SEM OPÇÃO

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo escrito em 09.09.2004 no Monitor Mercantil.

 

       Analisando a conjuntura brasileira, verificamos, com preocupação, a polarização encontrada, em especial no emblemático município de São Paulo, entre a candidata do PT e o candidato do PSDB. Isto projeta uma tendência que pode ser repetida nas eleições de 2006, onde o eleitor será obrigado, possivelmente, a fazer a escolha entre seis e meia dúzia. Ora, assessores do ex-presidente FHC anunciavam que possuíam um projeto de poder por 20 anos. Ficaram oito anos e acabaram propiciando indiretamente a eleição do atual presidente Lula, cujos partidários também possuem um projeto de permanência no poder por 20 anos. Inclusive, já discutem o nome mais representativo para as eleições de 2010, pois consideram certa a reeleição de Lula em 2006.

       A atual administração Lula continua a adotar as mesmas medidas empregadas por FHC, até com maior ênfase, cumprindo fielmente o receituário imposto pelo FMI. Até propostas encaminhadas pela antiga administração FHC, rejeitadas anteriormente pelo Congresso, estão sendo bem sucedidas agora. A absurda e inconstitucional taxação dos inativos é aprovada, no bojo da famigerada "reforma da previdência", institucionalizada com o aval de sete ministros do Supremo Tribunal Federal. O absurdo "estatuto do desarmamento", também rejeitado no período anterior, foi imposto por acordo de lideranças, sem votação em plenário. Agora a meta é aprovar a suspeita PPPs (Parcerias Público Privadas). E, a seguir, as reformas trabalhista, sindical e do Judiciário.

       No regime democrático, existe a premissa de que o eleitorado possa escolher entre as diversas opções ideológicas, reelegendo os detentores do poder político, caso esteja satisfeito, ou alijando-os do poder, através do voto na oposição, no caso de estarem satisfeitos. Infelizmente, no Brasil de hoje isto é impossível. Isto porque a pretensa oposição ao PT é exercida pelo PSDB, principalmente. E o PT no poder é "mais do mesmo" do PSDB. Qual a diferença? O sistema financeiro internacional continua a mandar no país. A atividade improdutiva continua a ser mais interessante do que a produtiva. O país continua sem projeto e o PIB continua a cair na comparação mundial, ameaçando perder a 15ª colocação, quando já ocupou a 8ª posição, não há tanto tempo atrás.

       Absurdos inacreditáveis continuam a ser perpetrados contra o sofrido povo brasileiro. O mais recente é a tentativa de reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. Todos querem a perpetuação no poder. E, agora, o ministro  da (In)justiça pretende restringir a aplicação da legislação sobre os crimes hediondos. Segundo especialistas no assunto, isto ocasionará, somente no Rio de Janeiro, a libertação imediata de cerca de 4.500 condenados, egressos do tráfico, possíveis soldados a serem recrutados pelos "barões do crime organizado", e número semelhante de assaltantes, estupradores, homicidas, praticantes eméritos de latrocínios  e outras "amenidades". E depois vão reclamar que a violência está aumentando e partirão para criar o novo "estatuto do desarmamento", agora direcionado às facas de cozinha. A saída parece ser sair imediatamente do Rio.

       Porém, ir para o campo é outra temeridade. A ação do MST e congêneres, além de predatória, irresponsável, sem limites, acima da lei e da ordem, desestimula a intenção. Mudar-se para outras cidades menos atingidas pela violência representa solução temporária. Continuando a situação como está, sem solução, progressivamente todas elas irão também ser atingidas. É uma questão de tempo.

       A solução, se é que ainda é possível, passa pelo restabelecimento da autoridade, pelo combate sem tréguas ao crime em todas as esferas, da favela ao asfalto, pela cassação de políticos e altas autoridades envolvidas, com confisco do patrimônio irregularmente acumulado. Basta conferir as declarações do imposto de renda e compará-las com os sinais de ostentação de riqueza, para identificar os infratores e proceder às punições devidas. O problema principal é saber quem vai cumprir a missão.

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