“O
Colapso mundial e o Brasil” – I
Artigo publicado em 30.04.2009 no Monitor
Mercantil.
A “marolinha”
transformou-se em um tsunami com graves conseqüências
para a toda a economia mundial e, como não poderia
deixar de ser, também em nosso país.
Vamos apreciar o tema,
analisando alguns aspectos significativos.
De início, destacamos como pontos positivos:
1 – Taxa de inflação decrescente, em função da queda da demanda global,
no curto prazo;
2 – Possibilidade de redução da maior taxa real de juros do
mundo;
3 – Relação dívida/PIB em
declínio, apesar de ainda ser cerca de 36% do PIB. Na realidade, temos uma dívida
interna de R$ 1,602 trilhão e uma dívida externa de US$ 267 bilhões-jan/2009;
4 – Elevado nível de depósitos compulsórios, podendo ser diminuídos;
5 – Reservas internacionais de cerca de US$ 188 bilhões e “swap” de US$
30 bilhões do FED;
6 – Compromisso de executar política fiscal de ajuda à
política monetária;
7 – Recuperação da linha branca e de eletroeletrônicos em
virtude de programas de governo;
8 – Renda e massa salarial ainda pouco afetadas;
9 – Possibilidade de recuperação de exportação no setor de
mineração;
10- Pacote da Construção civil, caso seja de fato executado;
11- Aumento expressivo do salário mínimo garante um aumento de renda
para camadas pobres, como dois terços dos beneficiários do INSS;
12- Déficit nominal de 1,53% do PIB em 2008 e de 2%
no momento.
Porém, como pontos negativos, identificamos:
1 – Alto nível de compromissos fiscais assumidos em gastos recorrentes
de pessoal e custeio. Ex.: Crescimento de 57% no número de servidores da PR em
relação à administração anterior (3.431 servidores); custo total da despesa de
pessoal da União passou a ser de R$ 144,5 bilhões em 2008 (aumento real de
26,25% em relação a 2002); elevação em 27% dos gastos com pessoal no 1º
trimestre de 2009, comparando com o mesmo período de 2008 (R$ 40,9 bilhões);
2 – Queda na arrecadação inerente à desaceleração;
3 – Ambos os itens acima restringiram o escopo da ação fiscal;
4 – Aumento contínuo da taxa de desemprego (13,1%- DIEESE-jan/2009);
5 – Bacen atua sempre atrasado e em doses
homeopáticas;
6 – Crise provoca o retorno de parte das pessoas que
obtiveram ascensão social para sua condição anterior;
7 – Prazos dos empréstimos em especial no setor produtivo
muito baixos;
8 - Confiança
dos consumidores e empresários abalada;
9 – Nível de emprego se recupera de forma lenta;
10- Forte redução de estoques ainda pode levar a desemprego e menos
renda;
11- Quedas expressivas na produção industrial;
12- Dificuldade de pequenas e médias empresas terem acesso a crédito;
13- Necessidade de reformas estruturais;
14- Cenário global continua ruim e deve demorar a melhorar, reduzindo a
demanda pelos produtos exportados pelo país (“commodities”), sendo o país ainda
vulnerável às oscilações nos ciclos de créditos;
15- Queda de cerca de R$ 25 bilhões na arrecadação federal e de R$ 60
bilhões na demanda agregada autônoma;
16- Queda de 3,6% no PIB e de 2% no consumo
das famílias, no último quadrimestre de 2008, possivelmente anunciando o início
de um processo recessivo; a indústria brasileira teve queda em dezembro de
12,4% na comparação com o mês anterior;
17 - Demora em reconhecer a crise, confundindo realidade
com desejo, antecipação da disputa eleitoral de 2010, sem estratégia, sem sinal
de mudanças, ao sabor das pressões de “lobbies”;
18- Inexistência de um Projeto Nacional de Desenvolvimento;
19 – Vulnerabilidades do comércio exterior brasileiro, em virtude de
não termos respondido a tempo aos desafios internos:
- estrutural: ausência de política pró-ativa, visando a corrigir as
barreiras internas (Custo Brasil e burocracia);
- operacional: déficits em transações correntes no balanço de
pagamentos;
- exógena: efeitos das crises internacionais sobre a economia nacional,
através de redução ou interrupção de linhas de crédito
externos para investimentos e financiamentos; redução da demanda
externa, com impacto na venda de produtos e serviços nacionais , seja em
quantidade ou preço; pressão sobre a importação de mercadorias pela oferta de
melhores condições de compra.
Na próxima semana,
continuaremos a abordagem do tema.
Prof. Marcos Coimbra
Conselheiro Diretor do CEBRES, Professor de Economia e Autor do livro
Brasil Soberano.