O
BRASIL E O TERCEIRO MILÊNIO
Prof. Marcos Coimbra
Membro efetivo do Conselho
Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor
aposentado de economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
Artigo publicado em 03/04/2008
para o Monitor Mercantil
Neste início do terceiro milênio, infelizmente o bravo povo
brasileiro não tem o que comemorar. Apesar de estar assentado num solo rico,
num subsolo mais pródigo ainda, com vastos recursos naturais, com um território
que é um continente, um povo honesto, trabalhador, sério e patriótico, não
possui uma administração a sua altura. Na década de 70, chegamos a crescer a 13%
ao ano. O Setor Público era poupador positivo e investia vultosos recursos em
infra-estrutura econômica. Estava sendo construída a base de uma potência
econômica, com amplas possibilidades de crescer a ponto de ombrear-se com as
nações mais prósperas do mundo.
Havia emprego, os direitos trabalhistas eram
respeitados e os cidadãos sobreviviam dignamente, a custa de seu trabalho. A
assistência médica pública atendia ao necessário. O crime organizado estava sob
controle. Os marginais respeitavam a polícia. A previdência pública operava
satisfatoriamente. A educação pública ainda era de boa qualidade. As Forças
Armadas eram prestigiadas e funcionavam como poder moderador. Havia
investimento em pesquisa.
Os mais jovens podem pensar que estamos falando sobre outro
país. Não. É sobre o Brasil. Acontece que nos últimos anos, principalmente
desde 1994, o cenário modificou-se radicalmente. Desde a administração Collor
foi iniciada a derrocada. Com a abertura indiscriminada às importações, a
demarcação de terras indígenas por imposição de grupos e governos estrangeiros,
contrariando a Constituição vigente, a aprovação da Lei de Marcas e Patentes, com efeito retroativo, e com o acordo firmado com o Fundo
Monetário Internacional (FMI), a pretexto de equilibrar as contas externas, mas
na verdade para garantir o pagamento de juros aos banqueiros estrangeiros, o
país foi colocado de joelhos.
A estabilidade monetária continua como
variável-meta, tendo sido fixada desde a administração FHC, por imposição
externa. Como conseqüência natural, a privatização selvagem, com a venda por
tostões das jóias da coroa, que valem bilhões ou até trilhões de dólares, como
o caso do subsolo de nossa Amazônia. Todas as empresas estatais vão sendo
"doadas", com recursos até do BNDES, a empresas estrangeiras, algumas
até estatais. Todos os setores estratégicos são entregues aos estrangeiros. Até
o financeiro. A seguir, a interrupção de investimentos públicos para permitir
superávits fiscais primários, o que, progressivamente vai provocando o colapso
dos serviços públicos essenciais, como a educação, a saúde, a segurança e até a
previdência. A dengue está matando dezenas de cidadãos em especial no Rio.
Todos os
direitos duramente adquiridos, ao longo de gerações, vão sendo inapelavelmente
extirpados. Tudo para pagar juros aos banqueiros nacionais e internacionais. Os
jovens que estão ingressando no mercado de trabalho dificilmente conseguirão
obter a aposentadoria no futuro. Primeiro, porque não há emprego. Depois,
devido às regras draconianas impostas por exigência do FMI, que continuam a
imperar, apesar do fim formal do acordo. As Forças Armadas são imobilizadas
pela mídia amestrada que as coloca em permanente defensiva, explorando os mais
sórdidos assuntos do passado, e pelo desprezo imposto a elas, caracterizado
pelo insuficiente aporte de recursos para seu adestramento e aprestamento.
A imprensa é dominada por seis grandes grupos
que fabricam a chamada opinião publicada, fazendo-a passar por opinião pública.
O país passa a ser conhecido como o maior exportador do mundo de prostitutas. A
administração Lula, incapaz de resolver os grandes problemas nacionais,
especializa-se em realizar manobras diversionistas.
Ora atribui a culpa da violência aos cidadãos dignos que possuem armas de fogo
legalmente registradas, e não aos bandidos que operam com armas de fogo pesadas
e até granadas a serviço do narcotráfico, ao mesmo tempo em que permite a
agressão ao instituto da propriedade privada no Brasil. O MST e assemelhados
invadem, matam, fazem reféns, não cumprem ordens judiciais e nada acontece.
Entretanto, o prefeito Paulo César Quartiero, líder
da resistência à retirada não-indígena da área da reserva Raposa Serra do Sol é
sumariamente preso, sob a alegação de quatro crimes (desacato à autoridade,
desobediência, obstrução de rodovia federal e incitação à desordem pública),
apesar de a questão estar ainda dependente de decisão judicial. E os chefes do
MST fazem muito pior do que isto e são recebidos no planalto. Dois pesos e duas
medidas.
É muito difícil conseguir reverter a
situação via eleitoral, pois o sistema, imposto pelos donos do mundo, nunca esteve tão poderoso. Possuem o domínio
quase completo dos recursos de financiamento de campanhas eleitorais, além do
controle dos centros de irradiação de prestígio cultural (imprensa,
universidades, cinema, teatro etc.). E contam com a ambição desmedida de alguns
partidos que, aparentemente, são de oposição. Todos querem fazer o novo presidente. A esperança é a de que um novo nome surja,
desde que capaz de aglutinar as forças do partido de Tiradentes, contrárias aos
seguidores de Joaquim Silvério dos Reis. Ou então, será a barbárie.
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