QUESTÕES RELEVANTES
Artigo publicado em 08.2002 no Ombro a Ombro.
Prof. Marcos Coimbra
Professor
Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e
Conselheiro da ESG.
A campanha presidencial está nas ruas. A imprensa amestrada anuncia, todos os dias, as idéias dos denominados quatro candidatos principais à presidência da República, escolhidos a dedo pelos “donos do sistema financeiro internacional”. Nenhum deles oferece qualquer risco aos milhares de privilegiados que auferem bilhões de dólares anualmente, explorando bilhões de seres humanos. Analisando-se o discurso de cada um, verifica-se sua superficialidade, a ausência do trato das grandes questões que afligem países menos desenvolvidos, como o Brasil.
De início, o enfrentamento do perverso mecanismo de transferência de renda dos países mais pobres para os países mais ricos, feito de diversas formas. Dentre elas, a mais comum, através do índice de relação de trocas (índice de preços de exportação/índice de preços de importação), que penaliza os países menos desenvolvidos, pois aquilo que exportam fica mais barato a cada dia, enquanto aumenta o preço no mercado internacional daquilo comprado. Os países mais desenvolvidos dedicam-se à produção de bens de alto valor agregado (tecnologia intensiva), forçando os menos desenvolvidos a vender bens primários, cada vez mais dependentes do “know-how” alienígena. E isto se sabendo que os recursos naturais são escassos, devendo provocar até guerras em curto ou médio espaço de tempo.
Outro instrumento utilizado é feito com a realização de empréstimos aos países mais pobres, com a cobrança de juros extorsivos, resultando na remessa de vultosas importâncias, drenando recursos crescentes dos já frágeis países menos desenvolvidos. Outro mecanismo resulta do processo de privatização imposto pelos organismos internacionais, que provocará o aumento do envio de lucros, dividendos, “royalties”. E com a destruição da indústria nacional, dispara o pagamento de transportes (fretes e afretamentos). Nenhum dos candidatos possui a coragem de sequer abordar a questão.
Sem resolver o problema de relações com o exterior, os outros não serão resolvidos, isto porque nada se faz sem dinheiro. E os recursos enviados para o exterior fazem falta internamente. A seguir, surgem os desafios internos. Miséria, exclusão social, violência, desemprego, concentração de renda, corrupção, energia, saúde, educação, transportes, comunicações, insegurança e outros. Estudando-se os “programas” dos quatro principais candidatos, observamos a falta de consistência macroeconômica das propostas. Um deles promete fazer crescer o Produto Interno Bruto (PIB) a 5% ao ano. Porém não explica como fazer. O atual nível da taxa de formação bruta de capital fixo (investimentos) em torno de 18% do PIB. Já inviabiliza a meta. Isto sem falar do nó energético. É necessário investir R$ 10 bilhões ao ano, durante no mínimo quaro anos, para que haja energia suficiente para manter um ritmo de crescimento de 5% do PIB ao ano.
Urge proceder a uma reforma tributária tributária capaz de fazer o setor público poupador positivo, a fim de que a taxa de investimentos volte a 25% do PIB, para que o Brasil retorne a crescer a 7% ao ano. Com o fortalecimento do Estado, este deverá investir maciçamente na infra-estrutura econômico-social para alavancar o processo de desenvolvimento econômico-social. E quais são as soluções propostas pelos quatro candidatos para resolver estas questões? Eles não as possuem, porque as soluções contrariam a lógica do sistema. E todos eles pertencem ao sistema.
E o Brasil? Terá que aguardar até 2006, caso nosso povo sobreviva.
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.
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