A QUEM INTERESSA A DEMARCAÇÃO CONTÍNUA-II?

Prof. Marcos Coimbra

Membro efetivo do Conselho Diretor do CEBRES, Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 29/05/08 para o Monitor Mercantil

 

         Continuamos a analisar neste espaço a grave questão da demarcação contínua da área Raposa/Serra do Sol, bem como de questões mais amplas, como a forma de demarcação de áreas indígenas e a possibilidade concreta de perda de mais de metade do território brasileiro, na prática.

         Circula na internet texto que teria sido traduzido, em alemão, da Christian Church World Council, pelo Sr. Walter H. R. Frank, tradutor público, em São Paulo, no dia 22.07.87, cujo traslado também teria sido feito pela Sra. Maria Iracema Pedrosa, vice-presidente do Centro de Desenvolvimento de Empresários e Administradores Líderes- CDEAL-Manaus, em 1º de dezembro de 1999, onde  constam diretrizes para organizações sociais missionárias no Brasil, datado de Genebra, em julho de 1981. Dentre outras pérolas, destacamos a abertura do citado documento: “A Amazônia total, cuja maior área fica no Brasil, mas compreendendo também parte dos territórios venezuelano, colombiano e peruano, é considerado por nós como um patrimônio da Humanidade. A posse dessa imensa área pelos países mencionados é meramente circunstancial, não só decisão de todos os organismos presentes ao Simpósio (I Simposium Mundial sobre Divergências Interétnicas na América do Sul) como também por decisão filosófica dos mais de mil membros que compõem os diversos conselhos de defesa dos índios e do meio ambiente”.

         A seguir, em sete páginas, são apresentadas várias diretrizes que representam fielmente o que está sendo feito no Brasil. A ser verdadeiro o referido documento, não restará mais qualquer dúvida a um cidadão, com o mínimo de discernimento, que todas estas medidas adotadas pelas sucessivas administrações federais, ao longo do tempo, mas em especial a partir da era Collor até os dias de hoje, no tocante à demarcação de áreas indígenas, são meras execuções de ordens emanadas do exterior. Caso não seja comprovada a veracidade de sua origem, seu autor está de parabéns pelo eficaz trabalho apresentado, pois se trata de um relato perfeito sobre o que está ocorrendo no país. Possivelmente, ele teve acesso a documentos impossíveis de serem confirmados, por meios normais.

         Recentes episódios ocorridos com representantes da facção indígena brasileira, sob orientação do CIMI (Conselho Mundial das Igrejas) e seus órgãos, como, por exemplo, o CIR (Conselho Indígena de Roraima) demonstram cabalmente o que está implícito nas propostas em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF). Uma das declarações mais contundentes divulgada pela imprensa é de um pretenso “líder” ligado ao CIMI: “Queremos que seja aprovado um Estatuto Indígena que regulamenta (sic) a exploração das riquezas minerais, dos nossos recursos hídricos e que contempla (sic) outras áreas como educação e saúde. Não queremos ganhar migalhas deroyalties”, queremos vender o nosso produto ao Brasil. Também não queremos ganhar migalhas de “royalties” com a construção da hidrelétrica de Cotingo. Temos condição de construí-la e de vender energia ao Estado”.

         Definitivamente, esta não é uma declaração de um índio que precise de toda aquela extensão de terra, com suas abundantes riquezas no solo e no subsolo, para caçar e pescar. É claro que se trata de um esperto empresário, possivelmente com preparo no exterior, com a nítida intenção de aproveitar uma situação capaz de permitir a “independência” da área indígena do Brasil.

Também o excelente trabalho feito por uma equipe de TV mostrando a compra de três facões novos pelo Sr. José Cleanton Ribeiro, coordenador do CIMI, na companhia de um índio, na véspera do brutal ataque ao engenheiro da Eletrobrás, Sr. Paulo Fernando Rezende, é emblemática. No vídeo também aparece o padre Josebá Andoni, de Altamira, segundo a Polícia Federal (PF). Houve ainda uma declaração profundamente infeliz de um delegado da PF, ao dizer que “facão faz parte da cultura indígena”. Ele deveria ter pensado melhor antes de falar, principalmente considerando sua posição e missão. Aliás, até hoje, os autores do massacre da reserva Roosevelt estão impunes.

         Parece que as autoridades brasileiras esqueceram ou ignoram o episódio da História do Brasil, onde perdemos, na faixa de Pirara, mais de 15.000 km² para a Inglaterra, em 1904, ao aceitar o laudo arbitral do Rei da Itália, favorável à Inglaterra. O conflito começou justamente com atores e situações semelhantes. Nossas Forças Armadas estavam enfraquecidas. Os índios que ocupavam a região perdida eram da etnia macuxi. E religiosos (reverendo Thomas Yovel) e diplomatas (o inglês Lord Palmerston) estrangeiros executaram o planejamento que privou o Brasil do acesso ao Rio Essequibo e ao Mar das Antilhas, enquanto a Inglaterra ganhou o estratégico acesso à Bacia Amazônica, pela Guiana.

Chega de entreguismo! Trata-se de um crime de lesa pátria. Urge haver vontade política para a implementação de medidas concretas de ocupação planejada, contínua e eficaz da rica região, inclusive com adoção de providencias emergenciais, enquanto é tempo. Acreditamos que o Brasil é capaz de explorar racionalmente a região, sem concessões aos delírios dos ecologistas fanáticos, defensores da sua intocabilidade, nem às ações predatórias de capitalistas selvagens, para ser a potência do terceiro milênio.

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