LENIENTES E
CRUÉIS
Artigo
publicado em 14/12/2017 - Monitor Mercantil
Economista Marcos Coimbra
Professor, Membro do Conselho Diretor do CEBRES,
Acadêmico fundador da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil
Soberano.
As atuais autoridades brasileiras são ao mesmo
tempo cruéis e lenientes. Extremamente sádicas com os cidadãos dignos, honestos
e de bons costumes. Irresponsavelmente frouxas ao lidar com marginais frios e
perigosos.
É uma triste constatação, baseada na observação
real dos fatos. O cidadão brasileiro paga uma das mais altas cargas tributárias
do mundo (cerca de 36% do PIB), talvez a maior dos
emergentes. Isto de acordo com dados oficiais. Caso consideremos a sonegação e
a economia subterrânea, concluímos que o percentual é bem mais significativo,
chegando a alcançar 50% na classe média tradicional. Em contrapartida seria
indispensável a retribuição proporcional dos diversos
entes federativos, sob a forma de prestação de serviços capazes de atender às
necessidades coletivas, de modo digno.
Isto não ocorre. Os órgãos arrecadadores são
eficazes e implacáveis. Os (ir)responsáveis que
possuem a missão de atender ao esperado pelo povo são ineficazes, obrigando os
cidadãos a procurar a iniciativa privada. A situação é extremamente grave no
relativo à infraestrutura social, em especial na área de saúde. Hoje em dia,
mais de 47 milhões de brasileiros são usuários de planos particulares de saúde
e são mal atendidos, com as exceções de praxe.
O sistema particular de saúde é dispendioso,
prometendo mundos e fundos, mas no instante do atendimento parece retroceder ao
padrão do insuficiente sistema público de saúde, de um modo geral. A marcação
de consultas é massacrante. O interessado deve ter uma paciência digna de Jó
para conseguir fazer exames laboratoriais e radiológicos. Para conseguir um ato
cirúrgico, então, é um verdadeiro 13º trabalho de Hércules. As mensalidades são
periodicamente reajustadas, mas os profissionais de saúde não. Um médico é
obrigado a atender um mínimo de 25 pacientes em uma jornada de quatro horas de
trabalho. Na hora da emergência, não há vaga nos hospitais.
Na educação reina o caos. A começar pela nefasta
atuação do ministério da Educação, órgão que deveria ser o principal
responsável pelo ensino no país. A sucessão de erros, representada pela edição
de livros com sua chancela, contendo barbaridades, verdadeiros atentados contra
a língua portuguesa e as ciências matemáticas, além da tentativa no passado de
divulgar o “kit gay” mostram a incompetência do órgão. E tal descalabro é
agravado com a série de enganos cometidos na condução do Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM). O ensino fundamental continua a formar analfabetos
funcionais e o ensino médio sofre tentando corrigir as lacunas existentes, em
vão. O ensino superior público é prejudicado de várias maneiras e o privado
cada vez mais mercantilizado, verdadeiras fábricas de diplomas.
Mas o pior é quando o cidadão necessita recorrer a
serviços criados pelos governantes para exercer a sua cidadania. A “via crucis” é interminável. Carteira de motorista, renovação,
passaporte, registro de arma, vistoria de automóvel, carteira de identidade e
outros. É um verdadeiro tormento. De início, a dificuldade em agendar a data.
Em seguida absurdas exigências, capazes de fazer a vítima voltar ao local do
martírio mais de uma vez. A informação sai a conta-gotas. Cada dia é uma
exigência nova. E a postura do atendente é intimidadora. Parece que ele está
fazendo um favor. Taxas caras são cobradas e maquiavelicamente os prazos de
validade dos documentos são encurtados e novas
exigências impostas. Geralmente, há um aviso de que é delito passível de
punição o desacato a servidor público, para deixar bem claro quem manda. E não
estamos falando de tarefas mais difíceis como a de recuperar o carro em um
depósito de veículos apreendidos.
Já a vida do marginal é sucessivamente aliviada.
Principia pelo tratamento dispensado a um menor de idade infrator com menos de
dezoito anos, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Apesar de já ter até cometido assassinato, ele terá no máximo uma internação
até dezoito anos e excepcionalmente vinte e um anos,
que deve ser renovada a cada três meses, levando quase sempre o magistrado a
liberar o infrator na primeira avaliação. Há uma eterna discussão entre as
secretarias de Assistência Social e organismos como a OAB, Conselhos Regionais
de Enfermagem e Serviço Social e assemelhados, no relativo à
internação compulsória de crianças e adolescentes dependentes de drogas.
Ora, qual é a alternativa proposta pelos críticos à medida adotada? A solução é
deixá-los morrer na rua? Caso achem que o abrigo não é adequado, porque não
construir outro mais adequado? Caso não consigam, façam um cadastro dos
dependentes e cada um leve para sua casa um deles. É demagógica e irresponsável
esta postura do “coitadinho”.
Quanto aos maiores, a recente Lei 11.403/2011 sobre
a prisão preventiva e outros assuntos demonstra claramente a intenção dos
detentores do poder político no Brasil. Ao invés de construir presídios para
acautelar os condenados, é mais fácil criar artifícios para liberá-los e
soltá-los nas ruas, sem a necessária recuperação para que voltem a cometer
crimes contra os indefesos cidadãos. Estes, apesar do resultado do referendo
sobre a comercialização de armas e munições, na prática estão praticamente
proibidos de sequer possuir uma arma de fogo de defesa pessoal, devido à
orientação superior aos órgãos auxiliares para dificultar a compra, e a
renovação do registro de armas de fogo.