O PODER DO IMPÉRIO

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

Artigo publicado em 17.05.2001 no Monitor Mercantil.

 

         O país está de luto. Numa verdadeira volta ao passado estamos prestes a entrar num processo de racionamento de energia, que tem data para começar, mas ninguém sabe quando vai terminar. E qual o preço. A administração FHC está no poder há mais de seis anos e procura transferir a responsabilidade para as administrações anteriores. Ora, mesmo que elas não tenham cumprido seu dever, ao assumir o poder a atual administração deveria ter percebido o problema e adotado as devidas providências para evitar mais este sofrimento atroz para o já traumatizado povo brasileiro. A irresponsabilidade é indesculpável. Os minguados recursos destinados ao investimento em aumento da geração e transmissão de energia nos últimos seis anos demonstram a total imprevidência e a preocupação em agradar ao FMI. Afinal, para que existe o ministério de Minas e Energia? E o denominado ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico)? E o ministério do Planejamento? Afinal, quando querem, eles agem rapidamente.

Vide o recente episódio da instalação da CPI da corrupção, quando a administração FHC, em menos de 24 horas, utilizando-se de instrumentos variados de persuasão, semelhantes aos empregados na votação da reeleição, tais como liberação de verbas (R$ 80 milhões em uma semana), distribuição de cargos (em especial de delegados do ministério do Trabalho), ameaças aos suplentes, com a exclusão de alguns (caso de reassunção de titulares para eliminar votos desfavoráveis de suplentes), concessão de rádios com unitárias e outras medidas nada ortodoxas ou éticas, retirou 20 assinaturas, de imediato dos signatários da CPI, guardando ainda cerca de 10 "soldados" de reserva, para utilização, se necessário. Por oportuno, vale a pena divulgar os nomes dos ilustres representantes do povo que assim procederam: Paulo Magalhães (PFL-BA); Ariston Andrade (PFL-BA); Luis Moreira (PFL-BA); Eujácio Simões (PL-BA); Luisinho (PST-RJ); Oswaldo Reis (PMDB-TO); José Indio (PMDB-SP); Dino Fernandes (PSDB-RJ); Cornélio Ribeiro (PSB-RJ); José Egydio Tinoco (PL-RJ); Paulo Marinho (PSL-MA); João Eduardo Dado (PMDB-SP); Augusto Nardes (PPB-RS); Josué Bengston (PTB-PA); José Alekssandro (PSL-AC); Luciano Bivar (PST-PE); Robério Araújo (PL-RR); Oswaldo Biolchi (PMDB-RS); Ursicino Queiroz (PFL-BA); Oliveira Filho (PL-PR). Até o deputado Eduardo Paes, eleito pelo prefeito César Maia, ameaçou seu suplente com o retorno, caso ele não retirasse a assinatura. Foi uma demonstração do poder do império para fazer o mal. Já para fazer o bem, apesar de possuírem o poder, eles não agem e provocam a vergonha do racionamento.

"Hoje se governa o Brasil com um instrumento de exceção, pior do que os decretos-leis do regime militar. Senado e Câmara tornaram-se ornamentos de pouca utilidade". E "até agora a Câmara não aprovou nova regulamentação das malfadadas MPs. Antes tarde do que nunca". De quem são estas frases? Elas foram escritas pelo próprio FHC, respectivamente, no Estado de São Paulo, em 08.01.91,e na Folha de São Paulo, em 07.03.91. Mas, naquela ocasião S. Exa. não era ainda presidente. Como todos sabem, o poder modifica as pessoas. E como.

         Apesar de toda a força que tinha o senador ACM, o projeto que limita a edição de Medidas Provisórias, retirando poderes excessivos do presidente FHC, aprovado pelo plenário da Câmara, no passado, com apenas um voto contrário e, pelo Senado, sofreu apenas uma modificação e retornou. Foi impedido de prosseguir pelas pressões do Planalto. O líder de FHC na Câmara tinha anunciado que iria enviar uma outra proposta para começar o processo de negociação, pois desejava retirar da emenda a proibição de MPs sobre questões financeiras, tributárias e sobre temas que foram objeto de emenda constitucional, descartando a possibilidade de o projeto aprovado pelo Senado ser votado na Câmara, tão cedo, apesar do parecer favorável do relator ao projeto que veio do Senado, apresentado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O relator afirmou que "os parlamentares que defendem o adiamento da votação da emenda tomam uma posição frontal contra o Congresso".

Afinal, a atual administração, em seu primeiro mandato, editou 2.634 MPs e só no 1º ano do 2º mandato, 1.101, já ultrapassando agora a marca de 4.000 MP. É de estarrecer não só a apatia do Legislativo em permitir a utilização abusiva destes instrumentos ditatoriais, como também o autoritarismo da atual administração FHC ao editá-las, algumas até para servir a interesses obscuros. Exemplo daquele é o de que, apesar do quase total controle da mídia pelos seus aliados, formando o que alcunhamos de mídia amestrada, ainda há resquícios de independência capazes de incomodar o "imperador". Por isto a sua preocupação em impor a "lei da mordaça", objetivando impedir a opinião pública de ter acesso aos escândalos diários, através de declarações de juizes e procuradores.

         São conclusões preocupantes, considerando que: ainda restam mais de um ano e meio de mandato; o Congresso aprova tudo aquilo que o Executivo deseja e, em caso contrário, haverá sempre o recurso da MP; a inexistência de uma oposição real à atual calamitosa administração; o domínio dos centros de irradiação de prestígio cultural pelos aliados da administração FHC; o comando exercido pelos "donos do mundo", em relação ao atual centro de poder brasileiro; a fraqueza de nossas Instituições. Na realidade, estamos vivendo a pior das ditaduras, a disfarçada, sub-reptícia, a denominada ditadura constitucional. E surge a pergunta inevitável: qual a utilidade do atual Congresso, considerando os interesses do povo brasileiro e do Brasil?

         A saída é cada um lutar contra este estado de coisas e procurar a união de todos os brasileiros patriotas, ainda existentes, em torno de um Projeto Nacional de Desenvolvimento, calcado na forte presença do Estado Nacional Soberano, para tentar resgatar a pátria perdida. Causa-nos preocupação a falta de união das oposições, cada partido interessado em benesses particulares, ao invés de lutar para impedir que a nação continue sob o domínio dos "donos do mundo".

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