QUALIDADE DE VIDA
Prof
. Marcos Coimbra
Professor
Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor
na UERJ e Conselheiro da ESG.

ARTIGO ESCRITO EM 03/2006  PARA O VILA EM FOCO.

 Recentes acontecimentos levam-nos a refletir sobre o modo como o povo
brasileiro sobrevive, nos dias de hoje. Partindo a análise da Instituição
Família, não é difícil realizar um diagnóstico. Extremamente fragilizada,
ela é, de início, enfraquecida por atravessar uma fase de transiência, onde
os valores de gerações anteriores foram abandonados e não foram erigidos
valores novos em sua substituição. Em especial, os jovens são expostos desde
cedo a agressões do cotidiano, sejam elas reais ou virtuais. As reais
principiam pelas conseqüências perversas do processo de globalização em
curso, caracterizado ela exclusão social, pelo desemprego, pela implantação
do capitalismo selvagem, pela miséria, pela perda do referencial moral e
ético. As virtuais, representadas pelo avanço das comunicações, apresentam,
além do tão decantado lado positivo, de democratização à informação, também
seu lado negativo, com a exposição de mentes sem maturidade ainda, a uma
quantidade vultosa  de informações, muitas vezes de qualidade perniciosa.
 Primeiro, é muito difícil conseguir um trabalho decente, capaz de
proporcionar uma vida digna a todos os integrantes do núcleo familiar.
Geralmente, em toda unidade familiar existe pelo menos um desempregado, em
busca de trabalho. Os mais velhos, com os parcos recursos oriundos de suas
minguadas aposentadorias, cada vez mais são os responsáveis pelo sustento
dos seus descendentes. Submetidos a uma desumana carga tributária, onde
predominam tributos regressivos e até a CPMF incide sobre seus magros
estipêndios, ao mesmo tempo em que isenta as grandes operações financeiras
da bolsa de valores. Seus rendimentos não são reajustados adequadamente há
oito anos, ou o são em percentuais ridículos, ocasionando a crescente queda
do poder aquisitivo dos detentores de renda fixa, trabalhadores,
aposentados, pensionistas.
 A contrapartida que deveria ser fornecida pelo setor público é de inferior
qualidade, em todos os segmentos. A educação pública está nos seus
estertores, esmagada pelo corte de recursos orçamentários e por iniciativas
demagógicas, como as denominadas "cotas". Com a saúde pública não é
diferente. As condições de nossos hospitais públicos, com raras exceções, a
despeito dos esforços hercúleos dos profissionais, são inferiores a de
clínicas veterinárias. A segurança pública contribui para aumentar as razões
de insegurança do cidadão. Daí, este é obrigado a gastar  para pagar
empresas particulares de educação, saúde, segurança e até previdência, pois
com as mudanças impostas nos últimos tempos, poucos vão conseguir obter
aposentadoria daqui a alguns anos. Serão obrigados a trabalhar até a morte
ou então se aposentar para voltar a trabalhar. Os serviços concedidos, como
energia, comunicações, são reajustados em dólar, periodicamente, através de
contratos generosos para as empresas, em sua maioria, multinacionais.
 Chegamos à conclusão de que um escravo, no século XIX, talvez tivesse, em
termos materiais, é óbvio, condições de vida superiores às da maioria da
população brasileira. A concentração de renda é brutal. Com a proletarização
da classe média, encontramos, de um lado, os miseráveis, sobre os quais
estamos escrevendo e, do outro lado, uma minoria privilegiada, intocável,
que assegura seus privilégios sempre, seja qual for a administração eleita.
Mas, mesmo estes, começam a sentir as conseqüências nefastas do atual modelo
experimentado em nosso país. O hediondo homicídio praticado em São Paulo,
com a participação de uma jovem da elite, bonita, culta, poliglota,
universitária, no assassinato do pai e da mãe, por motivos fúteis demonstra
a tese. Esta moça foi criada com amor e carinho, com todo o conforto que uma
mãe psiquiatra e um pai engenheiro, executivo de alto nível, poderiam
permitir. Sua retribuição foi a de uma fera, que, sem conhecer qualquer
limite, ataca e mata quem a ama. E, no momento, está em liberdade,
aguardando julgamento.
Descobriram que não vivem numa ilha de tranqüilidade, de verdade. A ilha é
de fantasia. Os estragos provocados pelo consumo das drogas lícitas e
ilícitas crescem a cada momento. E há irresponsáveis que, do alto de seu
"saber", querem agravar o problema, defendendo a descriminalização das
drogas., ao invés de defender o combate ao uso das drogas lícitas, também.
Estas pessoas não entendem que os consumidores de drogas, lícitas ou
ilícitas, são dependentes químicos e como tal devem ser tratados, pois são
doentes.
 Eis uma modesta contribuição para a agenda dos futuros detentores do poder
político no Brasil.
Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br
Sítio: www.brasilsoberano.com.br