ESTRATÉGIA MAQUIAVÉLICA

 

Artigo publicado em 17.07.2003 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

       A administração petista ganhou as eleições presidenciais de 2002 por intermédio de um discurso, apresentado por um "marketing" de primeira qualidade, de ferrenha oposição à "política" econômica executada por FHC, propondo uma verdadeira antítese à tese existente. Obteve os votos não só dos partidários do partido dos trabalhadores e de seus aliados, como também de todos aqueles insatisfeitos com os descalabros perpetrados pela administração FHC. Nestes primeiros seis meses, a administração petista surpreende a todos, simpatizantes ou não, dando continuidade ao mesmo conjunto de ações econômicas impostas pelo FMI. E mais, além de renovar o acordo, estão sendo mais realistas do que o rei, mantendo uma "política" de aplicação de altas taxas de juros, com uma ridícula diminuição de 0,5% feita na reunião do COPOM do dia 17 de junho, apesar da justa e enorme pressão feita pela Sociedade, até pelo vice-presidente da República, Dr. José Alencar, o qual defende uma redução imediata de 9% na citada taxa.

       É oportuno lembrar a forma técnica como os integrantes do mercado financeiro calculam esta famigerada taxa. Soma-se a taxa de inflação (8,5% ao ano, meta de 2002), com a taxa de risco Brasil (estava arbitrada em 7,5% à época, pelos próprios analistas do sistema financeiro), com 1,5% da prime norte-americana (arredondando a de 1,25% praticada pelos EUA), somando assim 17,5%, ou seja, 9% abaixo dos 26,5% em vigor antes do dia 17.06. Ainda segundo o Dr. Alencar, a cada ponto percentual de diminuição da taxa Selic de juros corresponderia cerca de R$ 9 bilhões de economia para o país, considerando-se os custos diretos e indiretos da parte da dívida pública vinculada à Selic. Alguns economistas calculam em cerca de R$ 5 bilhões o valor economizado na queda de cada 1% na citada taxa. De qualquer modo, é uma cifra respeitável, variando de, no mínimo, R$ 45 bilhões a, no máximo, R$ 81 bilhões, por ano. São recursos "queimados" no pagamento de juros, que deixam de ser aplicados em investimento na infra-estrutura econômico-social.

       O quadro econômico é preocupante. A Economia está estagnada, num estágio pré-recessão. Vivemos em uma economia de cemitério. O preço das medidas adotadas para preservar a estabilidade monetária é muito alto. Segundo o DIEESE, cerca de 20% da população economicamente ativa (PEA) estão desempregados. Mais de metade da população ocupada não possui carteira assinada. Os salários da maioria da população são ridículos. Ninguém tem moeda para gastar ou poupar. Só os banqueiros e os apaniguados políticos, que ganham cargos com vultosos DAS, como compensação pelas derrotas sofridas no pleito de 2002. O sistema bancário consegue obter uma taxa de lucros quatro vezes superior à obtida pela média do setor produtivo brasileiro.

       Para agravar a situação, a atual administração, cumprindo o acordo com o FMI, envia ao Congresso as propostas de reforma tributária e previdenciária. A reforma tributária não pretende alcançar a justiça social. Objetiva apenas aumentar a carga tributária para 40% do PIB e transformar a CPMF de provisória em permanente. A reforma previdenciária representa uma agressão à inteligência do povo brasileiro. Propõe alterações que, inclusive, ferem a Constituição Federal em vigor, em cláusulas pétreas. A propaganda divulgada pela administração Lula é falaciosa. Qualquer cidadão bem informado sabe que o orçamento da seguridade social é superavitário, sem o desvio de recursos para o pagamento de juros.

       Deverão ser aprovadas, pois o rolo compressor do governo, cooptando, de forma tenebrosa, congressistas de quase todos os partidos, tende a impor tudo que desejar. A classe média desaparecerá. Haverá apenas a categoria dos ricos e a dos pobres. A conseqüência será o agravamento das contradições sociais e um terreno fértil para conflitos e eclosão de revoluções, objetivando a transformação da quantidade em qualidade e a implantação de um regime comunista no país. Será esta a meta?

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br

Sítio: www.brasilsoberano.com.br