REALIDADE CRUEL
Artigo
publicado em 12.06.14-MM.
Economista
Marcos Coimbra
Professor,
Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa
e Autor do livro Brasil Soberano.
Está ficando cada vez mais difícil entender
e sobreviver em nosso amado Brasil. Existem paradoxos revelados a cada instante
capazes de demonstrar uma verdadeira esquizofrenia existente na sociedade. A
esquizofrenia é caracterizada quando comportamentos abertamente desviantes se
manifestam em um sistema. O que é válido para qualquer conjunto, seja ele um
indivíduo, um país ou o mundo.
No país há uma flagrante contradição
entre o virtual e o real. O cidadão é submetido a uma verdadeira “lavagem
cerebral” efetuada pelos meios de comunicação, os quais em curtos intervalos de
tempo despejam uma enorme massa de propaganda oficial, direta e indireta, dos
diversos entes federados, em especial da administração petista federal, bem
como da administração do estado e do município do Rio de Janeiro, vendendo uma
imagem virtual, inteiramente diferente da realidade vivida.
No plano federal, existe uma inflação
oficial beirando o limite superior da meta (6,5% ao ano), sem falar na inflação
represada (energia, combustíveis etc.), a qual fatalmente provocará sérias
consequências nos índices adotados, após as eleições de outubro. O desemprego
no país, segundo o DIEESE está em 11,1% e segundo a Pnad Contínua em 7,1%,
indicadores muito mais realistas do que o dado oficial do IBGE de 4,9% para
abril do corrente ano, devido aos critérios utilizados (nível de abrangência,
taxa de desalento e outros). Se não como explicar o aumento expressivo do
pagamento do seguro desemprego? Será em grande parte oriundo de fraudes? O
cidadão vai acreditar em qual resultado, considerando uma diferença de mais de
100% entre os limites de variação?
O saldo negativo do Balanço de Pagamentos em
Transações Correntes deverá ficar em torno de US$ 80 bilhões no corrente ano e
não será coberto por investimentos diretos. O Passivo Externo ultrapassa o
valor de um trilhão de reais, segundo o insuspeito e competente economista
Reinaldo Gonçalves, o qual classifica a presente administração petista da
seguinte forma: “A mediocridade esférica do governo Dilma estará no centro da
campanha eleitoral de 2014.” A taxa de investimento é inferior a 18% e a taxa
de poupança é menor do que 14%. O PIB deverá ter um modesto crescimento
inferior a 1,5% no corrente ano.
Os bilionários negócios da Copa proporcionarão um
resultado de cerca de US$ 4,5 bilhões à FIFA, sendo que pouco menos da metade
deste valor de lucro líquido. Na ocasião do oferecimento do Brasil como sede da
Copa, o ex-presidente Lula pensou, como de hábito, apenas no bônus, esquecendo
o ônus. Agora, chegou a hora da verdade, que não é agradável no conjunto da
obra. As empreiteiras ficaram muito felizes com os vultosos lucros obtidos, em
especial com obras superfaturadas, políticos receberam e receberão percentuais
significativos de participação destinados ao financiamento de campanhas
eleitorais e ao proveito próprio e muito pouco sobrará para a população, em
especial considerando-se o prometido há sete anos. Obras inacabadas em toda
parte, principalmente nos arredores dos empreendimentos contratados. Das doze
sedes, pelo menos em quatro herdaremos verdadeiros “elefantes brancos”, pois
não há demanda possível. E Lula queria fazer em dezessete cidades.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, particularmente,
o trânsito é caótico. Inexiste mobilidade urbana e sim imobilidade. A criminosa
derrubada do elevado da Perimetral é elogiada por “especialistas” diariamente
nos jornais, apontando a vitória do transporte público sobre o particular,
surgindo então a pergunta: Qual a qualidade dos serviços oferecidos? Alguma
autoridade os usa? No Rio apenas existe um “linhão” de metrô, subdividido em
duas pernas, sempre cheio, com ar condicionado precário, horários irregulares,
frequentes paralisações. O transporte por ônibus é uma piada e o ferroviário é
mínimo. Sob o pretexto de procura de “beleza” é feita a alegria de grandes
construtoras e aumenta a especulação imobiliária, em prejuízo de milhões de
pessoas que estão vivenciando um caos inimaginável, o qual ainda perdurará por
vários anos para desespero do povo. A população apenas deve ir ao centro da
cidade em função de razões imperiosas, pois sofre e sofrerá graves transtornos.
A greve de uma “dissidência” dos metroviários de
São Paulo torna-se selvagem, já no seu quinto dia. Apesar de declarada abusiva
e ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho, alguns poucos integrantes da
categoria, apoiados por algumas dezenas de baderneiros profissionais,
encobertos sob a denominação de membros de “movimentos sociais”, invadem as
instalações do Metrô, arrombam portas e cadeados, agridem fisicamente colegas
que estavam trabalhando e causam sérios danos a milhões de trabalhadores,
impossibilitados de chegar aos seus destinos, com significativas repercussões
nas atividades econômicas.
Em Brasília, 300 índios ocupam instalações
públicas, sitiam o ministério da Justiça e um deles fere um policial com uma
flechada. O interessante é que seu deslocamento foi feito com recursos
públicos. Invasões a espaços públicos incluem a ocupação até por estrangeiros e
surge a notícia de que existem transações ilegais.
Haverá saída para este caos?
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