ARROGÂNCIA EXPLÍCITA

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.

(Artigo publicado em 18.10.12 –MM)

         Ainda excitado pela vitória no primeiro turno com 65% dos votos, o alcaide carioca desandou a dizer bobagens, imaginando que de fato é um grande líder, devido aos pouco mais de dois milhões de votos obtidos em 07 de outubro. Esqueceu-se que esses votos não são dele, assim como não foram do Cabral os de 2006 e 2010. Esses votos são do PAC e das obras que estão sendo realizadas para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, com dinheiro dos cofres do Governo Federal. Isto sem contar o abuso do poder econômico utilizado em sua campanha (gastos superiores aos de todos os demais candidatos), com pleno uso da máquina governamental, ao arrepio da Justiça Eleitoral. Além da ampla coligação de 20 partidos, em função de razões heterodoxas, do tempo obtido no horário eleitoral (maior do que o de todos os outros candidatos juntos).

O prefeito Eduardo Paes se queixou do governo (Dilma) por causa dos atrasos nas obras para a Copa do Mundo de 2014. Ele afirmou que o Brasil perdeu uma oportunidade de melhorar a sua imagem internacional. Disse ainda que “o país precisa aproveitar os eventos esportivos para mostrar que consegue planejar e entregar as coisas no prazo”. O prefeito do Rio também aproveitou os holofotes e flashes da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) para dar sua opinião sobre as eleições de 2014 e as alianças que já estão sendo discutidas: “quero que o Cabral seja o vice de Dilma. Isso é que é relevante”.

É evidente que recebeu as reprimendas devidas, desde a cúpula do PMDB, partido atual, temporário como os demais, até as do ministro Aldo Rebelo. Então, como criança levada, após cometer travessuras e ser repreendido pelos responsáveis, pediu desculpas esfarrapadas, alegando que as declarações foram fruto de arroubos emocionais. De fato, ele precisa crescer, amadurecer muito e aprender a ser mais humilde. Sua trajetória é profundamente contraditória, pois já passou por diversos partidos, surgindo inicialmente na condição de “garoto do ex-prefeito César Maia”, feroz adversário de Lula e da administração petista por ocasião da CPI dos Correios, em especial no tocante à atuação do “Lulinha”, a ponto de ter que pedir desculpas para D. Marisa, até a fase atual, na qual apresenta como uma das suas principais bandeiras de campanha o apoio de Lula.

Mas o pior é o fato de ter explicitado a intenção de não cumprir com compromissos assumidos em sua campanha. Após ser reeleito, não reconheceu como promessa de campanha o compromisso de não reajustar o IPTU, além de fazer inúmeros ajustes em suas setenta e oito promessas de campanha. Inclusive cancelou o item relativo a não alteração dos padrões urbanísticos da cidade. A preocupação do cidadão carioca aumenta ao perceber que o alcaide entendeu sua vitória como uma espécie de “licença para fazer tudo que desejar”, a exemplo do personagem James Bond, com sua licença para matar.

Como possui a esmagadora maioria na Câmara Municipal, de fato ele administrará como um “reizinho”, somente podendo ser contido em seus caprichos pela forte reação da opinião pública (extremamente difícil, devido à Lei da Inércia) ou pelo recurso ao Judiciário.

O primeiro desastre será concretizado com a derrubada do Elevado da Perimetral, a ser iniciada ainda este ano com a demolição de uma das rampas de acesso ao elevado, próxima à Avenida Barão de Teffé, na Saúde, que começará a ser derrubada em dezembro. Não satisfeito com isto, ainda admitiu que as obras do denominado “Porto Maravilha” tumultuarão o trânsito no Centro nos próximos quatro anos, sobretudo em 2014, classificado por ele como o período de maior impacto das intervenções.

         Sem querer pensar o pior, ninguém é tolo o suficiente para pensar que grandes empresários investem, sem esperar retorno. O imenso volume de recursos de toda ordem injetado pelos grandes empresários, empreiteiras e outros em qualquer campanha política é feito em contrapartida ao volume de obras a ser recebido após as respectivas posses dos eleitos. Grandes obras significam enormes lucros, vultosas comissões, garantia de campanhas milionárias capazes de garantir a perpetuação no poder do esquema dominante e o desprezo pelas verdadeiras necessidades do povo. Obras faraônicas capazes de afetar a qualidade de vida de milhões de cidadãos serão feitas sem possibilidade de reversão. Qual a resultante?

         Esperamos que redundem em benefício da população, porém a experiência dos Jogos Pan-Americanos não é animadora. É motivo de pena, de dor e de revolta verificar o triste estado da Saúde, da Educação, do Saneamento, da Segurança, dos Transportes, enquanto recursos ditos escassos para o atendimento destas vitais necessidades coletivas são desviados para outras atividades, até justificáveis, mas não de primeira necessidade. Exemplos como o de Atenas e outras cidades que acolheram eventos esportivos de tamanho porte demonstram o sério risco enfrentado.

Enquanto tivermos massa e não povo, dificilmente conseguiremos cobrar com a rigidez necessária dos ocupantes do poder político o cumprimento de seus respectivos deveres. E somente a Educação, tão cruel e irresponsavelmente tratada, será o fator de equilíbrio neste processo. O mérito deve ser estimulado e não desprezado. Até quando suportaremos esta triste situação?

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