FRUTOS DA SUBSERVIÊNCIA

Artigo publicado em 12.12.13-MM

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.

Atravessamos uma das mais graves crises da história pátria, em função principalmente do grau de dependência externa, motivado pela adoção de uma política entreguista, onde autoridades públicas exercem as funções de representantes do capital transnacional, em continuação às administrações anteriores.

         Na expressão política, com raras exceções, não encontramos partidos possuidores de ideário, tábua de valores, doutrina, princípios programáticos bem definidos. Na realidade, o verdadeiro objetivo é assumir o poder, não como um meio para alcançar os Objetivos Nacionais Brasileiros, mas sim como um fim para auferir benesses e vantagens. A corrupção e o nepotismo alcançam níveis nunca imaginados. A Nação foi dividida em "capitanias hereditárias", onde cada região ou estado é dominado por um "cacique" ou por uma plutocracia, combinando não só o poder político, como o econômico e o controle dos meios de comunicação de massa.

O Executivo legisla por intermédio de medidas provisórias, usurpando a função do Legislativo e procurando controlar o Judiciário, configurando uma verdadeira ditadura constitucional monolítica. E o sistema já está preparando a figura do sucessor, através da apresentação de candidatos que, apesar de aparentemente independentes e de oposição, servem aos mesmos interesses, os da Tri-Lateral e de seu representante nas Américas, o Diálogo Interamericano.

         Na expressão econômica, as previsões mais otimistas apontam para um crescimento de cerca de 2,5 % do PIB. Isto representa, de fato, um significado pífio, considerando-se o crescimento dos outros componentes dos BRICs. As administrações atuais persistem na tresloucada idéia de privatização, mesmo que disfarçada, em atendimento aos interesses externos. Nossa infra-estrutura econômico-social continua sendo destruída. As comunicações já foram entregues. Os preços sobem e os serviços pioram. O transporte, em grande parte sob o regime de concessão ou permissão, é um setor onde os empresários privados atuam em cartéis, dominando o mercado, livres de uma efetiva fiscalização. As principais rodovias e estradas vão sendo privatizadas em “leilões” e seus felizes concessionários cobram pedágios extorsivos, como o caso da Via Lagos. Até os aeroportos estão sendo privatizados. O problema é que, mantido o mesmo padrão dos outros setores, vão ocorrer falhas graves. A diferença é que, ao invés do estrago de um eletrodoméstico, vão cair aviões, com centenas de vidas em jogo.

Agora, querem cometer a insanidade de privatizar a CEDAE no Rio. E os estrangeiros que, é lógico, serão os compradores, não estão interessados em investir. Querem comprar, com recursos do BNDES, o que está pronto e lucrar, demitindo funcionários, aumentando preços e deteriorando serviços. As conseqüências são previsíveis. O inferno que está ocorrendo nos outros setores privatizados. Os combustíveis acabam de subir e vão aumentar de novo no ano vindouro, após as eleições. A taxa de juros arbitrada pelo BACEN sobe para imorais 10 %, voltando a ser a maior taxa real do mundo. Os juros cobrados pelo sistema financeiro aumentam a cada dia. Os preços são progressivamente elevados. Os índices oficiais de inflação não refletem a realidade. É o preço da desnacionalização de nossa economia.

Na expressão psicossocial o desemprego atinge 9,8% em outubro, segundo o DIEESE, indicador mais expressivo do que o do IBGE. Caso computemos os parcialmente ocupados, a taxa sobe expressivamente A saúde pública é sucateada ao paroxismo. Não há dúvida de que é a preparação para a privatização. Atualmente, quem não tem um plano particular de saúde está condenado à indigência. E quem tem, apenas passou a ter aquilo que todos nós possuíamos anteriormente. Assistência de razoável categoria. A educação pública também está sendo sufocada, com verbas mal aplicadas, para permitir a expansão do ensino privado. A insegurança cresce avassaladoramente.

         Na expressão militar, o sucateamento imposto às Forças Armadas, os baixos salários e a crescente perda de sua capacidade operacional, em conjunto com a omissão do ministério da Defesa, impossibilita-as, na prática, de cumprir suas missões constitucionais, como a manutenção da Integridade do Patrimônio Nacional. A Amazônia corre sério risco de internacionalização e nossas Forças Armadas não têm condições de, numa guerra convencional, mantê-las, segundo declarações de ex-comandantes.

         Esta é a análise possível de ser feita, com um mínimo de critério, isenção e imparcialidade. Contudo, nem tudo está perdido. O bravo povo brasileiro cansou de dar provas concretas, no passado, da sua capacidade de superar condições adversas, ultrapassá-las e retomar o caminho inexorável do desenvolvimento e da segurança, a fim de ser a potência do terceiro milênio.

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