DESRESPEITO AO CIDADÃO-III

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 30.09.2004 no Monitor Mercantil.

 

       Um dos principais jornais do país veiculou, há dias, grave denúncia relativa a uma espécie de "mesada" que congressistas receberiam da administração federal em troca de apoio às votações de interesse do partido no poder. A contestação foi apresentada rapidamente e o tema já começou a cair no esquecimento, em função da falta de provas do ilícito denunciado. De fato, é praticamente impossível a obtenção de prova de um delito desta magnitude. Isto porque em qualquer ato de corrupção existe o corruptor ativo e o passivo. Qualquer um deles que se exponha, confirmando a irregularidade, estará colocando-se como réu confesso. Porém, os rumores correm pelos corredores do Congresso, com a menção até de cifras. As "mesadas" mais modestas seriam de R$ 20.000,00 mensais, alcançando valores maiores para políticos mais expressivos. Os eleitores acompanham, perplexos, a discussão e começam a entender pontos até então obscuros, caso a denúncia seja verdadeira. Como, por exemplo, as razões que levam um deputado federal ou um senador, eleito por um partido, ao tomar posse, abjurar os "ideais" até então professados e transferir-se para outro partido, com  orientação ideológica diferente.

       É só comparar o tamanho das bancadas dos partidos, por exemplo, na Câmara dos Deputados, ao término das eleições de 2002 e agora. Verifica-se nitidamente que os partidos ditos de oposição emagreceram, enquanto que os partidos pertencentes à base governamental passaram a sofrer de obesidade. O PRONA é um exemplo característico. Foram eleitos seis deputados federais por São Paulo, cinco deles, com votações extremamente modestas e agora só restam dois. Quais as razões capazes de levar congressistas a tal posicionamento? Já que existe um pujante jornalismo investigativo, fica como sugestão a pesquisa do patrimônio de cada um dos políticos que assim procederam, bem como de seus familiares mais próximos, da data da eleição até a data do término do mandato. Acreditamos que os pesquisadores chegarão a conclusões interessantes.

       Outro desrespeito flagrante foi praticado, com extrema habilidade, pela administração  atual da INFRAERO. Sob a desculpa do congestionamento do aeroporto Santos Dumont, de fato verdadeira em grande parte, transferiu os vôos nacionais, à exceção da ponte aérea Rio-SP e os regionais para o aeroporto do Galeão, hoje denominado de Tom Jobim. As conseqüências para os usuários foram negativas. Antes da transferência, as próprias companhias de navegação aérea reconheciam isto, ao oferecer tarifas diferenciadas em relação à origem e ao destino dos vôos. Os que chegavam e partiam do Tom Jobim, sempre foram bem mais caros. A distância é bem maior, pois o Galeão está distante em cerca de 30 km do centro da cidade, enquanto o Santos Dumont está no seu coração.

 Em viagens de curta duração, corre-se o risco de gastar mais tempo viajando até o Galeão do que na viagem aérea propriamente dita. O transporte por táxi é bem mais caro e ficar na dependência dos ônibus oferecidos pela INFRAERO é, no mínimo, ingênuo. Vai ser também mais tempo gasto. E o pior é a questão da segurança. A Linha Vermelha, em especial em horários noturnos, apresenta um risco mais grave do que o transitar por Bagdá. Agora,  nesta faina, obras suntuosas deverão ser feitas, de "reforma", fazendo a alegria dos grandes empreiteiros e dos intermediários. E a conseqüência lógica será o aumento da taxa de embarque. Outras transferências de locais estão sendo planejadas, como Confins, em Belo Horizonte.E daqui a pouco vão partir para sair de Congonhas e ir para Guarulhos. De fato, nenhuma autoridade possui a preocupação em respeitar o cidadão e saber o que ele deseja. Os mais espertos costumam apenas contratar um instituto de pesquisa capaz de apresentar o relatório mais conveniente aos seus anseios. E o cidadão paga duplamente.

       No Rio de Janeiro, a questão da segurança pública chega a ser dramática. Já existe um verdadeiro manual de sobrevivência divulgado pela Internet, ensinando ao cidadão  como proceder para tentar minimizar a certeza da violência que virá contra ele, mais dia menos dia, sob a forma de furto, assalto, seqüestro ou outra pior. E os "capitulacionistas" de plantão vibram com a perspectiva de propiciar mais conforto ao marginal em suas atividades contra os cidadãos de bem, através, por exemplo, da implantação do famigerado estatuto do desarmamento, em vigor há nove meses, com a apresentação de resultados que não deixam dúvidas quanto à falsidade da argumentação levantada em prol da emasculação dos cidadãos dignos, honestos e de bons costumes. E foi apenas o primeiro passo. Depois, partirão para o objetivo final que é o de desarmar até a polícia e as Forças Armadas.

Até quando o povo brasileiro suportará tamanha humilhação e tantas agressões?

Não temos dúvida que a reação virá, mais cedo ou mais tarde, com  conseqüências desastrosas.

Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br

Sítio: www.brasilsoberano.com.br