OLHANDO O BRASIL  DO EXTERIOR

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ  e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 04.09.2003 no Monitor Mercantil.

 

       Em recente viagem, passamos duas semanas nos EUA. Nos dois jornais a que tínhamos acesso todos os dias, "The Walt Street Journal" e "Los Angeles Times", apenas três notícias. No primeiro, duas referências. Uma, sobre a aprovação, em primeiro turno, pela Câmara dos Deputados, da denominada reforma da previdência, com aplausos entusiásticos da editoria do citado jornal. A outra, sobre "a morte do proprietário do Brasil", relativo ao falecimento do jornalista Roberto Marinho. No segundo jornal, apenas uma nota sobre a vitória da seleção brasileira de basquete sobre a dos EUA. Na televisão, apenas a CMN-Esportes, em espanhol, passava às 4ªs e domingos, um jogo, em cada dia, do campeonato brasileiro.

       Somos praticamente desconhecidos do povo norte-americano. Mas não dos banqueiros e empresários, capazes de auferir, todos os anos, vultosos juros e lucros provenientes do nosso país. O lado positivo desta constatação é o de que não somos ainda um alvo imediato a ser "libertado" pelas heróicas tropas de uma nova "coalizão", a qualquer pretexto. O lado negativo é representado pela indiferença olímpica dos norte-americanos ao nosso país e ao nosso povo. Bem, muito melhor do que a situação do México, sofredor, desde séculos atrás até hoje, da "generosidade" dos vizinhos.

       É digna de elogios a objetividade, a praxidade, a organização, a disciplina e o patriotismo do povo norte-americano. É de se registrar o acentuado egoísmo das pessoas, ávidas por tirar o máximo de proveito de qualquer situação, com o aspecto positivo de reivindicar seus direitos em todos os instantes, bem como a arrogância dos agentes da imigração norte-americana, que pensam ser um favor permitir a entrada de turistas em seu território, e a humilhante revista  individual e de bagagens imposta aos viajantes, até nas visitas a parques temáticos e locais públicos. Na viagem de retorno, um empresário catarinense, oriundo de Brusque-SC, foi detido no aeroporto de Los Angeles, pois estava trazendo em sua mala de mão uma miniatura de jogo de "arco e flecha", sendo acusado por uma policial de "ofensa à justiça dos EUA" e de ter tentado "testar a eficiência da vigilância norte-americana". O equipamento foi apreendido e só a eficaz ação dos representantes da companhia brasileira de transporte aéreo impediu que o patrício fosse algemado e impedido de seguir viagem.

       A primeira conclusão é a de que o Brasil precisa urgentemente recuperar seu prestígio internacional. Para ser respeitado pelos outros, entretanto, é preciso antes respeitar a si próprio e, principalmente, a seu povo. A proposta de reforma previdenciária encaminhada ao Senado, depois de aprovada pelos deputados eleitos por nós é imoral, injusta e tem por objetivo apenas aumentar a arrecadação e diminuir despesas, no curto prazo, bem como privatizar a previdência dos funcionários públicos. Cumpre as ordens do FMI e procura jogar a população contra os servidores públicos. Com a cumplicidade da mídia amestrada e a cooptação de congressistas ávidos pelas benesses do poder impuseram ao Brasil, goela abaixo, mais uma usurpação dos parcos direitos adquiridos da classe trabalhadora. Pretendem vender como modelo a PREVI-Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, a qual acaba de subtrair dos seus beneficiários 12,05% de reajuste, quebrando o contrato firmado, em contraponto ao fiel cumprimento dos acordos efetivados com os banqueiros e as multinacionais. A reforma tributária objetiva de fato transformar a CPMF em permanente e manter a DRU (Desvinculação das despesas da União). No mais, vão tentar massacrar mais a classe média, por intermédio  de tributos confiscatórios.

       Nos sete primeiros meses, já pagaram cerca de R$ 90 bilhões só de juros da dívida interna. A Economia  entra tecnicamente em recessão, com a taxa negativa de crescimento do PIB, em dois trimestres consecutivos. O desemprego avança e cai a renda real da massa trabalhadora. O único segmento satisfeito é o dos banqueiros, que acumula lucros fenomenais, a cada período de tempo. Não há planejamento e o orçamento de 2004 consegue ser pior do que o de 2003. A desordem e o caos imperam no campo e nas cidades e a insegurança atinge a todas as categorias. E a solução imposta pela IANSA, cumprida fielmente pela bancada dos "hoplófobos" é o desarmamento do cidadão honesto. Talvez para facilitar a atuação dos marginais e dos invasores de propriedade.

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