PERIGO IMINENTE

Artigo publicado em 08.04.2004 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

       Tempos atrás, escrevemos um artigo com o título de "Bola da Vez", transcrito abaixo, atualizado, considerando a preocupante notícia veiculada pelo jornal " The Washington Post" sobre a "suposta recusa do governo brasileiro- sob alegação de que estaria protegendo segredos industriais- de receber inspetores da agência de energia atômica da ONU em Resende (RJ), onde fica a Fábrica de Combustíveis Nuclear da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), sob o alarmante título "Brasil esconde instalação nuclear". A reportagem do Post afirma ainda  que a Casa Branca deve enviar emissários a Brasília neste mês para pressionar o governo brasileiro a ter mais cooperação com a ONU. Já vimos este filme antes.

       Os senhores da guerra invadiram, há dois anos, o Afeganistão, a pretexto de combate ao terrorismo internacional. A verdadeira razão reside na estratégica posição daquele país, para construção  de oleoduto com o objetivo de transportar petróleo do coração da Ásia para o porto adequado. Ano passado foi a vez do Iraque. Com  a desculpa de que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, foi concretizado o massacre do perigoso país ameaçador. Milhares de mortos, feridos e prisioneiros, sem direito à defesa. As causas de fato foram: a) a conversão das reservas iraquianas de dólar para euro, há aproximadamente três anos atrás; b) a posse da segunda maior reserva mundial petrolífera; c) a posse de imensas reservas de água, valiosas em especial em uma região desértica; d) a oportunidade de reconstrução daquilo que foi destruído, ao custo de mais de cem bilhões de dólares, a serem entregues a empresas ligadas à atual administração, generosas financiadoras de campanhas eleitorais nos EUA e em outros países.

       São os modernos corsários, possuidores de licença para  matar. A Economia norte-americana continua em crise. O desemprego ultrapassa 5,7% da população economicamente ativa. Sucessivos déficits acendem as luzes vermelhas no painel de controle dos analistas do mercado financeiro mundial. Os EUA importam praticamente tudo dos outros países. São auto-suficientes na produção bélica e de alimentos. Exportam tecnologia de ponta para o resto do mundo e, no momento,  possuem o poder real de destruir qualquer nação que não se submeta a seus interesses. Justificativas não faltam. Até hoje não foram encontradas as tão decantadas armas iraquianas de destruição em massa. Nem precisa. Para quê? Os objetivos reais foram alcançados.

       Está prevista uma recuperação da atividade econômica norte-americana, a partir  do domínio e venda dos recursos naturais iraquianos. A perspectiva do retorno do governo ao povo do Iraque é cada vez mais remota. O controle é mesmo dos "falcões-galinha"  do Pentágono que, depois, deverão passar a administração a um governo de "fantoches", dominados por eles, a exemplo de outros países. Se houver eleição livre, os xiitas ganharão e surgirá mais um regime teocrático, muito distante do sonho da democracia norte-americana, praticada por eles. Talvez utilizem até a nossa famosa "urna eletrônica".

       A dúvida agora é sobre qual será o país da vez, a ser "libertado" pelos rambos modernos. A pista pode estar na referência ao denominado "eixo do mal",  constituído por Irã, Coréia do Norte e Cuba. Se as razões fossem as proclamadas, o país premiado deveria ser Cuba, pela proximidade, ou a Coréia do Norte, pelo perigo concreto. Mas, como são, na realidade, econômicas, o agraciado deverá ser o Irã, por possuir petróleo abundante e por não possuir ainda artefatos nucleares operacionais. Ou então a Síria. A desculpa deverá ser, mais uma vez, impedir que aquele país tenha acesso à tecnologia nuclear. A ONU está desmoralizada e, caso desapareça, ninguém sentirá falta. A lei é a do mais forte. Manda quem pode. Obedece quem tem juízo.

       Mas fica uma preocupação para nós, brasileiros. Olhando o mundo, existem poucos outros países, indefesos, capazes de despertar a cobiça altruísta de libertação nos senhores da guerra. A abundância de recursos naturais, da água ao titânio, passando agora pelo petróleo, sua extensão territorial e a fragilidade de nossas Forças Armadas conformam um quadro preocupante. De fato, há um plano arquitetado pelos "donos do mundo" de enfraquecer as Forças Armadas dos países emergentes, sufocando-as financeira e economicamente. Além disto, é proibido o acesso à moderna tecnologia bélica, seja no tocante a engenhos nucleares, seja na área espacial. O trágico episódio da recente explosão do terceiro VLS brasileiro, com a perda de vinte e um mártires, exige das autoridades responsáveis uma profunda reflexão. Até jatos supersônicos são proibidos. Fabricação de mísseis, nem pensar. Até a proibição da comercialização de armas e munições querem impor ao povo brasileiro. As empresas nacionais seriam expulsas do mercado e o Brasil ficaria dependente até da importação de um cartucho de 22. Desta forma, fica mais fácil intimidar e, se for o caso, ocupar militarmente as nações desobedientes. Contudo, na maior parte dos casos, isto não é necessário, pois as próprias forças políticas locais elegem administrações representantes dos interesses deles, dóceis ao seu comando. De modo hábil, vão transferindo recursos para o exterior e permitindo a ocupação pacífica dos seus respectivos territórios, bem como a exploração de seus recursos.

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