SEM ESPERANÇA
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
Artigo publicado em 30.08.2007 no Monitor Mercantil.
O Brasil sofre uma das mais sérias crises de sua história, nas cinco expressões do Poder Nacional. Em uma rápida análise, identificamos vulnerabilidades extremamente perigosas, configurando óbices capazes de impedir a consecução dos Objetivos Nacionais Permanentes.
Na expressão econômica, verificamos a existência de uma significativa dependência ao exterior, fruto de equivocadas ações econômicas preconizadas pelos "donos do mundo", através de seus instrumentos de ação. Imposições draconianas são exigidas, como as reformas da previdência, tributária, trabalhista e outras. As conseqüências são benéficas apenas para os rentistas, em especial os estrangeiros, e maléficas para a população brasileira, ocasionando desemprego, miséria, exclusão social e desesperança. 45% da população economicamente ativa (PEA) estão fora do mercado formal de trabalho. Ingressam anualmente mais de três milhões de pessoas no mercado de trabalho e o sistema mal oferece pouco mais de um milhão de vagas para absorvê-los. Existe também em torno de 12 milhões de desempregados, além do fato de 1/3 da PEA estar ou desempregada ou subempregada.
Na expressão psicossocial, um claro domínio do sistema financeiro internacional e nacional sobre os meios de comunicação de massa, com o crescimento da mídia amestrada, capaz de fazer a "cabeça" do povo, influenciando decisivamente corações e mentes, omitindo, desinformando e distorcendo a verdade. A saúde pública em franco processo de decadência e a educação pública em crescente deterioração. A previdência pública sendo estuprada, com a imposição de cobrança aos inativos. Os direitos trabalhistas sendo extintos progressivamente. A segurança pública em estado caótico, trazendo a angústia, o pânico e o desespero a milhões de brasileiros. E uma persistente campanha de desmoralização das Instituições Nacionais e de nossos princípios e valores morais e éticos.
Na expressão política, a vã ilusão de que vivemos em uma democracia. Ora, o regime político democrático baseia-se justamente na independência e na existência de freios e contrapesos entre os três Poderes, o que decididamente não é praticado no Brasil. No Executivo, há a proliferação da nomeação de membros do partido do presidente para milhares de "boquinhas", abrangendo até cargos de ministros para candidatos derrotados no país inteiro, de sofrível desempenho em seus campos de atuação, gerando uma imagem generalizada de incompetência.
No Legislativo, a progressiva cooptação de partidos políticos sem princípios e de dezenas de congressistas apenas interessados em seus pleitos pessoais, sem a mínima preocupação com os superiores anseios nacionais. Chega a ser deprimente presenciar a vergonhosa mudança repentina de opinião, no relativo a matérias de relevância nacional.
No Judiciário, a nomeação de ministros do Supremo Tribunal Federal diretamente por indicação do presidente da República. Isto é legal, mas representa uma inacreditável ingerência de um Poder no outro. E um processo eleitoral refém do poder econômico, financiador da mídia amestrada e de institutos de pesquisa de opinião, além do suspeito "voto eletrônico".
Na expressão militar, o planejado esvaziamento das forças singulares, por intermédio da progressiva supressão de verbas orçamentárias, capazes de assegurar sua capacidade operacional, a altura da importância estratégica do Brasil, a fim de permitir-lhes o cumprimento de suas atribuições constitucionais. Apenas 1,7% do PIB é destinado a elas, enquanto a média mundial é de cerca de 3,5%. Progressivamente, as Forças Armadas vão sendo esvaziadas, com a extirpação de órgãos importantes, como, por exemplo, na FAB, ocorreu, com a retirada da Infraero e DAC, com suas funestas conseqüências. O ministério da Defesa foi criado por imposição externa e até hoje não teve um especialista para comandá-lo. Foram nomeados apenas civis sem conhecimento do assunto, incapazes de compreender a importância da atuação das Forças Armadas no processo de desenvolvimento do país. Fica a nítida sensação de tentativa de punição dos militares, por revanchismo idiota, sem a preocupação com o futuro do Brasil.
Na expressão científica e tecnológica, o insuficiente aporte de recursos para pesquisa e desenvolvimento, bem como a falta de ambiência, caracterizada pelo pequeno número de Instituições capazes de produzir invenções e a castração da possibilidade de realização de pesquisas em áreas estratégicas, por imposição externa.
O Supremo Tribunal Federal (STF) julga o recebimento das denúncias feitas pelo Procurador-Geral da República, Antonio Fernando de Souza, a respeito do “mensalão”. Todos os acusados passaram à condição de réus. Fica a impressão para a opinião pública que, enfim, a justiça será feita e os infratores punidos. Porém, consultando especialistas da área jurídica, soubemos que, na prática, dificilmente alguém será penalizado, pois com a demora dos procedimentos adotados, o tempo médio de duração do processo será de dez anos, ocasionando assim a prescrição da maioria dos delitos. O correto seria a designação de juízes na esfera adequada para proceder à oitiva das testemunhas, para agilizar o andamento da instrução. O relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, enfatiza que “a sofisticada organização criminosa” prosperou não só no PT, como também no PSDB e em praticamente todos os demais partidos participantes da base governista.
Como então ter esperança de que o panorama vai melhorar para o nosso sofrido povo? Até 2010 vai permanecer isto que está aí. Nas eleições presidenciais quais serão os candidatos? Um grupo expressivo ligado ao Planalto defende a mudança na Constituição para permitir um terceiro mandato para Lula. Com o bolsa família em crescimento e mais algumas medidas clientelistas e assistencialistas a serem implementadas, ele será invencível. Caso não obtenham sucesso, elegerão um títere pertencente ao PT ou a um partido aliado, para permitir o retorno de Lula em 2014. Não há perspectiva de surgimento de um candidato sequer de verdadeira oposição, com possibilidade de sucesso eleitoral. Até onde irá a paciência do povo brasileiro?
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