REALIDADE OU FICÇÃO

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 24.07.2003 no Monitor Mercantil.

 

       Vamos adentrar o terreno da ficção. Imaginemos a seguinte estória. Uma cidadã brasileira, casada com um funcionário do Banco Central, é herdeira de uma fazenda no interior da Bahia, produtiva e capaz de gerar lucros razoáveis. Como há muito tempo não ia ao local, resolveu convidar o marido para acompanhá-la. O mesmo não pode, em virtude de razões profissionais, e a dona da propriedade resolveu convidar uma amiga para a viagem. Chegando a Salvador, foi recebida no aeroporto pelo gerente da fazenda, seguindo o destino por rodovia. Alcançaram a casa principal já de noite, cansados,  e, após uma breve arrumação, prepararam uma refeição, a fim de dormirem para iniciar a inspeção no dia seguinte. Começaram a ouvir ruídos de pessoas andando na varanda, mas pensaram que seria fantasia. Afinal, a casa tinha sido construída para resistir a invasões, com a estrutura interna das paredes constituída de metal e a porta principal de madeira nobre, antiga, da época do seu avô. Contudo, os ruídos continuaram. Assustada, a senhora ligou para a polícia, usando o chamado telefone rural, com ligação diretamente ao satélite, sem fios em postes, solicitando socorro, tendo recebido a informação de que a viatura disponível não estava com combustível e, desta forma, nada poderia ser feito.

 Diante do insucesso, ligou para o marido, que estava no Rio de Janeiro, implorando auxílio, pois o mesmo é bem relacionado. Os invasores percebem os telefonemas e começam a atirar nas janelas e portas. Desesperados, os três refugiam-se no banheiro e trancam a porta, por julgarem que seria mais seguro. Os atacantes começam a forçar a porta principal, usando aríetes de madeira e pedra, além de tiros. A porta não resiste. Eles entram na casa e descobrem que os ocupantes estão no banheiro. Atiram na porta, impondo a rendição. Acuados, os três resolvem, para salvar suas vidas, entregar-se aos bandidos. Eram seis homens liderados por um negro alto, chamado pelos outros de "João Canibal". Imediatamente, João agarra a proprietária e grita: "Esta é minha! Ninguém toca!". Amarram e amordaçam o gerente e jogam-no no banheiro. João estupra a proprietária e os outros cinco violentam a amiga. A seguir, roubam todos os pertences de valor, inclusive armas de fogo, existentes na casa e forçam as duas mulheres a dirigirem-se  para o utilitário da fazenda para ir a bancos, sacar dinheiro. Neste instante, chega a polícia militar, acionada por autoridade estadual, pressionada pelo marido da proprietária. Os marginais fogem e a polícia não consegue capturá-los.

As duas senhoras ficaram em estado de choque. Foram levadas ao hospital e daí para a delegacia. Retornam, tão logo quanto  possível, ao Rio. Uma semana depois, recebem um telefonema da polícia, relatando que "João Canibal", que seria um dos líderes principais de um movimento de sem-terras da região, havia sido preso com mais dois comparsas, ao tentar assaltar uma agência bancária em cidade próxima. Com ele foram apreendidas, dentre outras,  inclusive armas roubadas da fazenda. Os outros três meliantes fugiram. E, agora, o que fazer? Com medo das conseqüências, decidem nada fazer. E, agora? Infelizmente esta estória não é ficção. Representa a dura e perversa realidade do interior do país. A anarquia instalou-se no campo. E, agora, começa a ganhar força na cidade, com a invasão de quatro prédios no centro de São Paulo, inclusive o ex-Hotel Danúbio, agora de posse de uma empresa particular de ensino.

       O que virá depois? O estado de anomia domina  praticamente todas as autoridades. Quase todos têm medo de cumprir suas respectivas missões. O direito de propriedade parece estar sendo extinto no país. A mídia amestrada não divulga nem um décimo daquilo que sabe. Está fascinada com a idéia de proibir a posse e o porte de armas de fogo pelos cidadãos. Não é por acaso que o relator da matéria da comissão especial do Congresso foi advogado dos seqüestradores do empresário Abílio Diniz.  Denunciam o fantasioso  "lobby" das indústrias de arma numa campanha inexistente contra os hoplófobos. Na realidade, todos estão se perguntando de onde são provenientes os vultosos recursos que financiam justamente a campanha pelo desarmamento da população digna. Como por um passe de mágica, os principais apresentadores, ao mesmo tempo, tentam convencer a opinião pública, através da opinião publicada, que para acabar com a violência é necessário tirar a arma do cidadão, apesar de saberem que não é verdade, pois andam em carros blindados, protegidos por ferozes seguranças. Ora, se fosse assim, o Rio de Janeiro, seria uma ilha de paz no Brasil. Afinal, somente foram emitidos no corrente ano cerca de 100 portes de arma pelas autoridades estaduais e estas criam dificuldades a cada dia, monetárias e burocráticas, objetivando desestimular o cidadão, que paga os impostos e os sustentam, a possuir armas de fogo. Parecem que querem facilitar o ofício dos marginais, que continuam a roubar, matar e estuprar, usando suas AR-15, granadas e M-16.

       E o pior. Ao invés de aplicarem os 36% de carga tributária sobre o Produto Interno Bruto em investimentos na infra-estrutura econômico-social, para gerar empregos, melhorar as condições de vida justamente dos excluídos, dirigem estes recursos, quando não são desviados, para o pagamento de juros da dívida, fazendo a alegria dos banqueiros. Aplicam as recomendações do FMI, impondo à Sociedade Brasileira um modelo econômico recessivo, contracionista, capaz de agravar a grave situação atual. Apresentam como solução a cassação de direitos adquiridos duramente pelos trabalhadores, ao longo de décadas. Na realidade, não querem a justiça social. Desejam apenas aumentar a receita e diminuir as despesas, para sobrar mais para o pagamento de juros e de benesses para os apaniguados.

       Basta de fazerem pouco da inteligência e da capacidade de luta do povo brasileiro. Nenhum congressista foi eleito para legislar contra o povo, a favor dos marginais. Ninguém possui autoridade para tirar do brasileiro seu direito natural de legítima defesa.

Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br

Sítio: www.brasilsoberano.com.br