ENTENDENDO A CRISE MUNDIAL
Prof. Marcos Coimbra
Conselheiro Diretor do CEBRES (Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos), Professor de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
(Artigo publicado em 24.09.09 no MM).
É uma necessidade imperiosa debatermos as razões da crise mundial que provocou, provoca e provocará ainda sérias conseqüências em todos os países do mundo, em todas as expressões do Poder Nacional,em especial na expressão econômica. Desta forma, vamos procurar aprender a lição, objetivando minimizar seus efeitos danosos e evitar sua repetição.
Dentre as principais causas destacamos uma geral, representada pelos interesses dos “donos do mundo”, que são os detentores do controle do sistema financeiro internacional, independentemente de etnia ou nacionalidade. Não são apenas os “louros de olhos azuis”, como afirmou o Sr. Lula. Há séculos eles ganham fortunas e não admitem perder sequer m centavo nas vultosas transações financeiras realizadas mundialmente.
Em função de sua atuação, foi acelerado o processo do surgimento dos megablocos econômicos, de uma potência hegemônica, a imposição do neoliberalismo, da globalização, bem como pela elaboração de diretrizes impostas aos países extratores de matérias-primas. Daí, surgiram a Trilateral (união de capitalistas americanos, japoneses e europeus), Diálogo Interamericano – DI - (1982) e Consenso de Washington (1988), que objetivam impor suas idéias aos demais países. A exemplo da crise da década de 1970 (guerra do Vietnã), atualmente constatamos despesas enormes com as guerras do Iraque, Afeganistão etc., executadas pelos EUA. A título de exemplo, vamos citar algumas personalidades integrantes do DI na América Latina, Caribe e Canadá: Andrés Allamand, Fundador e presidente do Partido Nacional de Renovação do Chile, membro do congresso de 1993 até 1997; José Octavio Bordón, governador da província de Mendoza na Argentina, candidato a presidente nas eleições nacionais de 1995, embaixador nos Estados Unidos entre 2003 e 2007; Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente brasileiro; Joe Clark, primeiro ministro do Canadá; Sergio Fajardo, prefeito da cidade de Medellín de 2004 até 2007, candidato á presidência para as eleições de 2010; Lourdes Flores Nano, membro do Congresso Peruano de 1990 até 2000, candidata à presidência em 2001 e 2006, presidente do Partido Popular Cristão; Enrique V. Iglesias, secretário geral do Secretariado Geral Iberoamericano, Madri, foi Presidente do Banco Inter Americano por 17 anos; Ricardo Lagos foi presidente do Chile e é, atualmente, presidente da Fundação Democracia e Desenvolvimento e do Clube de Madri; Jorge Montoya foi presidente Latino Americano da Procter & Gamble, nascido no Peru, mora na Venezuela. Ainda, Lula e Ciro Gomes (entraram e saíram), Meirelles etc.
Outro ponto importante a considerar é o fato de que o FED (Bacen americano), ao contrário do Brasil não é um órgão público. Em 1913, houve a criação de um conjunto de doze bancos regionais nos EUA, de controle acionário privado, cada um deles denominado Federal Reserve Bank of..., seguindo-se o nome da cidade e do estado onde cada um fosse estabelecido, constituindo um sistema integrado e cartelizado, o Federal Reserve System. Eles são designados por números de 1 a 12 e por letras maiúsculas de A até L: 1 – Boston/Massachusetts (A); 2 – New York/New York (B); 3 – Philadelphia/Pensnsylvania (C); 4 – Cleveland/Ohio (D); 5 – Richmond/Virginia (E); 6 – Atlanta/Georgia (F); 7 – Chicago/Illinois (G); 8 – St. Louis/Missouri (H); 9 – Minneapolis/Minnesota (I); 10- Kansas City/Missouri (J); 11- Dallas/Texas (K); 12- San Francisco/California (L).
Outras causas específicas foram as taxas de juros artificialmente baixas praticadas pelo Fed, o enorme déficit orçamentário do governo americano. falhas de regulamentação (elevaram risco e alavancagem), tratamentos desiguais para casos semelhantes (AIG, Lehman Brothers), manipulação da taxa de juros pelos EUA e da taxa de câmbio pela China
Em uma cronologia da crise, nos anos 90, os EUA adotaram políticas fiscal e monetária excessivamente frouxas (que chegaram ao ponto de manter por mais de um ano a taxa de juros nominal em 1%, o que, descontada a inflação, significou a imposição de uma taxa de juros negativa). O governo chegou ao ponto de criar duas empresas semi-públicas, a Fannie Mae e a Freddie Mac, para bancar a farra, especialmente no mercado de construção de imóveis e sua contrapartida financeira, o de hipotecas. Todos os americanos que desejassem uma casa própria teriam empréstimos fartos a juros praticamente nulos e, ainda por cima, em caso de problemas, sabiam que o governo garantiria os empréstimos com aquelas duas empresas, que foram finalmente estatizadas em setembro de 2008, logo após a quebra da Lehman Brothers.
Em maio/junho de 2006, houve um impacto setorial da alta de juros sobre as empresas de construção residencial, em janeiro/fevereiro de 2007, sobre as empresas de financiamento imobiliário (inadimplência das hipotecas) e em julho/agosto de 2007, a crise se transmitiu aos títulos lastreados nesses empréstimos. A partir de setembro de 2008, todos sabem a história: colapso do Lehman Brothers, estatização das duas empresas (Fannie Mae e Freddie Mac), intervenção em uma das maiores seguradoras privadas (AIG); as intervenções do Fed já não são suficientes e o governo recorre aos contribuintes; o Tesouro anuncia um plano de US$ 700 bilhões para comprar ativos podres, mantendo a taxa de juros abaixo da inflação corrente, a União Européia decide comprar ações de bancos privados; o governo americano decide fazer o mesmo; pânico nas bolsas de valores em todo o mundo e alastramento da crise para o mundo.
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