SERVIÇO COMPLETO
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado na UERJ e Conselheiro da ESG.
Artigo publicado em 16/12/2004 no Monitor Mercantil.
Em uma análise rápida sobre a composição dos quadros dirigentes do segmento público da expressão econômica do Poder Nacional, verificamos, com preocupação, mas não com surpresa, que a maioria deles possui origem em grandes grupos multinacionais, principalmente de origem estrangeira, do segmento financeiro internacional e nacional. Ou então de colaboradores que, no passado, combatiam a entrega do país ao capitalismo apátrida e, hoje, docemente constrangidos, como cristãos novos, são os mais fervorosos defensores de tal postura. É de estarrecer a desfaçatez com que defendem teses combatidas por eles antigamente, com fervor religioso, com fortes motivações "verdes".
E o mesmo panorama repete-se em outras expressões do Poder Nacional, a exemplo da administração anterior. Os "donos do mundo" continuam a impor seus objetivos à Nação brasileira, por intermédio de seus prepostos diretos e indiretos. É com pesar que constatamos o progressivo retorno do Brasil à condição de Nação extratora de matérias primas, destinado a vender, por preços vis, seus recursos naturais não renováveis e a comprar, por preços cada vez mais elevados, bens de elevado valor agregado, bem como a tecnologia indispensável à retomada do processo de Desenvolvimento Nacional.
Na expressão política são assinados acordos internacionais com diversos paises, na maior parte lesivos aos interesses nacionais. Até a China consegue impor ao Brasil um inacreditável reconhecimento do seu sistema como "economia de mercado", o que não corresponde à realidade, além dos aspectos levantados pela FIESP sobre o risco futuro da invasão do nosso mercado por bens produzidos por aquele país, a menor custo, devido às condições peculiares de sua organização econômica. O acordo com a Ucrânia é emblemático. Não aceitamos o proposto pelos EUA, em função de razões óbvias, e assinamos algo bastante semelhante. Acontece que a Ucrânia está dividida em duas fortes correntes. Uma delas ligada aos EUA e outra à Rússia. Caso vença a pró-EUA, teremos uma situação recorrente.
O Poder Judiciário é submetido a uma brutal intervenção do Poder Executivo, não só pela indicação dos integrantes das suas mais altas Cortes, como também pela abusiva imposição do abominável controle externo. O Legislativo limita-se a aprovar absurdas propostas oriundas do Executivo, como o recente estatuto do desarmamento do cidadão e a "promoção" a ministro do presidente do Banco Central.
A maioria das leis aprovada causa crescentes danos a direitos adquiridos e a ferem cláusulas pétreas da Constituição, provocando danos irreparáveis ao povo brasileiro. Não se pensa no Bem Comum, mas, numa ótica egoísta, apenas ao interesse particular de cada um.
E alguns ainda surpreendem-se ao saber que 54,7% da população da América Latina expressa a disposição de apoiar um governo autoritário que resolvesse os problemas do país, bem como cerca de 80% dos entrevistados reconhecem que o poder de fato é exercido pelos grandes grupos econômicos e 65% apontam os meios de comunicação.Trata-se da constatação da realidade. A administração Lula persiste na utópica pretensão de obter um lugar no Conselho de Segurança da ONU, apesar de não ter Forças Armadas a altura da estatura político-estratégica do Brasil, nem condições objetivas para ocupar posto de tal relevância. Uma administração que não consegue sequer equacionar seus graves problemas internos, aventura-se a tentar resolver os difíceis problemas do Haiti, com a certeza de que não conseguirá, como poderá pretender participar do processo decisório mundial?
A violência vivenciada pela população brasileira, em especial no Rio de Janeiro, nada fica a dever à existente no Haiti. O estranho emprego de policiais integrantes da nova força nacional de segurança pública, constituída por policiais militares de diversos Estados, comandada pelo ministério da Justiça, apesar de as polícias militares serem forças auxiliares das Forças Armadas, e ainda mais com equipamentos, até uniformes, semelhantes aos das Forças Especiais militares, traz mais confusão à já conturbada mente dos brasileiros. O que as autoridades estão esperando para tentar minorar o sofrimento da população fluminense, ao invés de procurar solucionar os do Haiti? Que tal começar a desarmar os marginais, ao invés de perseguir os cidadãos de bem?
O Brasil e seu povo merecem uma classe dirigente bem melhor do que a atual, encastelada no poder há dez anos, configurando uma perpetuação no poder de representantes do sistema financeiro internacional, independentemente de partidos, que fingem fazer oposição uns aos outros, enganando o povo, pois servem aos mesmos senhores.
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