ENCRUZILHADA DECISIVA
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG
Artigo publicado em 08/05/2008 para o Monitor Mercantil
A administração Lula foi eleita, em grande parte, pelos votos dos simpatizantes do Partido dos Trabalhadores e de seus aliados. Mas, também, por parcela ponderável de eleitores insatisfeitos com a "política" adotada por FHC. E o discurso do então candidato foi bastante incisivo no sentido de condenar o que estava sendo feito e propor outro leque de soluções. Daí, a surpresa inicial de todos ao verificar que o novo presidente não apenas continuou a exercer a mesma "política" perpetrada pelo anterior, como também chegou a aprofundá-la, sendo mais realista do que o rei. Talvez em nome da governabilidade, a nova administração, além de manter o acordo com o FMI, permaneceu com a perversa tática da manutenção de elevada taxa Selic de juros. Somente agora, depois da pressão clamorosa de toda a Sociedade, abaixou em modestos 0,5% a citada taxa, o que deverá manter a Economia Brasileira em processo de estagnação, pelo segundo semestre do ano em curso.
As conseqüências destas medidas são conhecidas. Continuam o desemprego em torno de 20% da população economicamente ativa, a brutal transferência de renda do setor produtivo para o segmento financeiro, o qual chega a obter uma margem de lucro quatro vezes superior, no Brasil, à da média dos outros, provocando o agravamento da concentração de renda no país. Os privilégios auferidos pelos grupos financeiros não têm limites. Até o FMI denuncia, em relatório, a existência de um oligopólio no setor financeiro, fato capaz de explicar os elevados ganhos por eles obtidos. Aplicam nossos depósitos em títulos cambiais e títulos da dívida pública, cobram tarifas exorbitantes, capazes de cobrir todas as suas despesas de pessoal, não oferecendo o crédito necessário ao bom funcionamento do sistema econômico. Além disto, persistem os baixos salários pagos, a exclusão social, a fome, a desesperança.
As reformas enviadas ao Congresso pela administração Lula representam o cumprimento do acordo com o FMI, sendo, na realidade, as mesmas propostas pela administração FHC, com maior intensidade. Devem ser aprovadas, devido ao rolo compressor comandado pelo Planalto. O Diário Oficial, quando usado para estes fins, é praticamente imbatível. Os congressistas, de um modo geral, estão sequiosos por cargos e verbas e confiam na péssima memória dos eleitores. O pacote tem de ser aprovado este ano, pois em 2004, ocorrerão as eleições no campo municipal. E, então, os políticos começam a temer o recado das urnas. A mídia amestrada está recebendo vultosas verbas publicitárias oficiais para veicular propaganda enganosa, destinada a jogar a opinião do povo contra os servidores públicos. Porém, os resultados destas ações poderão ser nefastos para o Planalto, tal como uma vitória de Pirro. A reação maior virá das próprias bases autênticas do PT, pois a verdadeira oposição está restrita ao PRONA e a parte do PDT, além de partidos sem representação no Congresso, tal como o PSTU e o PCO.
De fato, a administração Lula está numa encruzilhada. A primeira hipótese é manter a atual "política" preconizada pelos "donos do mundo", agradando-os e preservando os fluxos de capitais externos. Em mais um ano, Lula não terá condições de andar pelas ruas das principais cidades do país, sem ser vaiado ou passar por coisa pior. A outra opção é resgatar os compromissos iniciais da campanha do PT, não só para a presidência, como as anteriores, não renovando o acordo com o FMI e partindo para a retomada do desenvolvimento. O preço a ser pago será a pressão do sistema financeiro, capaz de retaliar com a suspensão do aporte de capitais externos e outras medidas, abalando nosso sistema econômico.
A decisão será crucial para o futuro do país. Seremos uma potência emergente, diminuindo o grau de dependência externa, partindo para o ciclo virtuoso do desenvolvimento auto-sustentável ou mais uma colônia, dominada pelos "donos do mundo". Infelizmente, a aparente decisão do presidente Lula, após retornar dos EUA, de aderir à ALCA em 2005, é um péssimo indício. Teremos que reagir pronta e energicamente para impedir a anexação do país aos EUA, segundo palavras anteriores proferidas pelo próprio presidente Lula.
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