GANHAR PARA MUDAR

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

 

Artigo publicado  em Julho-2001 no jornal Ombro a Ombro.

 

                   O início da campanha presidencial de 2002 foi antecipado, com a diminuição, na prática, do mandato efetivo do presidente FHC. O PT apresentou seu plano econômico de governo, com pompas e circunstâncias. O candidato Ciro Gomes também. Em comum, alguns pontos. Mas o principal é representado pela não alteração das diretrizes impostas pelos "donos do mundo", através de seus instrumentos, como o FMI, a OMC, o Banco Mundial e outros, ao Brasil. De início, comprometem-se a respeitar os contratos draconianos firmados, altamente lesivos ao país, mesmo que legalmente haja a possibilidade de sua alteração. A seguir, garantem o pagamento, sem qualquer contestação, das vultosas dívidas interna e externa. Depois, defendem a manutenção dos impostos "em cascata" e prometem também não contestar as imorais privatizações ocorridas, bem como manter a estratégia de obtenção de superávit operacional do orçamento, para atenuar o déficit nominal. De diferente, apenas postulam atenuar a proibição aos investimentos das estatais, o que, de fato, será difícil de ser obtido, considerando-se a lógica perversa do modelo de dependência a que estamos sendo submetidos.

                   Percebemos que os candidatos Lula e Ciro Gomes, bem como suas respectivas assessorias, estão mudando seus discursos originais para agradar aos "donos do mundo" e  a seus representantes no Brasil, para obter um aval que lhes permita usufruir de generosos financiamentos, bem como de espaços na mídia amestrada, para ganhar as eleições de 2002. O correto seria o contrário, ou seja, ganhar as eleições com propostas adequadas aos interesses nacionais, a fim de mudar o terrível estado em que se encontra o povo e a Nação brasileira.

                    Em qualquer país civilizado, o processo de ascensão ao poder principia pela existência de cultura política, de partidos que possuam uma filosofia, uma doutrina, um ideário de valores. A partir daí, serão elaboradas as plataformas políticas de cada um, consubstanciadas pela apresentação de um Projeto Nacional de Governo. Os eleitores então deverão escolher  o mais adequado, elegendo o candidato que apresentou a proposta mais atraente e factível. No decorrer de seu mandato, as promessas serão cobradas. Caso o país progrida e sua população fique satisfeita, o partido vencedor concorrerá às novas eleições,  com outro candidato capaz de continuar o trabalho empreendido. Em caso contrário, perderá as eleições e outro partido assumirá o poder, com uma proposta alternativa, independente da vontade da rede globo e dos institutos de pesquisa de opinião pública a ela ligados.

                   O referencial comum a 90% dos brasileiros está representado pelos Objetivos Nacionais Permanentes (ONP), metas de longo prazo que devem ser alcançadas, ao longo de gerações, a fim de que o Bem Comum (bem estar a nível individual e coletivo) seja atingido: Progresso, Democracia, Soberania Paz Social, Integração Nacional, Integridade do Patrimônio Nacional. Para isto, intermediariamente, devem ser conquistados os Objetivos Nacionais Atuais (ONA), metas de curto e médio prazo, geralmente ao longo de um período governamental, para propiciar o atingimento dos ONP. Partindo do ONP Progresso, mais íntimo da expressão econômica, o ONA coerente é a concretização do processo de desenvolvimento não só econômico (crescimento acima de 7%  ao ano), como nacional, abrangendo as demais expressões do Poder Nacional (política, psicossocial, militar, científica e tecnológica), ou seja, fazer crescer o PIB, com mudanças na infra-estrutura social, minimizando as disparidades atuais.

                   A próxima etapa é representada pela fixação das "variáveis-meta", em função dos ONA, ou seja, objetivos quantificados, a serem atingidos dentro de fases de um mandato governamental. Por exemplo, garantir o pleno emprego dos fatores de produção, com sua digna remuneração, com absorção de, pelo menos, 20% da parcela desempregada, a cada ano. Para conquistá-los, é necessário utilizar as "variáveis-instrumentais", as políticas (cambial, monetária, de rendas etc.)  que devem ser corretamente empregadas.  Por exemplo,imposição de um tributo sobre as grandes fortunas. É assim que deve ser feito no Brasil!

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