RISCO DE NOVO RACIONAMENTO

Artigo publicado em 17.10.2002 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

              O país encontra-se anestesiado pela realização do 2º turno das eleições e, aparentemente, esqueceu o risco de enfrentar um novo racionamento, proximamente. Inclusive, os dois candidatos praticamente ignoraram o problema em seus respectivos pronunciamentos. E nenhuma economia do mundo cresce, sem o respaldo de uma sólida infra-estrutura, em especial da energética.

              É de estarrecer a falta de vergonha das "autoridades", principais responsáveis pela caótica situação vivenciada pela já sofrida população brasileira. Inicialmente optaram por colocar a culpa em São Pedro e eximir-se de qualquer responsabilidade. Depois, perceberam que era inútil procurar continuar a enganar o povo e assumiram parte da irresponsabilidade cometida. O grupo constituído pela administração FHC estava sendo presidido pelo ex-funcionário do FMI, Sr. Pedro Parente. Ora, qualquer cidadão informado sabe que  sempre sobrou energia,  no Sul e no Norte e que o terceiro "linhão" de Itaipu ainda não foi construído por descaso das autoridades.  O ex-diretor do Banco Mundial, Sr. Pedro Malan, foi o (ir)responsável que proibiu o investimento na geração e transmissão de energia, nestes mais de sete anos, o qual deveria ter sido concretizado na época certa, justamente para evitar mais esta tortura imposta à população brasileira, em função do acordo firmado com o FMI, pois este órgão considera o investimento, mesmo em infra-estrutura,  com financiamento público, como componente do déficit. 

              O "plano" foi imposto goela abaixo do povo, com características do mais puro requinte de sadismo, atingindo em especial a classe média, alvo predileto sempre.  Eles são os culpados, mas quem vai continuar a  cumprir a pena é o cidadão, honesto, digno e de bons costumes, que paga suas contas, inclusive a de energia, em dia. E eles próprios é que estipulam as penalidades. De início, o limite inferior de 100 kwh era ridículo, pois representava um consumo mínimo de sobrevivência

E o interessante é que o generoso povo brasileiro mostrou-se disposto a colaborar, racionalizando seu parco consumo (seis vezes menos do que um americano médio, pois estamos no 81° lugar em consumo de energia per capita do mundo), porém desconfiou, com toda razão de que algo estava errado. Parece evidente que a mídia amestrada, manipulada pelos irresponsáveis que detém o poder político no país, procurou disseminar o pânico na população, para prepará-la para suportar desafios impensáveis, até pouco tempo atrás. De fato, como a CPMF, as multas cobradas dificilmente serão abandonadas no decorrer do tempo. Estão "dolarizando" as tarifas de energia para impor a mudança da matriz energética brasileira com o aumento de participação das termelétricas. Como o investidor estrangeiro só investirá na certa, para obter lucros vultosos, é vital para eles "dolarizar" as tarifas, viabilizando, por exemplo, a importação de gás natural da Bolívia. Fica a sensação de que, por mais esforços que a população realize, eles serão considerados insuficientes. Até  lucros cessantes estão sendo repassados aos consumidores. E fica a pergunta: onde está o cronograma de investimentos na geração e transmissão de energia para resolução do problema? Quais foram as providências efetivas adotadas para que o mal não se repita? Qual a segurança proporcionada ao povo, por que  deveria atendê-lo?

              O grande pensador português, Prof. Boaventura Santos, já declarou que não entendia como o povo brasileiro suportava as agruras a que está sendo submetido, sem reação, mostrando sua perplexidade com o conformismo de nossa gente. Nunca  o povo tupiniquim sofreu tanto. E quem trabalha está inseguro. Não sabe até quando vai conservar o trabalho. A angústia é crescente. A cada momento são imaginadas novas maldades para subtrair direitos dos trabalhadores. A administração FHC não desistiu ainda em eliminar direitos trabalhistas adquiridos. Tudo com o objetivo principal de aumentar o lucro das empresas e a receita do setor público, diminuindo o estipêndio dos trabalhadores, pensionistas e aposentados. Os preços são brutalmente elevados. Medicamentos, combustíveis, tarifas públicas, pedágios. Tudo aumenta. E os índices oficiais de inflação não refletem a realidade diária.

Resta saber até quando o paciente povo brasileiro agüentará este festival de incapacidade, fracasso, irresponsabilidade, entreguismo e corrupção da atual administração. Afinal, de acordo com a Constituição, prevaricação é crime. E os (ir)responsáveis deverão ser punidos com os rigores da lei. O que os candidatos têm a dizer sobre o problema energéico?

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