OMISSÕES IMPERDOÁVEIS

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.

(Artigo publicado em 01.09.11-MM).

         A tragédia de Santa Teresa com o bonde que descarrilou, matando cinco pessoas e ferindo cinqüenta e sete, é uma triste constatação do descaso, da omissão e da irresponsabilidade, que caracterizam as atuais gestões dos entes federados, nas três esferas de administração. Há dois anos, a Justiça já determinara a recuperação da rede de bondinhos do tradicional bairro carioca e as conseqüências são estas. No dia 24.06, um turista da França pereceu, após cair do bondinho de Santa Teresa, quando passava sobre os Arcos da Lapa, no Centro do Rio. A circulação dói interrompida por algum tempo e agora ocorre isto. É a crônica de uma morte anunciada.

         Levantamento feito no Sistema de Acompanhamento Financeiro do Estado (Siafem) informa que a administração Cabral empenhou apenas 7% do previsto para o “programa de revitalização, modernização e integração de bondes”, no biênio 2007/2008, do orçamento da Companhia de Engenharia de Transportes e Logística (Central), responsável pelo transporte. E, ainda mais, este programa não aparece na execução orçamentária do órgão nos anos de 2009 e 2010. O engenheiro da companhia e membro da direção do Sindicato dos Engenheiros do Rio (Senge-RJ), Sr. Jorge Saraiva da Rocha afirma que: “os repasses para a manutenção às vezes sequer são utilizados para esta finalidade” e que o “serviço de reparos é totalmente inadequado”.

         A secretaria de Transportes informa, através de seu titular, que o motorneiro deveria ter levado o bonde para a oficina, após o mesmo ter se envolvido em uma pequena colisão com um ônibus pouco antes. Já o presidente do Sindicato dos Ferroviários, Sr. Valmir de Lemos disse que a batida entre o ônibus e o bonde foi muito leve e não pode ser apontada como causa do acidente que aconteceu em seguida, acrescentando ainda o fato de o motorneiro não poder se defender das alegações do secretário, pois está morto. De fato, é muita covardia jogar a responsabilidade sobre uma vítima. Quem é funcionário do Estado conhece a maneira cruel, desumana e impiedosa como são tratados os servidores públicos pela atual administração.

         Exemplo cabal disto é a votação, prevista para esta semana, do projeto de lei que cria as organizações sociais (OSs), entidades de direito privado que vão gerir as unidades de saúde. O projeto estava previsto para entrar em pauta no dia 31.08, mas as discussões devem levar cerca de duas semanas. Ela recebeu 308 emendas e foi rejeitada pelas Comissões de Tributação e de Saúde da Alerj. Causa perplexidade saber quanto ganha um profissional de saúde no Estado do Rio. De um modo geral, são salários ridículos e as exigências das atuais chefias administrativas, nomeadas em grande parte por indicações políticas, são cada vez maiores. A meta parece ser desestimular o servidor público, levando-o à demissão para que os espaços abertos sejam ocupados por empregados de fundações. Tomógrafos necessários ao diagnóstico e tratamento dos cidadãos estão abandonados, esperando para serem montados, enquanto pacientes sofrem e morrem. E fatos semelhantes acontecem também nas outras áreas do serviço público estadual, como Educação, Segurança etc. O ex-coordenador da Operação Lei Seca, que era subsecretário de governo, atropela vários pedestres, matando um cidadão.

         O que está por detrás de tudo isto é o fato de que os planos particulares de saúde estão aumentando o número de segurados em escala muitas vezes superior à capacidade de atendimento, em especial no relativo às internações. Deste modo, estão progressivamente canalizando seus pacientes para a rede pública. Seu objetivo passou a ser então o controle dos hospitais públicos a custo zero para maximização de seus lucros. Imagine o leitor o quanto isto não significa em reais.

         O descalabro no plano nacional atinge o paroxismo ao tomarmos ciência da proposta do relator da comissão especial da Reforma Política na Câmara dos Deputados, membro do PT, de adoção do voto em lista fechada, mascarado por subterfúgios ardilosos. Daqui a pouco o eleitor vai ficar exatamente na posição expressa na velha piada em que o chefe político do interior votava por ele, que ignorava para quem tinha ido seu voto. Ao perguntar, obtinha a resposta que o voto era secreto e desta forma ele não poderia saber.

         É sabido que esta aberração é defendida justamente pelos dois maiores partidos da coalizão governista, PT e PMDB. Inclusive estudos feitos por cientistas políticos mostram que, caso estivesse em vigor tal excrescência nas últimas eleições, o PT seria o maior beneficiário, elegendo um número ainda maior de congressistas. Não sabemos como estes indivíduos conseguem viver em paz com suas respectivas consciências. De que forma eles conseguem conciliar o sono, sem remorsos? Será que não possuem mais um pingo de dignidade? Até quando seremos obrigados a conviver com estas omissões imperdoáveis? Onde estão os congressistas sérios que não denunciam estas estapafúrdias manobras?

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