ENTENDENDO A CRISE MUNDIAL- II
Prof. Marcos Coimbra
Conselheiro Diretor do CEBRES (Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos), Professor de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
(Artigo publicado em 01.10 no MM).
Em continuação ao artigo publicado na semana passada, destacamos as principais medidas que estão sendo propostas na tentativa de solucionar a crise.
A tendência mundial tem sido a de aumentar substancialmente o crédito, na tentativa de recuperar as economias. Porém, isto só funcionará se a confiança for restabelecida. Os graus de risco e de alavancagem das instituições financeiras não teriam chegado aos níveis de 30 a 40 vezes (o do Bearn Sterns chegou a ser de 50 vezes), enquanto no Brasil situava-se entre 3 e 4 vezes. Na verdade, a crise só terminará quando os maus investimentos do passado, impulsionados por “poupança forçada”, ou seja, pela generosidade monetária dos bancos centrais, forem todos desmascarados. Crises dessa natureza, por mais que os governos adotem medidas de estímulos à liquidez, só terminam quando os efeitos dessas más alocações de recursos são eliminados, o que sempre é doloroso. Ou seja, será preciso que as “armadilhas” escondidas nos balanços das instituições financeiras sejam reveladas e naturalmente eliminadas, o que, evidentemente, exigirá tempo.
No G-20, citamos as seguintes: 1 – Criação de Grupo para garantir a estabilidade financeira internacional (G-20, Espanha e Comissão Européia): reforma do sistema regulatório global e das Instituições Financeiras Mundiais; 2 – Regulação financeira dos Fundos Especulativos ( hedge funds) e ação mais rigorosa nos “paraísos fiscais”; 3 - Questão dos bônus para executivos e estímulo fiscal de US$ 5 trilhões até 2010 na economia mundial; 4 – Combate ao protecionismo.
As propostas da União Européia (Conselho Europeu) são: 1 – Criação de um Conselho Europeu de Risco Sistêmico, presidido pelo presidente do BCE, para analisar informações sobre a estabilidade financeira, emitindo advertências e recomendações em tempo hábil; 2 – Criação do Sistema Europeu de Fiscalizações Financeiras, para coordenar a adoção de princípios de fiscalização, garantindo forte colaboração entre as autoridades encarregadas, podendo até tomar decisões no caso de discordância entre os fiscais nacionais; 3 – Acordo de Basiléia III para acompanhar a suficiência de capitais de bancos e empresas financeiras; 4 – Instituição de um sistema de administração de crises e processos de falências para grupos financeiros transnacionais; 5 – Criação do Sistema Europeu de Fortalecimento dos Bancos, objetivando: a – Fiscalização dos 30 a 40 grandes grupos financeiros sistêmicos transnacionais; b - Instituição de um sistema de distribuição dos pesos com critérios pré-determinados em caso de falência ou crise de um grupo transnacional; c - Constituição de um Sistema Europeu de Garantia de Depósitos capaz de completar os congêneres nacionais.
Na China, estão sendo utilizadas as seguintes ações: 1 - Plano de estímulo fiscal de US$ 700 bilhões , cerca de 14% do PIB; 2 – Reservas de cerca de US$ 2 trilhões , com 70% aplicadas em dólares; 3 – Proposta de criação de uma nova moeda de reserva (DES?); 4 – Em torno de 40 milhões de desempregados; 5 – Crescimento de 8% do PIB no ano em curso.
Na América Latina, destacamos o aumento nos investimentos públicos de 32 países da região de US$ 150 bilhões.
Analisando este quadro, podemos concluir: a – A economia norte-americana, devido a sua expressão, possui melhores condições de reação do que a européia e a asiática, devendo sair primeiro da crise; b – Oportunidades de Investimento: existe a busca de onde aplicar os recursos existentes, surgindo a possibilidade de aplicações nos emergentes; c – Os “spreads” praticados dão indicação de um choque financeiro próximo, de proporções semelhantes ao ocorrido após a quebra do Lehman Brothers; d –Sincronização planetária da crise gerando ondas de impacto através de retrações sucessivas da demanda mundial por exportações. Nunca houve, em passado recente, tal eliminação conjugada de consumo e investimento. Vão gastar o dobro para conseguir obter a metade do efeito esperado; e – Deslocamento estratégico dos grandes atores globais, pois as providências adotadas atacam as conseqüências e não as causas reais, agravando a crise sistêmica global, com situações de caos regional (DI); f – Criação de uma nova moeda internacional de referência; g – Perda de cerca de US$ 414 bilhões em PIB de oito países emergentes, incluindo o BRIC (US$ 82,7-2008 e US$ 330,8-2009); h – Redução de US$ 1 trilhão (2008) para cerca de US$ 150 bilhões (2009) em fluxos de capitais para os emergentes; i – Estoque de US$ 600 trilhões de derivativos em todo o mundo; j – Possibilidade de hiperinflação futura próxima; k – Os EUA continuarão a manter a condição de potência hegemônica.
Em nível mundial, o cenário mais provável é ocorrer um W, caracterizado por um período de aquecimento, seguido de outro recessivo. Também no Brasil é provável que ocorra o mesmo.
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