RESULTADO SUSPEITO

 

Artigo publicado em 10.2002 no Ombro a Ombro.

       O Brasil é o primeiro país do mundo a ter 100% dos eleitores votando em um processo totalmente informatizado, em todas as fases,  desde o cadastro dos eleitores até a totalização dos votos para divulgação pela Internet. E é um dos poucos países que usa o denominado sistema de urna eletrônica. As nações mais adiantadas do mundo não utilizam tal processo e, recentemente, vimos na França e na Alemanha a votação na tradicional urna, de modo seguro, eficaz e rápido. As autoridades dos EUA chegaram a estudar a viabilidade de sua implantação nas eleições norte-americanas, mas não a adotaram. E aí fica a pergunta inicial: Por Que? Será que somos tão mais avançados do que outros povos?

       As eleições no Brasil já são seriamente comprometidas pelo abuso do poder econômico efetuado pelos financiadores de campanhas milionárias que, além de sustentar comitês, cabos eleitorais e propagandas suntuosas, ainda persuadem os meios de comunicação e os principais formadores de opinião, levando os eleitores ao pensamento quase único. Isto tudo aliado à ação dos institutos de pesquisa, regiamente pagos pelas mesmas pessoas, transforma os pleitos eleitorais em jogos de cartas marcadas.

       E agora, para agravar a situação, temos que acreditar na lisura do processo de apuração das eleições de 2002, sabendo-se que não há possibilidade de recontagem dos votos, nem meios técnicos satisfatórios para possibilitar o exame da integridade dos programas. O código do sistema operacional virtuOS foi oferecido para ser visto e analisado por três dias, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desde que os técnicos dos partidos pagassem R$ 250.000,00 à empresa proprietária do programa. Nenhum partido pagou e assim ninguém teve acesso ao conteúdo instalado em cerca de 360.000 urnas eletrônicas. As demais, em torno de 50.000 urnas, possuem outro sistema operacional, o Windows CE que, apesar de ter seu código aberto aos fiscais, com seus mais de 600 programas e 2.000.000 de linhas de código, não teve sequer 1% do seu conteúdo analisado pelos partidos políticos, nos cinco dias em que ficaram disponíveis.

       Segundo o Prof. Amílcar Brunazo Filho, moderador do Fórum do Voto Eletrônico, os técnicos que estiveram presentes à apresentação mencionada acima, mesmo os que manifestaram confiança no sistema, declararam que, em cinco dias é impossível se avaliar o sistema por inteiro. Os técnicos da UNICAMP não aceitaram a tarefa de avaliar o sistema de 2002, devido justamente a essa escassez de tempo. E ainda, segundo o citado professor, como confiar em um sistema eleitoral que não passa por auditoria externa independente, nem permite conferência na apuração? A única garantia dada é a palavra do presidente do TSE, amigo pessoal e compadre do candidato governista, nomeado pelo atual presidente FHC, o que, é muito pouco. E a mídia amestrada divulga uma série de mentiras, tais como: todos os programas da urna são analisados pelos partidos políticos; violar a urna eletrônica é impossível sem romper seus lacres; a rede de computadores do TSE é à prova de invasões; a zerézima garante que a urna eletrônica está vazia antes da votação ter início. Zerézima é um neologismo criado pelo TSE para designar o relatório impresso pela urna eletrônica, no início do processo de votação, onde o nome de cada candidato aparece como tendo zero votos. Ora, qualquer programador de computador sabe que é possível se imprimir uma coisa e guardar outra coisa na memória do computador, bem como começar o processo de votação e apuração com zero votos para todos os candidatos e depois ir desviando uma porcentagem dos votos conforme estes forem sendo colhidos.

       Este artigo está sendo escrito antes das eleições, mas será lido após o resultado. Assim, escrevemos sem saber o que acontecerá, porém externamos nossa preocupação com o processo eleitoral em vigor no país. Conclamamos a todos os brasileiros que permaneçam vigilantes, acompanhando os acontecimentos, para não serem enganados mais uma vez. E que, nas próximas eleições, haja um sistema mais transparente, capaz de possibilitar a apuração em paralelo, através da impressão dos votos, a serem depositados em urnas nas seções eleitorais.   

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

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