sua indústria bélica.
A Soberania caracteriza-se pela manutenção da
intangibilidade da Nação, assegurada a capacidade de autodeterminação e de
convivência com as demais Nações em termos de igualdade de direitos, não
aceitando qualquer forma de intervenção em seus assuntos internos, nem
participação em atos dessa natureza em relação a outras Nações. A Soberania
significa também a supremacia da ordem jurídica do Estado em todo o território
nacional.
É oportuno salientar que os EUA
questionam a soberania territorial na América do Sul .
Thomas Shannon, chefe da Secretaria de Estado para a
América Latina, disse que a Organização dos Estados Americanos "precisa
fazer mais em relação à ameaça de atores transnacionais". Para Shannon, a crise entre Venezuela, Colômbia e Equador abre
uma questão maior, que é "um equilíbrio entre esse novo entendimento de
segurança e a velha estrutura da OEA, que dizia respeito só à integridade
territorial e soberania e a gerenciar conflitos entre Estados".
A prática tem demonstrado a extrema vulnerabilidade
dos países que não possuem Poder Militar expressivo, especialmente o nuclear.
Os exemplos recentes do Equador, da Ossétia, do Kosovo reforçam esta convicção. Em reforço, a Rússia, em
virtude de deter o poder nuclear, chega fazer parte no G-7, apesar de não ser
uma potência econômica. Também os episódios próximos havidos com a Bolívia, o
Equador e o Paraguai demonstram a fragilidade da ação do Brasil, fruto de dois
fatores principais:
1 – O
sucateamento de nossas Forças Armadas e a destruição da então pujante indústria
bélica nacional, agravado pela carência de líderes militares como existiam no
passado, os quais vão cedendo terreno a cada instante, sem reação;
2 – A
conivência da cúpula do Itamaraty aos avanços de países pertencentes à América
do Sul, sem as devidas medidas preventivas e dissuasórias, por orientação do
próprio Lula, membro pertencente do Foro de São Paulo.
O cenário atual é preocupante e o pior é que não
visualizamos soluções satisfatórias no curto e até no médio prazo. A disputa de
2010 apresenta como principais candidatos Dilma (sempre com a possibilidade de
haver a possibilidade de um terceiro mandato de Lula) e Serra. Em ambos os casos
o processo de deterioração das Forças Armadas será agravado. A tendência é a de
fortalecimento de órgãos como a Polícia Federal e entidades como Força Nacional
de Segurança (com a criação do BEPE) e outras, configurando a real
possibilidade de concretização de uma Guarda Nacional, sob o comando do
ministério da Justiça. O aparato de segurança pública nos Estados está sendo
ocupado por delegados da Polícia Federal que respondem indiretamente à
orientação da Secretaria Nacional de Segurança Pública do ministério da
Justiça. Na área de inteligência o panorama é semelhante, com o progressivo
fortalecimento da ABIN e a perspectiva de integração dos serviços de
inteligência civil e militar, mas agora sob o comando fora do âmbito militar.
Na expressão econômica, o colapso financeiro atinge
cada vez mais a economia real, provocando danosos efeitos como diminuição dos
investimentos, queda no nível de produção e de emprego, com o desaquecimento da
economia brasileira e a piora dos indicadores de desenvolvimento. Isto
possibilita uma oportunidade única de reversão do dantesco quadro existente,
desde que haja uma oposição organizada e preparada para aproveitamento da
ocasião. Porém, não vislumbramos qualquer grupo capaz de uma ação efetiva com
possibilidade de êxito.
Na expressão política não encontramos nenhum
partido que represente uma posição alternativa à onda de entreguismo
e revanchismo em marcha. Na expressão psicossocial a educação está concentrada
no pensamento gramcista e neoliberal, por paradoxal
que pareça. Até os órgãos de ensino militar como a ESG começam
a ser infiltrados. A comunicação também é comandada ou por neoliberais a
serviço de interesses alienígenas ou por viúvas do stalinismo ou por ambos. Na
expressão científico-tecnológica o panorama não é diferente. Persiste a
dependência tecnológica, em especial na área de medicamentos.
É imperiosa a necessidade de refletir e agir sobre
a sociedade brasileira, com determinação e força suficiente para evitar a perda
concreta, pois já é sentida de várias formas, de parte vital do território
nacional, sem resistência.
Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br Sítio: www.brasilsoberano.com.br