ELEIÇÃO DEVERIA SER COISA SÉRIA
Prof. Marcos Coimbra
Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
(Artigo publicado em 09.08.12-MM).
Aproxima-se a eleição municipal de outubro. Mais uma vez muitos candidatos apresentam-se ao eleitorado, prometendo mundos e fundos, em um verdadeiro festival de ilusões, que não serão cumpridos. Vende-se um candidato como se fosse um produto, com roupagem cosmética, realizada por peritos em propaganda eleitoral, os famosos “marqueteiros”, cada vez mais milionários a cada eleição. Na realidade, eles “fabricam” algo inexistente, iludindo o ingênuo eleitor, vestindo um lixo com uma roupagem de luxo. Quem já participou de uma eleição, como foi nosso caso em 2000 à prefeitura do Rio de Janeiro, infelizmente é obrigado a conhecer os bastidores de uma eleição.
Se o candidato não pertencer a um dos maiores partidos existentes, principalmente na candidatura a prefeito, será inteiramente marginalizado, em especial pela mídia amestrada. Terá um ínfimo tempo de televisão, denominado de gratuito, quando não o é, pois as emissoras de rádio e TV usufruem de compensação, a valor de mercado, do tempo usado no horário eleitoral. Para colocar o programa no ar, existe um custo alto em recursos materiais e humanos. Dificilmente terá recursos para dispor de uma estrutura capaz de propiciar-lhe alguma chance de sucesso, pois precisa fornecer material de campanha e recursos financeiros aos candidatos a vereador de seu partido ou coligação. Caso não o faça, será abandonado por eles, que irão aliar-se aos candidatos com maiores recursos. Será fiscalizado com muito maior rigor do que os “riquinhos”.
Necessita de uma coordenação de campanha, com profissionais capacitados, além de um verdadeiro exército de “cabos eleitorais”, com a missão de torná-lo conhecido, alimentando a campanha até a proclamação do resultado final. Neste processo, duas etapas são importantes. A chamada “boca de urna”, a qual, apesar de vedada pela Justiça Eleitoral, continua a ser praticada pelos candidatos possuidores de vastos recursos, pois é muito difícil de ser fiscalizada, e a fiscalização no dia da votação e no acompanhamento da apuração. Tudo isto custa muito dinheiro. Os mais bem colocados nas pesquisas somente participam de dois debates (Band e Globo), fugindo dos demais. Assim, o povo desconhece os demais.
E como conseguir estes recursos? O candidato, mesmo que seja rico, não costuma aplicar recursos próprios. O volume principal de recursos é proveniente de grandes empreiteiras, grupos financeiros, concessionárias de serviços públicos, em especial da área de transportes, multinacionais e outras. Por que este interesse? Simplesmente porque se trata de um investimento, que resultará em retorno garantido no futuro. Após a posse, o novo prefeito terá o poder de recompensar os “amigos”, por ocasião das licitações de grandes obras, da “terceirização” de serviços públicos, com destaque para o setor de saúde, da renovação generosa de concessões etc.
Na prática, verificamos os procedimentos adotados pelo atual prefeito do Rio de Janeiro, candidato à reeleição. Sua “idéia-força” reside na argumentação de que deve ser reeleito porque é o único capaz de assegurar o fluxo de recursos do Estado do Rio e da União para o município. No caso de ser aceita a tese, revela o absurdo de admitir a existência de um irregular conluio entre os atuais governantes dos três entes federados, que discriminariam outro candidato eleito por outra coligação, em prejuízo da população carioca.
A empáfia do candidato peemedebista chega ao ponto de, no domingo, ao ser indagado por um jornalista, quando em campanha na Zona Norte, sobre a presença ao seu lado do candidato a vereador Marcelo Sereno, ex-assessor do Sr. José Dirceu, respondeu: “Não te interessa”. Qualquer analista político isento, ao examinar os principais itens que deveriam fazer parte obrigatoriamente de qualquer programa básico de um candidato, quais sejam saúde, educação, segurança, saneamento básico, iluminação pública, qualidade de pavimentação das ruas, transporte público de qualidade, responsabilidade fiscal e outros, reprovaria o atual alcaide. De fato, sua campanha está direcionada, além da “idéia-força” citada, para a realização da Copa do Mundo de 14 e para os Jogos Olímpicos de 2016.
Quem habita no município, aqui trabalha, estuda e deambula, sente na pele a progressiva deterioração da qualidade de vida na cidade, o trânsito enlouquecedor, as multas abusivas, a sujeira nas ruas e calçadas, o abandono da obrigação do atendimento às necessidades coletivas, as idéias megalomaníacas, como a de derrubar o viaduto da Perimetral, a falta de projetos vitais para a sobrevivência com dignidade do cidadão, “agraciado” com crescente tributação criada pelo prefeito, como a inominável “taxa de iluminação pública”, cobrada abusivamente na conta da Light, em valor proporcional ao consumo privado do usuário.
O prepotente “vendedor de ilusões” deve receber nas urnas a lição de humildade necessária a toda pessoa que acredita ser mais capaz do que é, estimulado pelos “elogios” do seu patrono, Sr. Sérgio Cabral, que pretende elegê-lo governador em 2018, após a “nomeação” do seu atual vice, Sr. Pezão em 2014, confiando na formidável máquina eleitoral conjugada, nas três esferas de governo: municipal, estadual e federal. É a perpetuação no poder de uma nova dinastia, a “cabralina”.
Afinal, eleição é coisa séria. Não pode ser tratada com irresponsabilidade. O exercício da função pública exige também arcar com o ônus dos encargos assumidos e não apenas do usufruto dos bônus.
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