PERSPECTIVAS SOMBRIAS

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 30.12.2004 no Monitor Mercantil.

         Neste final do ano de 2004, a exemplo dos anos anteriores, é tempo de apontar nossas expectativas em relação ano novo ano. Na expressão econômica, identificamos uma grande dependência de nosso sistema econômico em relação ao exterior. Apesar de nossa dívida externa oficial ter diminuído para cerca de US$ 210 bilhões, nossa dívida interna já alcança o espantoso patamar de R$ 1 trilhão. A taxa Selic de juros de 17,75% é indecente. E mais imoral é o conteúdo da ata do COPOM, antecipando a continuação do aumento da taxa no início do ano vindouro. A conjuntura internacional começa a revelar-se menos favorável. Os preços da commodities começam a baixar e os insumos indispensáveis ao sucesso do agronegócio apresentam aumento significativo em seus preços. Os saldos da balança comercial e, em conseqüência do balanço de pagamentos em transações correntes tendem a diminuir.

         Na expressão psicossocial, o desemprego persiste em patamares elevados. Em novembro, mês em que tradicionalmente aumenta o nível de emprego, infelizmente, o IBGE apurou uma taxa de 10,6%, enquanto o DIEESE sinaliza taxa próxima a 18%. E os cerca de 2 milhões de empregos gerados são de qualidade inferior, mal conseguindo absorver a massa de 1.600.000 jovens que ingressaram no mercado de trabalho. E permanece o estoque de 12 milhões de desempregados. A educação, pública e privada, vai bem mal, obrigado. As estatísticas apontam melhores índices quantitativos, mascarando a triste realidade da brutal queda de qualidade. Artifícios são criados, como o sistema de cotas e a aprovação automática, para iludir a opinião pública. A saúde, antes garantida por um sistema público de boa qualidade, atualmente não consegue propiciar razoável atendimento médico, nem através dos planos particulares de saúde, regiamente pagos. A insegurança pública cresce assustadoramente em todo o país. Apresenta-se como solução da problemática o desarmamento dos cidadãos honestos, dignos e de bons costumes, enquanto o MST, no campo, desafia a lei e a ordem, iniciando o processo de extinção da propriedade privada no Brasil. Na cidade, o crime organizado oprime a civilização, afrontando a sociedade com o assassinato sistemático de policiais. Os principais meios de comunicação de massa não cumprem seu papel de ajudar a promover a educação e a cultura. Muito pelo contrário, produzem verdadeiro lixo cultural, a exemplo do BBB.

         Na expressão política, o Poder Legislativo continua sendo apenas um órgão homologador das determinações do Executivo. Não há oposição sólida. Sobrevive um verdadeiro clima de “balcão de negócios”. Agora, o partido no poder apresenta como candidato à presidência da Câmara um deputado intimamente ligado ao MST e advogado profissional de grande parte de ex-terroristas e ex-guerrilheiros que estão sendo agraciados com inexplicáveis e vultosas indenizações. AS PPP são aprovadas por acordo de lideranças, iniciando, na prática o processo de reeleição do atual presidente, prenunciando rombos expressivos nos recursos do BNDES e dos Fundos fechados de Previdência. É imposto ao Judiciário um abusivo controle externo, além da continuação da abusiva nomeação dos membros das Altas Cortes do país pelo Executivo, com aprovação do Legislativo. A todo momento surgem estranhas propostas de cerceamento das liberdades e direitos individuais e coletivos. Prosperam iniciativas em favor dos marginais, sob a capa de um “direito penal mínimo”, enquanto o cidadão é proibido de possuir meios de defesa contra meliantes sanguinários, acobertados pelo estatuto do menor.

         Na expressão científico-tecnológica, a Nação está cada vez mais dependente da tecnologia de ponta estrangeira. Os recursos para pesquisa continuam a sequer atingir 1% do PIB e nossos cientistas e técnicos são obrigados a emigrar para centros mais desenvolvidos.

         Na expressão militar, continua a ser aplicado um bem elaborado projeto de esvaziamento das Forças Armadas, em paralelo a uma insidiosa e suspeita campanha de difamação das três Forças Singulares, sem reação da administração federal. Problemas sérios de segurança interna, em especial no Rio de Janeiro, são ignorados, ao mesmo tempo em que tropas brasileiras são empregadas no Haiti, no exercício de funções semelhantes a que deveriam exercer aqui, em busca da utopia de obtenção de um assento no Conselho de Segurança da ONU.

         É preciso reverter , com urgência, esta dramática situação.

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