FANTASIAS E FATOS

Prof. Marcos Coimbra

Conselheiro-Diretor do CEBRES, Professor de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.

Artigo publicado em 04.02.10 no MM

 

         É comum a confusão, voluntária ou proposital, que é feita entre a ilusão e a realidade. Muitas pessoas se confundem, transformando fantasias em fatos.

Na semana passada, flagramos algumas delas.

         O anúncio da entrega do título de estadista do ano em Davos ao presidente do Brasil  foi alardeado pela imprensa petista, com alvoroço, como o reconhecimento do mundo ao talento invulgar, à capacidade de liderança mundial, enfim ao ”gênio da raça” Lula. Esta é uma leitura do acontecimento. De fato, não é possível ignorar a vitoriosa ascensão do líder sindical do ABC, o qual conseguiu alcançar a presidência e  exercer seus dois mandatos, com vantagem sobre o príncipe da Sociologia, na maior parte dos campos analisados. Daí a ser escolhido com esta titulação, vai uma enorme distância.         Existem outras interpretações. Uma delas é a razão da outorga do prêmio. Por que os “gringos” escolheram justamente a ele? Em nosso entendimento, a verdadeira justificativa reside no fato de que Lula está sendo dócil aos interesses dos “donos do mundo”, ou seja, aos detentores do poder no sistema financeiro internacional, em especial no tocante aos aspectos econômico-financeiros, quando era esperado o cumprimento de suas promessas de campanha no sentido inverso. Foram esquecidas as promessas de auditoria da dívida externa, da reversão do processo de privatização selvagem e outras.

         Além disto, as medidas adotadas por sua administração no relativo à Amazônia, revelam o prosseguimento das ações de Collor e FHC, no sentido de facilitar a internacionalização da rica região, berço de riquezas incomensuráveis, a verdadeira Canaã do terceiro milênio. A demarcação de áreas indígenas de dimensões gigantescas, justamente em cima das principais reservas de minérios estratégicos do Brasil é um cabal exemplo da intenção desta administração em facilitar o controle pelos alienígenas, na prática, dos recursos valiosos existentes na Amazônia. A realidade contesta a lei. E quem possuir o controle da região será a potência do terceiro milênio.

         Outro fato relevante foi o episódio da hipertensão arterial de Lula e seus antecedentes. É público e notório que Lula antecipou em um ano a campanha eleitoral para a presidência da República, a ser realizada em outubro do corrente ano. Até agora, todas as representações feitas pela oposição ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a infração flagrante foram ignoradas. A Justiça Eleitoral, tão rigorosa em relação a outros agentes políticos que são severamente punidos quando procuram antecipar suas respectivas campanhas, é ostensivamente leniente no relativo a Lula.

         Suas declarações chegam a ser debochadas, revelando a certeza da impunidade. Ele já afirmou textualmente quem é sua candidata e sua vontade em promovê-la em um ritmo frenético de solenidades, “inaugurações” de obras já feitas ou ainda em processo de concretização, pequenos ou grandes comícios, enfim, em todas as oportunidades, até a data da saída da sua escolhida do ministério no último dia, por exigência legal irreversível. E ainda declarou sua decisão de acompanhá-la pessoalmente, em eventos de campanha eleitoral, ele ainda como presidente e ela, aí sim, na condição de candidata registrada, após a convenção eleitoral, depois daquela data. Disse até que se licenciaria, caso fosse necessário, para eleger sua apadrinhada de qualquer maneira. Convenhamos que o fato é uma agressão ao processo democrático brasileiro. Afinal, vamos adotar o modelo bolivariano de presidente perpétuo ou de eliminação do sadio princípio de rotatividade no poder, com o emprego de artifícios como o empregado na Argentina? Um dos principais indicadores de Democracia em países civilizados reside justamente neste princípio, como o recente exemplo do Chile evidencia.

         Mas, afinal, a saúde provocou, pelo menos temporariamente, aquilo que a Justiça Eleitoral deveria ter feito e não fez: a interrupção da campanha eleitoral de Lula. É impossível para uma pessoa manter uma dupla jornada, em ritmo frenético, por muito tempo. É sabido que Lula exerce mais as funções de chefe de Estado do que chefe de Governo, delegadas com satisfação a terceiros. Porém, exercer, ao mesmo tempo, estes encargos, se bem que agradáveis, e comandar uma campanha eleitoral para eleger uma desconhecida, sem tradição no ramo, presidente é demais. Ainda mais uma candidata que possui sérios problemas de saúde, ainda não resolvidos.

         É fato que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe integralmente. São milhares de “cumpanheiros” empregados, muitas vezes sem qualificação adequada, ganhando vultosos benefícios. Além disto, o controle sobre licitações bilionárias em megaprojetos como Olimpíadas, Copa etc, permitem o recebimento de comissões milionárias e a garantia do financiamento garantido de custosas campanhas eleitorais. Quem quer perder este poder? Collor e FHC tinham o projeto de permanência no poder por 20 anos cada um, no mínimo. O PT também possui a mesma intenção. A diferença primordial é que este partido tem uma estrutura nacional, uma ideologia totalitária e vários movimentos ditos sociais, que dão suporte à sua práxis. Será muito difícil  aceitarem pacificamente  a perda do poder.

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