CONJUNTURA BRASILEIRA

Artigo publicado em 18.07.2002 no Monitor Mercantil

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

 

         Analisemos  a atual conjuntura brasileira, em especial a  econômica, com base nos indicadores fornecidos em sua maior parte pelos próprios órgãos da administração FHC. Recordemos alguns deles. O déficit nominal alcançará  mais de 6 % do Produto Interno Bruto (PIB). O déficit do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes ficará em torno de US$ 21 bilhões. O desemprego atinge mais de doze milhões de brasileiros. O PIB permanece estagnado.  O país pagou nos últimos doze meses em torno de R$ 120 bilhões de juros da dívida interna. Só de amortizações da dívida externa o Brasil terá de pagar US$ 30 bilhões no decorrer do corrente ano. Segundo o Banco Central (BACEN), as necessidades para fechar nossas contas externas serão de US$ 50 bilhões. A taxa de juros SELIC permanece nos indecentes 18,5%. O sistema financeiro obteve, no primeiro semestre, no Brasil, lucros fantásticos, praticamente sem pagar imposto de renda. A inadimplência aumenta a cada mês. A inflação oficial ultrapassa a meta fixada com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A Argentina prossegue em sua agonia, atingindo o pior resultado, em sua história, no tocante à classificação de risco para investidores estrangeiros. Nosso modelo econômico, excessivamente dependente, expõe sua vulnerabilidade, obtendo resultados parecidos. 

         A nível qualitativo, diagnostica-se a carência brutal em termos de geração de empregos de qualidade, de erradicação da pobreza absoluta, de atenuação dos desequilíbrios regionais e  outros. Na expressão psicossocial, pauperiza-se a classe média, em processo de desaparecimento. A  saúde pública  apresenta resultados alarmantes, caracterizando um verdadeiro genocídio. A administração FHC só investe nela cerca de R$ 20 bilhões por ano. O  processo educacional público não forma nada, nem ninguém. A insegurança aumenta. A reforma da previdência devolve o trabalhador ao tempo da escravatura. Existem funcionários públicos que estão há oito anos sem reajuste salarial, tendo seu poder de compra reduzido para menos da metade do possuído há oito anos. A corrupção atinge níveis alarmantes. O exemplo do  Estado do Espírito Santo, do município de Santo André  e outros  não deixam dúvidas sobre o que está ocorrendo no país.

Na expressão política, o sistema financeiro internacional continua a eleger e derrubar presidentes e outros menos votados. O Congresso demonstra, com os últimos episódios, o grau de corrupção acentuada e sua tibieza. Deputados mudam de partido em troca de benesses diretas e indiretas. Os eleitos são perfeitos representantes do nosso Legislativo. O Estado Nacional Soberano é paulatinamente destruído. O acordo de Alcântara, com parecer contrário do relator da Comissão de Defesa do Estado e de Relações  Exteriores, por manobra do ex-presidente da Câmara de Deputados,  foi encaminhado à Comissão de Ciência e Tecnologia, onde foi aceito, contrariando a vontade nacional e caracterizando mais um crime de lesa pátria. Agora, está na Comissão de Constituição de Justiça, onde seu relator, o deputado Zenaldo Coutinho, antes contrário à sua aprovação, agora, pressionado pela administração FHC, ameaça voltar atrás. A aprovação da reeleição representou um " golpe branco". A ação empreendida pelo sistema financeiro internacional dominando os meios de comunicação de massa, o controle do Legislativo e do Judiciário (em fase de conclusão) pelo Executivo e a cumplicidade da oposição, em parte já cooptada, pode provocar a continuidade, com a vitória da "oposição" de francaria.  Com mais quatro anos de mandato condicionado à vontade externa, depois de oito anos de entreguismo, pouco sobrará do Brasil que recebemos de nossos antepassados. Talvez nem a Amazônia. Falta à elite a visão estratégica, de longo prazo.

 

         Na expressão militar, o  percentual de gastos com defesa em relação ao PIB é reduzido, sendo que a maior parte para atender a despesas de pessoal. Sobra pouco para cobrir custos de adestramento e aprestamento. E a mídia amestrada silencia. Denunciavam que, na época do regime dito militar, o Brasil era colônia dos EUA. Agora, quando os neoesquerdistas estão no poder, nunca houve uma  influência tão impositiva dos EUA sobre o Brasil como  no momento. Acabaram até com a indústria bélica nacional. A ENGESA, a IMBEL a AVIBRÀS que chegaram a concorrer e ganhar, em concorrências internacionais, dos mais tradicionais fornecedores de armamentos foram imobilizadas. A EMBRAER, em parte, já pertence ao grupo DASSAULT. O glorioso Exército Brasileiro, pela voz de seu comandante, anuncia medidas de contenção de despesas que comprometem a capacidade operacional da Força Terrestre.

A economia brasileira não suportará muito tempo sem promover os ajustes necessários, como, por exemplo, a diminuição da taxa de juros, a reforma fiscal capaz de diminuir as alíquotas, minimizando a sonegação e aumentando a arrecadação e o controle do saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (imposição de tarifas alfandegárias protecionistas e redução dos tributos que oneram as exportações).  As correções terão que ser feitas mais cedo ou mais tarde. Estamos dependentes das variações experimentadas pelas economias das nações centrais, em especial da norte-americana. Tudo passa a ser função da taxa de juros arbitrada pelo FED ou da  crise que atinge  a Bolsa de Valores dos EUA ou da esperada  crise financeira mundial, agravada pelo atentado terrorista de 11 de setembro e pela retaliação prevista dos EUA, bem como pela crise vivenciada pela economia norte-americana.

         Os candidatos apresentados à presidência da República representam a continuidade do modelo de dependência. Há um candidato ostensivo do sistema,  Sr. Serra, um fingindo ser de oposição (Ciro), outro também ligado ao sistema (Garotinho) e um potencial De La Rúa (Lula). Na prática, torna-se evidente a imperiosa necessidade de que, na ocasião de eleição, todos os postulantes à presidência da República apresentem seus respectivos planos, com transparência, para que o eleitorado não seja mais uma vez enganado, como nas últimas campanhas, quando, em momento algum, o atual presidente revelou sua intenção em "entregar" as riquezas do país, a começar pela "doação" da Vale do Rio Doce.

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