ILUSÃO DE DEMOCRACIA
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro
de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e
Conselheiro da ESG.
Artigo publicado em 05.09.2007
no MM
Democracia pode ser conceituada como “o regime político
inspirado nos ideais de respeito à dignidade humana e na garantia de seus
direitos fundamentais, na divisão e harmonia dos Poderes, na pluralidade
partidária e na livre escolha dos representantes do povo”. Um regime
democrático implica a noção da divisão de poderes em um regime de pesos e
contrapesos através dos quais o Poder seja exercido e, paralelamente,
fiscalizado. O Executivo não pode excluir um Judiciário imparcial e um
Legislativo dinâmico, capazes de exercer o controle
político eficaz dos atos do Executivo. Nenhum poder pode imiscuir-se em
assuntos da específica competência de outro e a sua atuação deve ser orientada
para a consecução dos Objetivos Nacionais.
Não é isto que se verifica no Brasil. O Executivo está sendo
aparelhado de modo político-partidário, onde o critério não é o mérito, mas sim
a indicação do PT e de seus companheiros. No Legislativo praticamente inexiste
oposição e a base aliada conta com 11 partidos cooptados por métodos não
convencionais, através da doação de cargos e verbas. O Judiciário, submetido ao
Conselho Nacional de Justiça, já possui cerca de 40% dos integrantes de suas
mais altas Cortes indicados pelo atual presidente da República. Caminha-se a passos largos para a instituição de um partido
único, o PT, com suas sublegendas subordinadas. No recente congresso petista
teses contrárias à democracia foram aprovadas. O cenário é preocupante.
A
possibilidade de recandidatura, sabiamente alcunhada
de reeleição pelo povo, pois é muito difícil um governante, no exercício do
cargo, sem necessidade de pedir licença ou desincompatibilizar-se, com pleno
domínio da máquina administrativa, perder a eleição. Recursos financeiros,
escassos para os outros candidatos, são abundantes para eles. As empreiteiras e
fornecedoras são pródigas em concessão de doações aos atuais governantes, interessadas
em ganhar licitações e concorrências milionárias, hoje e amanhã. São ainda milhares de cargos em confiança, ao livre dispor.
Os comissionados sabem que perderão seus cargos, caso não se engajem na sua
campanha. E o servidor público é obrigado a afastar-se do cargo, noventa dias
antes do pleito, para evitar a possibilidade de influenciar eleitores. O limite
que separa a atuação lícita do governante e sua ação como candidato é tênue. E
a Justiça Eleitoral nada faz, pois ela aplica a lei formulada pelo Congresso
que é, propositadamente, omissa. Na dúvida, quase tudo é permitido.
A atuação da mídia é altamente preconceituosa. Há ligações
incestuosas entre proprietários de veículos de comunicação, bem como de
editores, jornalistas e os vários candidatos, em especial aqueles que estão no
poder, com o privilégio de destinar verbas vultosas de propaganda e
publicidade, de centenas de milhões de reais. Basta acompanhar o noticiário
diário das revistas, jornais e TV, para verificar quem apóia quem. Há
candidatos que ocupam meia página, com foto, todos os dias, com destaque para
as atuais autoridades no exercício do cargo. Os demais são candidatos secretos.
Só aparecem quando é obrigatório ou para serem atacados.
Fecha-se um círculo vicioso. Os "outdoors" são
democraticamente sorteados, porém quem não tem recursos próprios não consegue
pagar seu aluguel, sendo obrigado a abrir mão deles para os abastados, que
acabam ficando com todos. Os institutos de pesquisa apuram o óbvio, isto é
percentual maior para os "riquinhos" e menor para os demais, às vezes
nem citados, ou mencionados com percentuais ínfimos. Como a maioria das
pesquisas é paga justamente pelos que possuem recursos em abundância, as
diferenças são acentuadas. O povo, geralmente, não aprecia votar em candidato
que não tem condições de vencer, votando nos que estão na frente nas pesquisas.
O horário gratuito eleitoral também não é igualitário. O
tempo destinado aos candidatos é calculado em função da bancada federal de cada
partido. E as alianças eleitorais, por milhões de razões, nem sempre as mais
éticas, proporcionam a alguns candidatos mais de sete minutos. A outros, pouco
mais de 30 segundos, por dia. Os debates são desprezados pelos candidatos que
estão na dianteira, com medo de mostrar sua fragilidade e cair nas pesquisas.
São as regras do jogo impostas pelos oligarcas no poder. Em cada estado, não é
difícil prever o que vai acontecer. É a perpetuação no poder, que se passa ao
longo de gerações, de pai para filho. E chamam a isto de democracia! Como sair
disto e conseguir obter uma verdadeira democracia? Surpresas e acidentes de
percurso acontecem, mas constituem exceções.
E o pior é a manutenção do famigerado “voto eletrônico”,
onde o resultado das eleições é apurado em curto espaço de tempo, porém sem
possibilidade de recontagem dos votos, para comprovar sua validade. Apesar de
todas as denúncias procedentes e sérias formuladas, nada foi mudado. Somente a emissão
do comprovante e a apuração manual em 5% das urnas, aleatoriamente escolhidas,
pode assegurar a confiabilidade do processo. Desta forma, o sistema não é confiável e
coloca em dúvida a lisura dos pleitos no Brasil.
Urge a movimentação de todos os cidadãos, em especial das
forças vivas da Nação, no sentido de alteração urgente das regras do jogo
vigentes, propiciando maior seriedade e transparência a todo o processo
eleitoral.
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