A DOAÇÃO DA VARIG É O ESCÂNDALO DO DIA

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Conselho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 12/06/08 para o Monitor Mercantil

 

         O bravo povo brasileiro, infelizmente, está começando a ficar habituado com o festival de escândalos que assola o país. Todo dia explode um, mais grave do que o anterior. Seja na esfera federal, a mais comum diga-se de passagem, na estadual ou na municipal. E o pior é que não há a punição adequada. Somente agora a Justiça de Belo Horizonte condenou o Sr. Marcos Valério, um dos responsáveis pelo “mensalão”, a um ano de prisão, porém em regime aberto, por falsidade ideológica, pena transformada em multa e prestação de serviço comunitário, cabendo ainda recurso. Assim, é difícil esperar algo de positivo no horizonte.

         É um péssimo exemplo do descompasso existente entre os três poderes da República para o contribuinte que paga por tudo isto. A realidade é que estão roubando muito. No tempo perdido em contar os recursos desviados, de “n” formas diferentes, pouco sobra para trabalhar, para realizar algo em prol da comunidade. E haja criatividade. 

Na esfera estadual, após o escândalo do Rio Grande do Sul, no qual um dos principais jornais do Rio de Janeiro equivocou-se, talvez pela força do hábito, ao publicar que teria sido de responsabilidade de uma administração do PT, quando na realidade tinha sido de um “governo” do PSDB, surge agora no Rio de Janeiro o da imposição do sistema perverso das chamadas “fundações” no vulnerável setor de saúde. Profissionais concursados, com anos de experiência profícua, estão sendo perseguidos, humilhados, sofrendo um verdadeiro assédio moral, para aposentar-se, aqueles que podem, para abrir lugar para contratações de caráter político-partidário, a menos de quatro meses das eleições municipais. Alguns com trinta anos de chefia são afastados para ceder o lugar para apadrinhados políticos ocuparem seus lugares, comandando inclusive concursados, criando um constrangimento enorme. E recebem o mesmo salário dos concursados, há mais de seis anos sem reajuste. Vigora o nepotismo. E o governador? Bem, como sempre está viajando pelo exterior ou preparando-se para outra viagem, sempre a “serviço”, por interesse do Estado, com agendas mirabolantes. Enquanto perdura o caos na segurança, na educação, na saúde, S.Exª prepara-se para ser candidato a vice-presidente na chapa governista.

Na esfera municipal, podemos citar, dentre os muitos exemplos, o da perspectiva de realização de uma Olimpíada no Brasil, pois soma as três esferas de poder. Após a orgia de recursos dilapidados com o PAN no Rio de Janeiro, com gastos superiores em oito vezes o orçado no planejamento original, sem ter havido a concretização de obras verdadeiramente úteis para a população, podemos prever o que ocorrerá, caso o Rio de Janeiro seja escolhido como sede. Mais algumas centenas de milionários surgirão no país.

Mas, o escândalo do dia é o do, para lá de suspeito e esquisito, processo de  destruição da VARIG, com sua compra inicial pelo fundo norte-americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros, com sua posterior aquisição pela GOL.  A ex-diretora da ANAC, Sra. Denise Abreu, fez denúncias gravíssimas, envolvendo não só a ministra Dilma Roussef, como várias outras personalidades importantes da República, como o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente, figura constante do noticiário sobre negócios da administração petista com empresários de toda sorte.

Em 27.07.2006 escrevemos neste espaço o artigo com o título “A VARIG, a SELEÇÃO E O BRASIL”, do qual reproduzimos uma parte: “O inadmissível é verificar apassividade” da atual administração Lula na busca de uma solução para o problema criado. Todos os dias a imprensa divulga o drama de centenas de pessoas desesperadas. Existe um processo diário de destruição da VARIG. Ela foi vendida a um conglomerado, que, segundo os jornais,  pertence a um empresário estrangeiro. As concorrentes deitam e rolam, aumentando os valores cobrados pelas passagens, direta ou indiretamente. É evidente que não possuem estrutura para atender à demanda existente. Existe uma obrigação de R$ 9 bilhões a ser encarada e milhares de trabalhadores foram demitidos. O problema sério da previdência. Milhares de aposentados ameaçados. E ninguém faz nada para ajudar a VARIG. É inexplicável, considerando o passado recente (PROER, AES e outras pérolas), onde os recursos públicos foram utilizados para socorrer até empresas estrangeiras e ricos capitalistas.

 No futuro, talvez saibamos quais as verdadeiras razões de tudo isto. É só verificar quem lucra com a situação da VARIG. Logo depois do trágico acidente do avião da Gol com o Legacy, começaram a surgir problemas de controle de vôo, que nunca tinham aparecido até então, causando transtornos inimagináveis principalmente aos passageiros. A ANAC, eficiente na contratação sem concurso de “companheiros”, bem como na solicitação de passagens de cortesia, em especial nos fins de semana, revelou-se inteiramente despreparada para resolver o problema. E o caos aconteceu, sem previsão de solução.

Parece que a resposta a nossas indagações foi dada. Até quando o cidadão brasileiro suportará passivamente a todo este descalabro?

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