MALDADE INSANA
Artigo publicado em 28.02.2002 no
Monitor Mercantil
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia
junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG
Os
detentores atuais do poder político são os artífices das brutais desigualdades
econômico-sociais existentes no Brasil, com aterradoras disparidades, seja a
nível regional, pessoal, ou setorial. Agora, com o apoio do PT, a administração
FHC consegue obter a aprovação da
prorrogação da CPMF até o ano de 2004, na primeira votação das quatro
necessárias no Congresso, propondo a isenção para as operações realizadas no
mercado de capitais, principalmente na Bolsa de Valores. A carga tributária já
atinge 34% do Produto Interno Bruto (PIB) e os grandes problemas nacionais
crescem.
Na
realidade, não é desta maneira que a grave problemática brasileira vai ser
resolvida. De início, é preciso considerar que a miséria avança inexoravelmente
no país, enquanto a nação é "vendida" de forma vil pela atual
administração. O conjunto de medidas econômicas adotadas pela administração
FHC, imposto pelo FMI, agente do sistema financeiro internacional, está
destruindo o Estado Nacional Soberano, desmontando as empresas estatais,
desnacionalizando a economia, eliminando o emprego. Aperta-se o orçamento
público, sacrificando o social, para produzir superávit primário acima de R$ 40 bilhões ao ano, para pagar juros da
dívida interna de quase R$ 90 bilhões em 2001
E os juros da dívida externa foram da ordem de US$ 12 bilhões no ano
passado. Somando-se este valor ao enviado ao exterior a título de lucros,
dividendos, "royalties", transportes, turismo, vamos alcançar o
triste valor de cerca de US$ 22 bilhões
em 2001.
Outro
ponto crucial a considerar é o da origem dos recursos. De onde virão? A
economia vive uma cruel recessão, a sonegação alcança níveis nunca imaginados
(a cada R$ 1,00 arrecadado, corresponde R$ 1,00 sonegado). Fala-se em criar
tributo sobre grandes fortunas. Porém, qualquer adicional tributário é insuportável. E, caso outro seja criado,
vai incidir, sem dúvida alguma, sobre aqueles que não podem fugir. A classe
média vai ser a grande sacrificada, mais uma vez. Serão criadas novas
alíquotas, com valores percentuais maiores, depauperando mais ainda quem
está há sete anos sem reajuste,
sofrendo perdas reais de renda, devido aos extorsivos aumentos de tarifas
públicas, combustíveis, medicamentos, planos de saúde, mensalidades escolares e
a manutenção de mecanismos novos de
extorsão como a CPMF, que de provisória vai acabar como permanente. É a política do "Hood Robin". Ao
contrário de Robin Hood, que tirava dos ricos para dar aos pobres, vai ser
concretizada por tirar dos "remediados" para acabar propiciando, direta e indiretamente aos
ricos, que deixarão de pagar aquilo que deveriam, o acúmulo de mais riquezas e
poder.
O
nível de desemprego atinge taxas alarmantes. 17% da população economicamente
ativa (PEA) em São Paulo, segundo o
DIEESE, alcançando cerca de 1.600.000 pessoas. E o subemprego também progride. Os salários são cada vez menores
em termos reais. A educação deixou de funcionar como o elevador de
mobilidade social vertical. O jovem
alcança a Universidade, estuda cinco anos, com afinco, forma-se e não consegue
colocação. É obrigado a morar com os pais ou sogros até conseguir um emprego
qualquer. Em geral, a nível técnico, percebendo um estipêndio modesto. Mas, é
pegar ou largar. Caso não deseje, há fila de espera. É o paraíso das
multinacionais. O reino da subserviência. As empresas praticam irregularidades,
que nem sonham concretizar em suas
matrizes e o governo não exerce sua função administrativa. Nenhuma punição é
aplicada. Oligopólios transformam-se em monopólios e o presidente FHC aplaude.
A PETROBRAS é obrigada a partilhar, com as "Grandes Irmãs", jazidas
de petróleo descobertas através de muitas pesquisas e vultosos investimentos,
por ordem do ex-genro do presidente, quando estava no comando do setor. É a
entrega total.
Todo
e qualquer economista, com razoável formação universitária, sabe que a solução
para a miséria e pobreza reside na aplicação de uma política econômica que
tenha como variável-meta o pleno emprego dos fatores de produção, em especial o
trabalho, com sua digna remuneração, com estratégias correlatas que permitam a
retomada do crescimento econômico, privilegiando o mercado interno e aplicando
recursos vultosos em infra-estrutura econômico-social. Se alguém perguntar de
onde virão os recursos, a resposta é muito simples. De onde saem os recursos
para pagar por ano R$ 90 bilhões de juros da dívida interna e US$ 22 bilhões de
déficit no balanço de pagamentos em transações correntes? Basta remunerar
melhor a atividade produtiva e diminuir significativamente a taxa de juros.
Afinal, as famosas reservas internacionais líquidas estão pouco acima de US$ 35
bilhões. E podem evaporar-se em poucas
semanas. O grau de dependência da economia brasileira às variáveis exógenas é
absurdo. É necessária sua diminuição. Basta ter coragem, romper com o FMI e
adotar uma política independente, o que, no atual governo, é impossível de
imaginar. Só trocando seus atuais ocupantes. Enquanto isto não ocorrer, temos
de resistir e seguir lutando em benefício de nossa pátria. E, chega de maldade!
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