SOLUÇO DE CRESCIMENTO

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 01.11.2004 no jornal Ombro a Ombro.

       A mídia amestrada está noticiando, com muito espalhafato, a recuperação de alguns indicadores econômicos, fazendo despertar no ingênuo povo brasileiro a expectativa de tratar-se de um crescimento sustentável, capaz de ter continuidade, com condições de minorar a grave crise social vivenciada pelos brasileiros que não são banqueiros. Infelizmente, de início, a comparação é com uma base extremamente fraca, qual seja o ano de 2003, quando o PIB do país experimentou um decréscimo de 0,2%. Em seguida, é necessário reconhecer que o crescimento está sendo concretizado devido ao comportamento do agronegócio, em especial voltado para a exportação,  capaz de produzir um superávit equivalente ao saldo previsto da balança comercial para o ano em curso. Depois, estamos praticamente no limite da utilização da capacidade de produção existente, com a capacidade ociosa reduzida para menos de 15%. E, na verdade, ainda não conseguimos alcançar os patamares alcançados no ano de 2002, considerando-se os mesmos indicadores.

       Agora, começa a chegar a hora da verdade. A recuperação começou no terceiro trimestre do ano de 2003 e assim, fatalmente, os indicadores econômicos começarão a mostrar a dura realidade já a partir da próxima apuração. E o principal problema é o de que dificilmente o empresariado privado vai investir na atividade produtiva, no ritmo necessário para sustentação do processo de crescimento. Para ele será muito mais confortável aplicar em títulos públicos, com a remuneração assegurada, no momento, de no mínimo, indecorosos  16,75% ao ano, sem fazer nada, deitado em uma rede, na beira da praia, ao invés de arriscar-se enfrentando as regras vigentes no "mercado". E analistas econômicos, na realidade representantes de poderosos grupos financeiros, travestidos em acadêmicos, anunciam que a taxa SELIC básica de juros deverá chegar a 18% até o final do ano. É inacreditável! Sabem que tal absurdo não poderá ser perpetrado, sem graves conseqüências econômicas, sociais e políticas, porém preparam o terreno para garantir a seus patrões mais alguns milhões de reais, logo convertidos em dólares no exterior, com o aumento para patamar superior a 17%.

       É evidente que, conjugado a um superávit primário de 4,5% do PIB, não há condições de garantia de um crescimento sustentado da nossa Economia. Os banqueiros agradecem, comovidos, os inacreditáveis lucros obtidos, anunciados pela mídia, sem o mínimo constrangimento, em um país onde autoridades governamentais informam haver cerca de 50 milhões de cidadãos abaixo da linha de pobreza e existe a aplicação de uma política assistencialista e clientelista, para tentar minorar as conseqüências lógicas da adoção de medidas econômicas de extrema crueldade, impostas do exterior e adotadas pelos atuais detentores do poder político, que provocam um elevado nível de desemprego e o pagamento de salários de fome. E começam a surgir as inevitáveis denúncias sobre desvio, corrupção, ausência de controle eficaz, falta de assistência aqueles que de fato necessitam e usurpação dos recursos por parte de quem não precisa. Na realidade, o povo brasileiro não quer esmolas e não precisa ser humilhado. Ele quer ser tratado com dignidade. Ele quer trabalho e salários dignos. E o sistema econômico deveria garantir o atendimento de ambas as aspirações, no lugar de operar com o objetivo primordial de enriquecer mais ainda os já milionários banqueiros nacionais e internacionais.

       Por isto, não há recursos para investimento na infra-estrutura econômico-social. E a população paga uma absurda carga tributária de cerca de 40% do PIB e recebe, em contrapartida, serviços públicos de educação, saúde, segurança, energia, transportes, energia insatisfatórios, levando-a a socorrer-se de planos privados complementares.

       É hora de um basta a tal estado de coisas, passando-se da palavra à ação, no sentido de recuperar o país perdido.

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