PONTA DO ICEBERG
Artigo
publicado em 07.08.14-MM.
Economista
Marcos Coimbra
Professor,
Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa
e Autor do livro Brasil Soberano.
A Justiça do Rio de Janeiro decretou no dia 04 do
corrente o bloqueio de bens do deputado federal Rodrigo Betlhem
(PMDB-RJ), da ex-mulher dele, Vanessa Felippe, da ONG
Casa Espírita Tesloo e do ex-presidente da entidade,
major reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Sérgio Pereira de
Magalhães Júnior. O caso segue em segredo de Justiça e, por isso, tanto a
promotoria quanto o Tribunal de Justiça não informaram detalhes da ação. O
deputado é investigado por desvio de dinheiro público em contratos firmados no
período em que atuou como secretário de governo do prefeito Eduardo Paes. Por causa
do escândalo, denunciado pela revista Época, o parlamentar desistiu de
concorrer à reeleição.
Os contratos firmados pelo deputado Bethlem quando
ele exerceu funções na prefeitura de 2009 a 2014, são alvo de uma auditoria especial da prefeitura do Rio de
Janeiro, a pedido do prefeito Paes.
A revista mostrou gravações em que o deputado diz à ex-mulher, Vanessa Felippe, filha do atual Presidente da Câmara, vereador
Jorge Felippe, que recebia dinheiro proveniente de
convênios municipais. Durante uma negociação de pensão com a ex, gravada por ela em 2011, Bethlem afirma ter uma receita
de R$ 100 mil. Na época, ele recebia cerca de R$ 18 mil de salário líquido.
Depois da divulgação das gravações, o deputado
divulgou nota na qual nega as acusações. Bethlem ocupou três cargos na
administração municipal. Em 2009, foi secretário da Ordem Pública, quando
recebeu o apelido de "xerife" do Rio em razão das operações de Choque
de Ordem. No período de 2011 a 2012, foi secretário de Assistência Social. Após
a reeleição de Paes em 2012, assumiu a Secretaria de Governo, onde permaneceu
até abril deste ano, quando pediu licença para concorrer às eleições e tentar
se reeleger deputado federal.
Inclusive, ele integrava o grupo considerado como
“puxador de votos” para eleição de um grande número de deputados federais do
PMDB-RJ composto por homens de confiança do prefeito Paes, liderado pelo seu
ex-secretário da Casa Civil da
Prefeitura, Pedro Paulo Carvalho Teixeira. Bethlem era o segundo e o ex- secretário municipal de Transportes, Carlos Osório o terceiro
da lista. Comenta-se que Pedro Paulo é o candidato preferencial de Paes para
assumir a prefeitura do Rio em 2017.
Uma semana depois de denunciar o suposto esquema de
desvio de verba, a Época publicou novas anotações entregues pela ex-mulher do
deputado Bethlem que levantam suspeitas de que ele favoreceu a Orla Rio,
concessionária responsável pelos quiosques da praia, quando foi secretário de
Ordem Pública no Rio. Ele teria recebido recursos da empresa pública para sua
campanha a deputado federal, o que é proibido pela lei eleitoral. A empresa
Orla Rio negou as acusações.
O vereador Jorge Felippe,
é considerado o braço-forte do Executivo na Câmara, zelando para que os
projetos do prefeito Eduardo Paes passem sem apertos pela Casa. Graças à Lei de
Acesso à Informação, implementada no ano passado na
primeira gestão do próprio Felippe como presidente, é
possível descobrir em seu gabinete um lado menos conhecido do vereador. Entre
seus 33 funcionários, estão sua irmã, Samira Tuffy Felippe, sua ex-nora, Carla Celestino Costa, além de dois fornecedores
de serviços e dois doadores de recursos para a sua última campanha. Ele é
cotado como um dos principais candidatos a ocupar uma das vagas de Conselheiro
do Tribunal de Contas do município do Rio de Janeiro.
Existe um movimento entre alguns vereadores da
Câmara no sentido de criar uma CPI para investigação pelo Legislativo das
graves acusações formuladas. Considerando a estória de CPIs nas três esferas do
Poder Legislativo, onde existe o domínio avassalador das respectivas Casas
pelos Executivos correspondentes, não há muita esperança em resultados
concretos, porém sempre é possível que ocorra o surgimento de fatos
incriminadores a serem apurados pelo Ministério Público. Sugerimos que tanto a
auditoria especial da prefeitura, quanto a CPI do Legislativo seja mais
abrangente, sendo estendida a outras secretarias, em especial daquelas cujos
titulares sejam candidatos a cargos eletivos nas eleições de outubro. Afinal,
todos sabem que um candidato a deputado, federal ou estadual, terá que gastar
alguns milhões de reais, para obter a eleição ou reeleição. E a tentação é
grande quando o cidadão ocupa um cargo relevante no Executivo, já planejando a
conquista de uma vaga no Legislativo.
Aliás, é oportuno lembrar aquela cena do
ex-governador do DF, de novo candidato, Sr. José Roberto Arruda, filmado por um
delator, seu ex-assessor de confiança, recebendo “pacotes” de dinheiro. Quantos
governadores sairiam ilesos de uma ação semelhante, sendo gravados sem saber em
todos os momentos de sua atividade “laborativa”? Depois se pergunta porque o eleitorado está descrente de tudo, com uma
expectativa crescente de votos brancos, nulos e abstenções. Porém, aqui fica o
nosso apelo no sentido de que o eleitor procure com cuidado os merecedores de
nosso voto. Temos a esperança de que sempre existirá algum candidato merecedor
de nossa confiança. Caso negativo, votemos no menos ruim.
E, em
último caso, na oposição aos que já mostraram suas vulnerabilidades.
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