ESCRAVOS MODERNOS
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
(Artigo publicado em 01.02.2007 no MM).
A escravidão sempre foi uma das grandes tragédias da humanidade. É inadmissível que pessoas humanas sejam encaradas como simples objetos, passíveis de serem utilizados em transações mercantis. E isto, infelizmente, aconteceu na antiguidade em toda a face da Terra e ainda existe, apesar de todos os esforços para impedir tal ignomínia. Ainda há a escravidão mascarada, em algumas regiões do mundo, inclusive no Brasil, onde seres humanos são submetidos a tal prática, sem quaisquer direitos, a não ser trabalhar, nas mais adversas circunstâncias, sem a devida contrapartida. Contudo, há outras formas de escravidão de natureza indireta, na maioria das vezes nem percebida pelos que são escravizados, de fato. Se analisarmos bem a conjuntura, esta será a conclusão lógica. Nos últimos 30 anos, em especial com a queda do muro de Berlim, surgiu uma potência hegemônica, os EUA, principalmente na expressão militar do Poder Nacional. Porém, eles também são manipulados pelos “donos do mundo” (Grupo Bilderberg, Instituto Real de Assuntos Internacionais-RIIA, Comissão Trilateral e seus instrumentos como o Clube de Roma, o Diálogo Interamericano etc.) que comandam os destinos da população mundial. Como são os detentores do poder econômico, cooptam os meios de comunicação mais influentes do mundo, pautando grande parte da mídia e influenciando decisivamente grande parte da humanidade.Não por acaso elegem seus representantes (de sociedades secretas ou até ostensivas, como o Diálogo Interamericano, no caso das Américas) para os principais cargos dos Poderes Executivo e Legislativo, além de influenciar expressivamente o Judiciário.
É comum colocar seus integrantes até na presidência da República, como Argentina (Raul Alfonsín), Brasil (FHC e Lula), Uruguai (Sanguinetti) etc. Até o presidente do Banco Central do Brasil, Sr Henrique Meirelles, foi integrante do Diálogo, bem como o Sr. Roberto Teixeira da Costa, patrono do presidente Lula. Somente possuindo estas informações é que somos capazes de compreender o comportamento esquizofrênico da administração Lula.
Na expressão econômica é inteiramente submissa aos interesses da banca internacional e nacional, com a adoção de medidas tão radicais como a taxação dos inativos e o aluguel de imensas áreas da Amazônia, tentadas mas não concretizadas por FHC. Nas expressões psicossocial e política adota medidas preconizadas pelo Foro de São Paulo, admitindo a ação predatória de movimentos como o MST, MLST e outros, sem a devida instalação de instrumentos preventivos e repressivos.
As classes mais abastadas acumulam cada vez mais riquezas, em especial os bancos (e o Banco do Brasil apresenta um lucro superior a R$ 6 bilhões em 2006, não tendo vergonha de informar que arrecada com receitas de serviços 112% das despesas de pessoal, enquanto leva a CASSI à falência e toma recursos da PREVI), usufruindo “alegremente” das vantagens obtidas, enquanto as categorias menos favorecidas são obrigadas a entrar na informalidade, expandindo a economia informal e recebendo o “bolsa esmola”. A sempre sacrificada classe média, em extinção, acaba transformando-se em produtora dos escravos modernos. Nascem, vivem e morrem dentro os rígidos limites impostos pelos detentores do poder, com raras exceções. O sistema tributário é uma vergonha. Quem ganha muito não paga, com o emprego do “planejamento tributário”, enquanto um cidadão que ganha pouco mais de 4 salários mínimos (SM) mensais é obrigado a pagar. Em 2006 a carga tributária aumenta para cerca de 39% do PIB. Ao mesmo tempo, os serviços públicos estão sendo deteriorados a cada dia (educação, saúde, segurança, saneamento etc.) e vão sendo progressivamente transferidos para a iniciativa privada. Até a previdência pública vai sendo quebrada para dar espaço à previdência privada. Externamente, estamos tão desmoralizados que nas Bahamas, turistas paraenses são humilhados, roubados e colocados em presídios, sem a mínima reação da administração federal. Internamente, o governador Sérgio Cabral apresenta a inacreditável proposta (a não ser para os usuários) da descriminalização das drogas leves, felizmente rechaçada de imediato pelo Desembargador Murta Ribeiro, presidente do TJ do RJ, além de ridicularizada de forma inteligente pelo prefeito César Maia.
O ensino público vai sendo brutalmente esvaziado, em especial com o sistema de cotas, dando lugar a fábricas particulares produtoras de diplomas, “formando” profissionais de baixa qualificação. 94% dos empregos gerados apresentam remuneração inferior a 2 SM e o desemprego, o subemprego quantitativo e qualitativo alcançam mais de 1/3 da PEA. Os cidadãos acordam todos os dias, trabalham duro, formal ou informalmente, sendo extorquidos de todos os modos, direta ou indiretamente, pelo poder público ou então pelos marginais. Como não consegue chegar até o fim do mês com seus parcos rendimentos, endividam-se cada vez mais, acumulando dívidas impossíveis de serem pagas. Os escravos antigos trabalhavam duro, mas tinham pelo menos casa e comida garantida. Os escravos modernos também trabalham duro e nem isto conseguem obter. Isto não é admissível em qualquer país do mundo, ainda mais no Brasil do Século XXI.
Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br
Sítio: www.brasilsoberano.com.br