METÁSTASE PRECOCE

Artigo publicado em 01.04.2004 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

       A metástase representa o aparecimento de um foco secundário, na evolução de um tumor maligno. De fato, quando uma pessoa é acometida de um câncer, caso ele seja diagnosticado no início e tratado de modo adequado, com urgência, as chances de sobrevivência do doente são consideráveis. Contudo, quando o diagnóstico não é precoce, a cada dia que passa é mais difícil a obtenção de êxito contra a cruel doença. Até que chega o ponto em que o insidioso mal se multiplica atingindo outros órgãos do sistema. Nesta situação, não há mais possibilidade de sobrevivência e a existência terrena torna-se muito difícil.

       A solução consiste pois, em qualquer situação, na adoção de medidas preventivas para descoberta  rápida da doença, bem como o emprego imediato de medidas radicais de combate ao mal, que se iniciam normalmente por um ato cirúrgico, de extirpação do tumor maligno. Assim o é em qualquer sistema. Desde um organismo humano até um país. Infelizmente, no Brasil de hoje, já identificamos claramente a existência de metástase no sistema geral. Existem inúmeros sindicatos de ladrões operando no país, impunemente, com a certeza de que nunca serão punidos. No começo, quando começaram a surgir os primeiros indícios de traição à Pátria e de corrupção, ainda seria possível impedir que a metástase ocorresse. Hoje, é praticamente impossível.

       As notícias são veiculadas diariamente pela imprensa e, todos nós sabemos, que não representam 10% do ocorrido, devido a várias razões. Dentre elas, a conivência dos encarregados de coibir a prática dos ilícitos com os envolvidos, a cooptação da "mídia amestrada", a certeza da impunidade e outras. Os exemplos são significativos. Na esfera federal, primeiro, o caso "Waldomiro". Aí entra em ação o grupo altamente especializado na "operação abafa". A Constituição Federal é rasgada e a CPI dos Bingos, também abortada. Aparece a CPI de Santo André, que tampouco é bem sucedida. A imprensa divulga que o Sr. Waldomiro Diniz foi tesoureiro da campanha do Sr. José Dirceu quando candidato a governador de São Paulo, há dez anos atrás. Então irrompe o exótico episódio da GTECH e a figura do Sr.. Rogério Buratti, que foi assessor do então prefeito Antonio Palocci, em Ribeirão Preto. A defesa do atual ministro é que o citado cidadão teria sido demitido por ele, em virtude de "atos desabonadores". Descobre-se então que em 2000, Buratti doou dinheiro para a campanha de Palocci pela prefeitura de Ribeirão Preto. E mais. O atual assessor do ministro Palocci, Sr. Juscelino Dourado, foi sócio de Buratti. E Buratti foi contratado  pelo então deputado estadual José Dirceu para trabalhar com ele. É muita coincidência.

       O presidente da OAB- Nacional informa que cerca de 80% dos recursos impetrados junto aos mais elevados Tribunais do Brasil são de responsabilidade direta ou indireta da União ou de órgãos a ela subordinados, caracterizando uma litigância de má-fé para conseguir postergar o pagamento devido. Exemplos gritantes de tal procedimento são a questão do pagamento dos atrasados do FGTS, referentes aos Planos Collor e Bresser e do reajuste das aposentadorias do INSS. E  integrantes do Poder Executivo apresentam como solução o "controle externo" do Judiciário. É evidente que se trata de uma tentativa de dominar o único Poder que ainda está relativamente fora de controle do grupo que detêm o domínio do poder político no país.

       A paralisação do  porto de Paranaguá, cujos operadores estão em greve, ocasiona um prejuízo de milhões de dólares ao dia, provocando engarrafamentos de 60 km. Também estão em greve os servidores da Polícia Federal, os fiscais agropecuários e outras categorias ameaçam entrar em greve, como os servidores públicos federais, os funcionários do Banco Central e mais algumas. A polícia estadual do RS também entra em greve. O MST avisa que a trégua com a administração federal está encerrada e as invasões serão retomadas para apressar a reforma agrária. Uma revista de grande circulação semanal publica uma espantosa, para quem não é do ramo, entrevista, com o Sr. Carlos Alberto da Costa, ex-diretor do FBI no Brasil, nos últimos quatro anos, em que o mesmo afirma: "A vossa Polícia Federal é nossa, trabalha para nós há anos...Foi comprada por alguns milhões de dólares... Os Estados Unidos compraram a Polícia Federal...Uma das importantes funções que nós temos na embaixada é manipular a imprensa brasileira...Agora, o FBI, a DEA, a NAS, da US Customs (alfândega), o RSO, que são os seguranças internos da embaixada, e tantos outros serviços, o que estão a fazer aqui?...A ABIN é um órgão que não dá para definir...Quando um Serviço de Inteligência se torna pedinte ante estrangeiros, se expõe, deixa de ser secreto". O senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, pede investigações , afirmando: "Já é grave a idéia de grampear uma pessoa. Imagine um governo. É preciso ir fundo nas investigações". Isto porque há a perspectiva de que os EUA tenham grampeado os palácios do Alvorada e do Itamaraty. Esperamos que nada disto seja verdadeiro. Se for, é dramático.

       O setor privado aumenta seus preços abusivamente. Chegam a diminuir a quantidade de mercadorias contida nas embalagens, ao mesmo tempo em que remarcam os preços, como, por exemplo, o caso do papel higiênico, onde antes o comprimento de cada rolo  era de 50m, passou a ser de 30m e agora é de 20m. E em um  país, com tantas autoridades, ninguém faz nada. O mais dramático é que o "fenômeno" se repete tanto nas esferas estaduais como nas municipais. Daí porque diagnosticamos a metástase do sistema. E precoce, porque a atual administração federal está somente há um ano e dois meses no poder e as estaduais há dois anos. As Instituições Nacionais, como a Família, a Igreja, as Forças Armadas, justamente as que possuem maior prestígio na população, são sordidamente erodidas, todo o tempo, por "pescadores de águas turvas", interessados em manter o Brasil na triste situação em que se encontra. Enquanto isto, a Índia e a China. Bem, não vamos fazer comparações, pois então não conseguiremos conciliar o sono. Afinal, o que estão fazendo com o Brasil?

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