TEORIA DAS JANELAS PARTIDAS

Prof. Marcos Coimbra

Conselheiro Diretor do CEBRES, Professor de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.

Artigo publicado em 06.05.2010 no MM

         Recebemos de um colega e amigo um interessante texto que circula na Internet com este título, merecedor de profunda reflexão. A seguir, o resumo.   “Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas idênticas abandonadas na via pública, da mesma marca, modelo e até cor. Uma  em Bronx, uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. Dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada sítio. A viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o raio etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto se manteve intacta.

         Contudo, a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto, o resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro do Bronx. Por que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar
todo um processo delituoso? Não se trata de pobreza, de classe A, B ou C. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e relações sociais e humanas. Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma idéia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras,
como que vale tudo. Se é partido um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gera novo delito.

         A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, onde foram eliminados  pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno, conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro. A expressão "Tolerância Zero" soa como uma solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito  principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.” FONTE: http://www.residencialmetropolis.com.br/comunicado_view.php?id_comunicado=28.

         A constatação desta teoria é válida também em nosso país. Quando as pessoas passaram a freqüentar o metrô no Rio, nos seus primórdios, e ele era limpo, confortável, eficiente e eficaz, com tudo funcionando a contento, os mesmos cidadãos que atiravam lixo no chão em outros meios de transporte, não o faziam no metrô. Por que passaram a proceder com educação?

          E agora? Como houve um processo agudo de deterioração do referido meio de transporte, voltaram a ter o mesmo comportamento bárbaro praticado comumente. É evidente  a relação de causa e efeito. E isto é válido tanto no âmbito individual  como no coletivo.

         A Nação assiste estarrecida a prematura antecipação da campanha eleitoral para as eleições presidenciais de outubro, deflagradas inicialmente por Lula, há mais de um ano. Apesar de já ter recebido duas multas da Justiça Eleitoral, não apenas debochou das penalidades recebidas, como persistiu no delito, agora agravado com o uso não só da máquina administrativa, como de recursos públicos, sem o mínimo pudor. Usou uma cadeia nacional de televisão, a pretexto de comunicado sobre o dia do trabalhador, para fazer a divulgação de sua candidata. Não satisfeito, participou de três “showmícios”, em São Paulo, com o mesmo objetivo, apesar de serem proibidos pelo TSE, que nada faz.  Até um avião oficial da presidência foi utilizado pela sua esposa para ir a um encontro da Associação das Mulheres Rurais de Uberaba, onde a pré-candidata petista fez discurso de campanha.

         Ao mesmo tempo, o pré-candidato Garotinho é multado duas vezes por propaganda eleitoral antecipada. Seu partido teve cassado o horário eleitoral gratuito em 2011. Uma representante do Ministério Público Eleitoral  adverte que sua pré-candidatura poderá ser objeto de penalidades mais pesadas, incluindo-se aí possivelmente até a proibição de sua concretização. Também o pré-candidato Serra sofre ação impetrada pelo PT.

         A conclusão é óbvia. A leniência da Justiça Eleitoral é a principal responsável pela baderna generalizada. Se ela tivesse coibido no nascedouro a ação de Lula, nada disto estaria ocorrendo. É o problema das vidraças partidas. A continuar assim, onde iremos parar? As multas revelam-se incapazes de punir os infratores, sendo motivo de escárnio. Acreditamos que apenas a possibilidade concreta de cassação de candidaturas é que poderá amenizar o abuso. Afinal, o TSE já cassou três governadores de oposição, por “coincidência”. O descalabro existente começa a comprometer seriamente a lisura das eleições de outubro próximo.

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