O PAÍS DOS ABSURDOS – II

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

(Artigo publicado em 05.04 no MM).

         Pensamos que o tema, abordado neste espaço, na semana passada, não tivesse continuidade tão cedo. Mas os fatos são implacáveis. A crise no transporte aéreo brasileiro, iniciada há 6 meses, por ocasião do trágico acidente sofrido por uma avião da GOL, abalroado por um Legacy, atingiu o seu auge neste fim de semana. Até então o setor funcionava sem apresentar problemas visíveis, apesar de o DAC  ter sido transformado na ANAC (um cabide de empregos para os “cumpanheiros”) e a Infraero entregue a políticos ávidos por obras. A partir daquele instante, teve início o caos. Sucessivos “apagões aéreos” ocorriam sob os mais diversos pretextos: obstrução de pistas por animais (cachorro, pomba), chuvas, pane em sistemas e outras. Morre um passageiro em Curitiba, por infarto. Dentre as causas, ressalta uma: os controladores querem deixar de ser militares para poder ganhar mais, o dobro (mais de três mil reais), como seus colegas civis. Esta é a raiz do problema. São mais de 2.600 profissionais (80% constituídos por sargentos da FAB). Não são apenas os controladores que ganham mal. São todos os militares. Basta comparar com outras carreiras de Estado. Querem esvaziar as FFAA, criando inclusive uma guarda pretoriana, talvez o embrião de uma futura SS.

         A conclusão do motim iniciado na 6ª feira, dia 30.03, foi emblemática. Foi anunciada no dia seguinte em nota oficial, por “autoridades (ir)responsáveis” que a administração federal rendeu-se incondicionalmente à chantagem cometida pelos controladores, estimulados desde o início, pela tibieza e fraqueza do ministro da Defesa. Se isto for confirmado, estarão rompidos os princípios basilares das Forças Armadas: a hierarquia e a disciplina. Em 1964 também ocorreu o mesmo e as conseqüências são bem conhecidas. Se a administração ceder uma vez, terá que ceder sempre. Hoje, são os controladores. Amanhã, os operadores de radar.  Afinal, existem cerca de 26 categorias de sargentos especialistas, em diversas funções. E depois? Só Deus sabe. A população brasileira  não pode ser refém de ninguém.

         Outras causas evidentes foram o abandono e o descaso com que as Forças Armadas estão sendo tratadas nas últimas administrações, muito bem expostas no artigo “Ministério Indefeso”, elaborado pelo presidente do conselho editorial do Jornal do Brasil, Sr. J. A. do Nascimento Brito. O novo comandante da Marinha, Almirante Moura Neto já expressou sua insatisfação com a atual situação dos militares, não só no relativo aos salários, como também no referente às condições operacionais das 3 Forças Singulares, incapazes, no momento, de garantir a soberania e o patrimônio nacional, considerando a estatura estratégica do Brasil. Este triste episódio pode significar o tiro de misericórdia em nossas Forças Armadas, atualmente desarmadas. É o retrato fiel da esculhambação da “administração” petista.

         Ainda no setor aéreo, surge a “novidade” da compra da VARIG pela GOL, com a intermediação do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. O patriarca da família Constantino chegou a afirmar que teria havido uma solicitação neste sentido feita pelo próprio presidente, o que foi desmentido pelo seu filho. Em artigos anteriores, neste espaço, demonstramos nossa estranheza pelo modo como a VARIG estava sendo tratada, bem como foram abandonados seus milhares de funcionários e dependentes. Desconfiamos que havia algo premeditado. Agora, temos a certeza.

         No âmbito estadual surge o cômico episódio ensejado por uma foto, de perfil, do bem nutrido comandante-geral da PMRJ, exibindo uma protuberante barriga, dando origem a dezenas de piadas e charges pela imprensa. E o pior. Endossando os comentários de que o setor de segurança pública do Estado do RJ está sob a orientação da ONG Viva Rio, os jornais mostram uma foto do governador Sérgio Cabral ao lado do Sr. Rubem César Fernandes, seu presidente, em reunião com “líderes comunitários”. Uma das decisões tomadas no encontro foi a de enviar à Colômbia uma comitiva, constituída por 2 líderes comunitários e 2 representantes do setor público. Um dos representantes comunitários será o Sr. William da Rocinha, já preso pela polícia no governo anterior, sob a denúncia de associação ao tráfico. Fica difícil pensar que o problema da criminalidade no Rio está sendo enfrentado seriamente pelas autoridades.

         Outro episódio estranho foi o da prisão do rabino Henry Isaac Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP), nos EUA, pelo furto de 5 gravatas de marca de luxo, no dia 23.03. De início, negou. Ao ser informado da existência de uma gravação da retirada de uma gravata, admitiu, oferecendo-se para pagar a mesma. Foram então descobertas mais 4 gravatas, também não pagas. Detido e fichado em Palm Beach, foi solto sob fiança no dia seguinte. Ao ser divulgado o lamentável episódio no Brasil, inicialmente negou. Admitiu, depois, solicitando seu afastamento temporário da presidência da CIP e internando-se em um Hospital. Aparece então um laudo médico informando que o rabino estava tendo problemas comportamentais, em virtude de ingestão de medicamentos para tratamento de insônia. Se a moda pega, vão aparecer centenas de laudos médicos semelhantes em Brasília. Ora, ou o rabino estava seriamente doente e então não poderia exercer a relevante função, ou a doença é uma tentativa de explicar o inexplicável.

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