IMPORTAÇÃO EXÓTICA

Artigo publicado em 11.2003 no jornal Ombro a Ombro.          

 

         O Brasil está obtendo no ano em curso um dos maiores superávits comerciais de sua história. Até os dias de hoje, algo superior a US$ 20 bilhões, com a perspectiva de ultrapassar US$ 22 bilhões, ao final de dezembro. É motivo de júbilo. Porém, como tudo na vida, há as duas faces da moeda. O lado positivo é o de que este resultado, acrescido do saldo positivo em transferências, poderá resultar em um saldo positivo  do balanço de pagamentos em transações correntes de cerca de US$ 3 bilhões. O lado negativo é a verdadeira razão deste resultado. A recessão econômica, a qual provocará um pífio crescimento de 0,6% do PIB brasileiro no corrente ano.

         Caso o país volte a crescer, a partir de 2004, em mais de 3% do PIB, isto provocará o recrudescimento das importações e então o saldo comercial diminuirá de modo expressivo, infelizmente. Na medida em que o ritmo de crescimento econômico acelere, cada vez menor será o resultado positivo da balança   comercial. Isto devido ao elevado  coeficiente de importações existente em grande parte dos bens mais nobres produzidos pelo nosso sistema econômico. Desta forma, é vital um minudente estudo sobre nossa pauta de importações e exportações, a ser feito pelo DECEX, para um criterioso estudo de situação,  capaz de apontar os itens mais importantes e aqueles menos significativos, com elevada possibilidade de não serem mais adquiridos.

         Causa espécie, então, a decisão do poderoso ministro chefe da Casa Civil, Sr. José Dirceu, chamado, na ocasião, de presidente, num ato falho, pela ministra do Meio Ambiente, senadora Marina Silva, de autorizar a importação de pneus usados, em especial do Uruguai. A justificativa é a de que seria por causa das regras acordadas no MERCOSUL, fato desmentido pela recusa da Argentina em aceitar tal "presente de grego". É o tipo de produto, como o lixo radioativo, que nenhum país do mundo deseja receber. Além de contribuir para o agravamento da quota dos problemas ecológicos e ambientais, ainda termina por ampliar os focos da dengue no verão que chega, segundo denúncia da secretaria municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

         De fato, é incompreensível que, neste momento crítico, tal importação seja permitida. Quais as razões que motivaram a equivocada decisão? É evidente que seriam os importadores deste tipo de bem, comprado a preços mínimos e vendido a preços de mercado, com elevadas margens de lucro para os importadores irresponsáveis, nem um pouco preocupados com as danosas conseqüências que advirão. É tempo de iniciar uma campanha de conscientização para reverter tal absurdo, retomando-se a proibição do bem indesejável.

Prof. Marcos  Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

 

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