ENSINO E EDUCAÇÃO
Prof. Marcos Coimbra
Conselheiro da ESG,
Professor aposentado de Economia da UERJ e Membro do Centro Brasileiro
de Estudos Estratégicos(CEBRES).
Artigo escrito em 02/2006 para o Vila em Foco.
O principal fator de Desenvolvimento Econômico de um país
reside na educação do povo. E entenda-se Educação em seu conceito mais amplo,
abrangendo desde a transmissão de princípios e valores pela família, passando
pelo ensino formal, até chegar ao processo de absorção de informações efetivado através de outros
canais, como a leitura voluntária, as notícias dos meios de comunicação etc.
Não conhecemos qualquer país pertencente ao seleto grupo
dos mais desenvolvidos que tenha atingido tal posição, sem antes ter feito um
investimento maciço no ensino. Foi assim nos EUA, no Japão e agora na Índia e
na China. E o esforço deve principiar pelo ensino básico, de boa qualidade, de
caráter universal, obrigatório. A base é fundamental. E o critério de ingresso
e de aprovação deve ser o mérito. A utilização de
experiências exóticas importadas de outras culturas e rincões deve ser evitada.
Inclusive, algumas já abandonadas por eles, como o sistema de cotas para alunos
da raça negra ou oriundos do ensino público. É uma
forma de discriminação odiosa e de verdadeira agressão aos supostos
"beneficiados". É o início do fim. Depois, virá a "aprovação
automática" nas Faculdades, como no primeiro grau. As conseqüências são
conhecidas. Crianças que, após quatro anos na Escola, ainda são analfabetos funcionais.
Vamos formar o que? Não é isto que o Brasil necessita e
precisa. É dever do Estado propiciar ensino gratuito e de excelente qualidade
em todos os níveis a todos. O primeiro grau, de responsabilidade municipal, o
segundo grau, de âmbito estadual e o terceiro grau, da União, principalmente.
Isto não quer dizer que não existam excelentes Universidades estaduais ou
excepcionais colégios federais, como o Pedro II e o Militar. A desculpa da
inexistência de recursos é ridícula. Há recursos para pagar R$ 157 bilhões de
juros da dívida interna e cerca de US$ 15 bilhões de juros da dívida externa ao
ano. O total de investimentos aplicado em saúde e educação pela administração federal não chega a 1/3 do valor desperdiçado em juros
internos. O resultado foi o de que o
segmento financeiro, isolado, foi o mais lucrativo de todos, em 2005,
auferindo dezenas de bilhões de lucros. É um escândalo! Além da
transferência de recursos do setor produtivo para o setor financeiro, a
administração petista ainda poupa recursos, deixando de investir em
infra-estrutura econômico-social para enriquecer os banqueiros nacionais e
internacionais..
É imperioso salientar que, a exemplo dos setores saúde,
energia, comunicações e transportes, também na educação, houve, nos últimos 20
anos, seu progressivo esvaziamento, com a queda progressiva de investimentos
públicos e o conseqüente avanço do segmento privado em todos eles. E a
deterioração crescente dos serviços prestados, em especial no ensino do 3°
grau. Atualmente, a iniciativa privada responde por cerca de 80% dos alunos
matriculados no ensino superior. O ensino público está sendo destruído
implacavelmente, a cada ano. Os profissionais são mal pagos. As funções de
extensão e pesquisa vão sendo abandonadas, por "escassez de
recursos". As instalações e equipamentos estão em processo de
sucateamento. E a administração federal apresenta como solução o aumento de
vagas em instituições privadas de ensino de 3° grau,
em troca da isenção de pagamento de contribuições e tributos. Pura demagogia! É
mais um subsídio para os empresários particulares de ensino. Por que não
investir na Universidade Pública e aumentar seu número de vagas? Para não
concorrer com as instituições privadas de ensino superior?
A grande maioria delas apresenta a seguinte situação. Os empresários estão em
excelente situação econômica. Enquanto seus alunos não conseguem empregos no
"mercado", seus filhos, noras e genros são contratados, em excelentes
situações financeiras, com posições de comando, por "coincidência",
nas suas faculdades. Passam a dirigir aqueles que foram seus professores ontem.
E como são arrogantes! Se pelo menos tivessem competência e valor. Mas galgaram
os novos postos por herança, não por mérito. Os alunos pagam valores
expressivos. E os profissionais de ensino, professores e outros funcionários,
estão sendo demitidos sumariamente, para diminuir custos. Os currículos são
alterados para agrupar turmas de cursos diferentes. Seus salários, 13°,
reajustes estão atrasados, há meses. Recebem declarações de rendimentos que não
foram pagos. Quando pedem à Caixa Econômica o FGTS devido, recebem a notícia de
que os valores não são depositados há anos. São obrigados a recorrer à Justiça
e demorar anos para receber a importância prevista. Comenta-se que os valores
recolhidos na fonte para INSS, Receita Federal etc.
não são recolhidos. Várias Universidades usam o contrato temporário. E ganham
milhões todos os meses. E a qualidade de ensino desaba. É este o modelo padrão
do futuro ensino no país? E nenhuma autoridade faz nada.
As famílias são obrigadas a trabalhar o dia inteiro para
sobreviver. Pais mães não conseguem mais contato físico regular com seus
filhos, que são criados pelos avôs, babás ou creches. Muitos são sustentados
pelos pais, pois não conseguem emprego. Muitas TVs abertas produzem "lixos
culturais". Alguns meios de comunicação empreendem uma verdadeira
"lavagem cerebral", inoculando na juventude conceitos e informações
falsas, promovendo perversões, anomalias comportamentais e vícios, procurando destruir
as Instituições e os princípios e valores legados por nossos antepassados. Com
este panorama será difícil reverter a anarquia
reinante.
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