SEM LEI E SEM ORDEM-II

Artigo publicado em 29.04.2004 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado  na UERJ e Conselheiro da ESG.

       Pesquisas do Programa Nacional das Nações Unidas (PNUD) constatam que 54,7% da opinião pública na América Latina aceitam trocar a democracia por um regime autoritário de governo capaz de resolver problemas econômicos. No Brasil, apenas 30,6% afirmam ser democratas e 27% afirmam que não são. 42,4% esposam a ambivalência, ou seja, aceitam a democracia, mas defendem um presidencialismo forte. A leitura feita dos dados desta pesquisa indica que a população consultada percebe a apropriação dos efeitos positivos da adoção do regime democrático no país para a classe política e para alguns poucos privilegiados de elites espoliadoras e do segmento financeiro nacional e internacional. Não para a massa da população. Para ela sobram as conseqüências negativas. Recessão, desemprego, queda na renda real, decadência dos serviços públicos de saúde, educação, segurança, transportes, energia, comunicações, abastecimento de água e saneamento e outras. Este é o fato. Na realidade, o povo começa a perceber que vive numa falsa democracia de interesse de uma minoria. No Brasil, uma única rede de comunicação comanda a audiência, procedendo a uma verdadeira lavagem cerebral das categorias menos esclarecidas, financiada pelos "donos do mundo" e apoiada por ONGs, algumas verdadeiros instrumentos dos centros econômicos decisórios de poder (EUA, Japão e Alemanha), conseguindo eleger candidatos a postos eletivos, do interesse dos seus "patrões", com a cumplicidade do famigerado "voto eletrônico".

       A adoção das medidas impostas pelo FMI está levando o povo brasileiro ao desespero. É impossível persistir com esta crueldade por mais tempo. O preço pago para fazer a alegria dos banqueiros e das 5.000 famílias donas do país é este. Até o desencanto com a democracia. E este processo agravou-se sobremodo com o desastre  experimentado pelo Brasil em especial nas duas administrações FHC e no seu prolongamento míope, a atual administração Lula. Não há projeto definido de desenvolvimento ou segurança. Inexiste administração eficaz na União e na maioria dos Estados e Municípios. O desemprego volta a ultrapassar 20% da população economicamente ativa, em SP, de acordo com o DIEESE, mostrando a dura realidade de mais de 2 milhões de desempregados somente na grande São Paulo. Enquanto o Brasil manda força de paz para ajudar a salvar o Haiti, a mesma ajuda é negada ao Rio de Janeiro ou aos proprietários de terras produtivas acuados por invasões sucessivas do MST e de outras organizações similares. Até nas cidades começam a surgir movimentos semelhantes, iniciando também a ocupação de próprios públicos e de propriedade privada. Falece a autoridade e impera o caos e a anarquia.

       O secretário nacional dos direitos humanos, Sr. Nilmário Miranda, profere mais uma declaração infeliz ao defender a descriminalização da droga. Como cidadão, ele tem o direito de possuir sua opinião particular, mas não na qualidade de autoridade. A responsabilidade de tal abordagem é muito séria. E as conseqüências provenientes da possível implementação de tamanha sandice? O Brasil não possui infelizmente condições de atender a todos os dependentes químicos. A partir daí os traficantes dificilmente serão presos, pois passarão a ser enquadrados como usuários. A tragédia havida na reserva Roosevelt continua a assombrar o país. O Bispo de Ji-Paraná, Dom Antonio Possomai, acusou a FUNAI de permitir o uso de sua pista de pouso na citada reserva por contrabandistas de diamantes. O cacique Pio cinta-larga e o chefe de um  grupo de guerreiros cinta-larga, Daniel cinta-larga, reconheceram que os índios comandados por eles massacraram os 29 garimpeiros chacinados. Eles são os felizes proprietários de mansões e de caminhonetes MITSUBISHI, de luxo. Pio já teve pedido de prisão preventiva decretado  duas vezes em 2 processos na Justiça Federal. Ele é acusado de formação de quadrilha, extração ilegal de diamante e de ser integrante da organização do empresário Marcos Glicka, preso no fim do ano passado depois de ser identificado como um dos maiores contrabandistas do diamante produzido na reserva Roosevelt e enviado ao exterior. As denominadas "terras indígenas" já abrangem 12% do território nacional, por coincidência situadas  em regiões ricas em minérios raros, pedras e metais preciosos.

       Uma ONG, a FASE, com sede no Rio de Janeiro, em Botafogo, chefiada por padres estrangeiros, mas com sucursal na Amazônia, recebe como doação do IBAMA, milhares de toras de madeira nobre. Em seguida, vende a riqueza para uma empresa multinacional, por preço modesto, subfaturado segundo especialistas, que a revende para o exterior. O IBAMA defende o procedimento, apesar de a multinacional estar inscrita no cadastro de devedores do INSS, além de já ter sido multada por agressão ao meio ambiente, apesar de possuir inexplicavelmente o "selo verde". Por coincidência, a FASE na região amazônica é comandada por um padre holandês. Os recursos da venda da madeira nobre estão aplicados, rendendo juros, apesar de ter a destinação obrigatória para obras sociais. De fato, a atuação das ONGs no Brasil merece uma fiscalização mais severa, principalmente no tocante aos aspectos financeiros. Há uma aliança perversa entre algumas delas, alguns órgãos do governo e poderosos grupos econômicos estrangeiros e nacionais. Algumas ONGs  possuem até emissoras de rádio e programas pagos de televisão.

       Até  o presidente do STF alerta às demais autoridades para a gravidade da situação. 16 meses do mandato do presidente Lula transcorreram. Faltam 32 meses para o fim do desgoverno. E o panorama é triste. As próximas eleições de outubro demonstrarão a repercussão no eleitorado brasileiro dos resultados iniciais de mais de 1/3  da administração Lula. Será um teste decisivo para 2006. O grande problema é saber quem será o verdadeiro opositor do PT. Em 2002, Serra representava a continuação de FHC, fundador e atual vice-presidente do Diálogo Interamericano. Lula e Ciro Gomes também foram membros do citado Diálogo, bem como o presidente do BACEN, Sr. Henrique Meirelles. O ex-governador Garotinho pertence a uma organização internacional de empresários evangélicos.

       Quem poderá ser o real oponente, com chances de vitória, ao Sistema dominante, com seu poder de apresentar três candidatos à presidência da República, todos eles comprometidos com os objetivos dos "donos do mundo"?

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