A PRÁTICA E A TEORIA

Artigo publicado em 12/09/02 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

              Os economistas estudam durante anos para procurar aprender o essencial, a fim de melhor analisar o presente, a conjuntura, para, calcados no passado e no conhecimento da realidade, propor políticas e estratégias prospectivas, objetivando melhorar as condições de vida das pessoas no futuro. E, um técnico capaz, com o correr do tempo, desenvolve uma percepção capaz de levá-lo a perceber  o que vai acontecer. E, normalmente, acerta. Não se trata de adivinhação. É só intuição apoiada no conhecimento e na vivência.

              Não só acertam, contudo. Às vezes, erram, pois as condições "coeteris paribus", alteram-se e a economia é uma ciência social e não exata. Porém partem das previsões erradas para as devidas correções de rumo a fim de acertar novamente. Mas, para isto, é vital ter humildade. Ouvir os colegas, principalmente as vozes divergentes  da sua. Auscultar as pessoas mais modestas, porque existe a chamada sabedoria das ruas, que não pode ser ignorada.

              Agora mesmo, temos a sensação, como qualquer economista consciente e não comprometido de um lado ou outro do processo, numa análise imparcial, fria, de que haverá um agravamento do processo recessivo, um aumento significativo do desemprego e de  todo o "caldo de cultura" propício à eclosão de convulsões sociais no país. É insuportável a manutenção, por muito mais tempo, da elevada taxa real de juros, dos salários represados, da dilapidação do patrimônio nacional a preços vis, do aumento contínuo dos impostos, diretos e indiretos, das tarifas dos serviços públicos e dos bens que constam da cesta básica, da desnacionalização da economia, do aniquilamento  do nosso parque produtivo nacional, da destruição do Estado Nacional Soberano. A situação já está atingindo o ponto de "não retorno", sendo da maior gravidade. Caso não sejam adotadas, de imediato, medidas capazes de provocar a reversão desta danosa "política" econômica em vigor, os danos provocados ao país e ao povo brasileiros serão irreversíveis. E pensar que grande parte desta situação foi provocada para garantir mais quatro anos de mandato ao atual "monarca" brasileiro!

              O momento atual vivenciado pela sociedade brasileira exige, mais do que tudo, além de competência, seriedade, honestidade, desprendimento, patriotismo, amor ao próximo, a visão do estadista, daquele verdadeiro político que não pensa no curto prazo, mas é possuidor da visão de longo prazo, onde as gerações futuras são contempladas e onde predomine o amor ao Brasil. Deve possuir a capacidade de abrir mão de seus privilégios e de seu poder, desde que em benefício da coletividade, da pátria. Os detentores do poder político devem ter ciência que, mais cedo ou mais tarde, serão julgados pelos eleitores, pelos seus filhos e pela História. E este julgamento será implacável. Os omissos, os corruptos, os entreguistas serão expostos à execração pública, passando a pertencer à galeria dos traidores da pátria.

              Bem, o leitor deve estar perguntando. E o que tenho que fazer para exercer  meus deveres e direitos de cidadão e de homem? Se cada um cumprir seu dever em sua atividade, passar a agir  conscientizando  as pessoas com as quais tem relações, do que está acontecendo, organizar grupos de discussão para debater os problemas nacionais, mobilizando-as para interferir no processo, para, no momento preciso, defender nossa pátria e nossos filhos, estará fazendo o que deve. As eleições próximas, de 06 de outubro deveriam ser o momento adequado, mas, infelizmente, pelo menos nos candidatos à Presidência não encontramos nenhum digno de nosso voto. O voto nulo representa nossa inconformidade com o viciado processo eleitoral em curso. Mas são necessárias ações mais profundas.

              Basta de omissão, de cumplicidade! Vamos passar da teoria à prática. Nossos antepassados propiciaram exemplos maravilhosos de coragem, desprendimento, ousadia, descortínio e capacidade de ação. Muitos doaram seu sangue, suas vidas para fazer a independência política do Brasil, a abolição da escravatura, a proclamação da República e tantos outros feitos heróicos. As gerações passadas ensinaram-nos a lição. Agora, chegou a nossa vez. Vamos ter de  provar que estamos à altura dos nossos mais antigos. Nossos descendentes não vão perdoar-nos, caso mostremo-nos incapazes de fazer o que deve ser feito. Nossas consciências não nos deixarão em paz. E nossos pósteros merecem qualquer sacrifício. É chegada a hora da decisão. Afinal, ainda não começamos a lutar. E quando o povo, unido, luta por seus ideais, pelo que é certo, sob a proteção do Grande Arquiteto do Universo, não há força capaz de derrotá-lo. Ao dever, brasileiros! Vamos lutar pela  independência econômica do Brasil.

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