SOBREVIVENDO AO  CAOS

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 01.12.2004 no jornal Ombro a Ombro.

 

       Recentes acontecimentos ocorridos no Brasil demonstram a grave situação vivenciada pelo povo. Não é possível a um sistema econômico sobreviver submetido a uma taxa de juros de 17,25% ao ano (taxa real superior a 9%) e a um superávit primário de 4,5% do PIB, alcançando o praticado, no primeiro semestre, uma absurda taxa superior a 6% do PIB. Associadas estas duas variáveis à escassez de crédito, ficam explicados os imorais lucros auferidos pelos bancos no país. O sistema financeiro cobra o que quer, quando quer, como quer, sem qualquer limitação ou controle. E o pior, praticamente sem o pagamento de imposto de renda adequado.

       As conseqüências são terríveis não só na expressão econômica do Poder Nacional, como também nas expressões psicossocial, política, militar e científico-tecnológica. Uma taxa de crescimento de 5% ao ano do PIB em 2004, além de modesta, não terá sustentação ao longo do tempo. As importações já começam a superar as exportações no mês de novembro e a taxa de investimentos permanece em torno de 18% do PIB. A capacidade ociosa começa a atingir níveis inferiores a 15% da capacidade produtiva instalada. E o sistema empresarial não encontra motivação para investir na atividade produtiva, devido à demanda insuficiente. A resultante é uma brutal e progressiva transferência de renda do setor produtivo para o segmento financeiro. A carga tributária avança para 40% do PIB.

       O desemprego atinge cerca de 12 milhões de trabalhadores e a renda dos assalariados, pensionistas e aposentados decresce, em termos reais, a cada ano. A educação cai de qualidade, a cada ano, empregando-se artifícios como sistema de quotas, programas de salvação de instituições particulares de ensino e aprovação automática para mascarar a decadência do ensino público e particular. O atendimento sucumbe à ganância de interesses escusos. A assistência médica pública que era garantida, há 30 anos atrás, desapareceu e o sistema privado surgido em seu vácuo, mesmo regiamente pago, é incapaz de substituí-lo. A segurança pública inexiste na maior parte da federação. No campo, o MST e seus congêneres implantam a desordem, demonstrando o início do fim da propriedade privada no país. Nas metrópoles as razões de insegurança aumentam . No Espírito Santo o Exército é chama do para intervir objetivando impedir a queima de veículos coletivos. No Rio de Janeiro, diariamente vias expressas de circulação são interditadas, em virtude da atuação dos representantes do crime organizado.

       Enquanto o ministro da (in)justiça anuncia semanalmente sucessivos recordes na quantidade de armas entregues pela população, os níveis de criminalidade aumentam. Avançam as propostas de descriminalização do uso de drogas, o abrandamento das penalidades para crimes hediondos e a perpetuação da impunidade de criminosos de alta periculosidade "menores de idade", apesar de serem maiores na hora de cometer atrocidades. Parece que o objetivo é libertar os marginais e enjaular os cidadãos de bem. As Forças Armadas sofrem um permanente e progressivo processo de esvaziamento, concretizado pela diminuição de verbas destinadas ao efetivo emprego de suas missões constitucionais, bem como pela insidiosa campanha empreendida pela "mídia amestrada", com a intenção de desmoralizá-las. Tropas brasileiras atuam no Haiti, sem a devida cobertura, fazendo o que são impedidas de realizar no território pátrio. E ainda sonham com a utopia de obtenção de um assento no Conselho de Segurança da ONU.

       Os óbices ao nosso desenvolvimento científico-tecnológico aumentam. Além da escassez de verbas destinadas à pesquisa e desenvolvimento, da sabotagem direta e indireta aos nossos projetos mais significativos, crescem as pressões externas com o fim de impedir nossa independência tecnológica. Acordos internacionais assinados com diversos países são danosos aos interesses nacionais.

       O povo brasileiro não merece este tratamento. O pesadelo venceu a esperança!

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