A NECESSIDADE DE UMA POLÍTICA INDUSTRIAL
Artigo publicado no Monitor Mercantil em 23.05.2002.
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.
O
objetivo síntese de uma Sociedade é o de alcançar o Bem Comum, resumo último
decorrente do atendimento das necessidades, interesses e aspirações vitais.
Para isto é imperioso atingir antes os Objetivos Nacionais Permanentes que, por
representarem necessidades, interesses e aspirações vitais, subsistem por longo
tempo. Desta forma, é acionado o Poder Nacional, caracterizado pela capacidade
que tem o conjunto interagente dos homens de dos meios que constituem a Nação,
atuando na conformidade da Vontade Nacional, de alcançar e manter os objetivos
nacionais. Para efeito didático, desdobra-se o Poder Nacional em cinco
expressões: política, psicossocial, econômica, militar e científica e
tecnológica. Utilizamos a Política Nacional, conjunto de objetivos nacionais,
bem como a orientação para emprego do Poder Nacional, no sentido de
conquistá-los e mantê-los e a Estratégia Nacional, arte de preparar e aplicar o
Poder Nacional para, superando os óbices, alcançar e preservar os Objetivos
Nacionais Permanentes, de acordo com a orientação estabelecida pela Política
Nacional, visando garantir a plena consecução destes objetivos, para garantir o
bem estar da Sociedade. A Política Nacional desdobra-se em diversas políticas,
dentre as quais a Política Industrial.
Sempre
defendemos a adoção de uma Política Industrial, por razões doutrinárias, por
fazer parte de nosso ideário, independentemente de razões conjunturais, por
entender ser indispensável e urgente recuperar a perda de competitividade
internacional da indústria brasileira, bem como inverter a tendência de
reprimarização da pauta exportadora. E o mais importante, para fazer frente à
progressiva deterioração dos termos das relações de troca, imposta pelos países
centrais, que manipulam as regras do comércio internacional, fazendo com que tudo aquilo que vendem seja cada vez
mais escasso e, conseqüentemente, caro, enquanto que o comprado dos países
periféricos deve ser a cada dia mais barato, por abundante e devido à
competição. Além disto, os países centrais defendem o livre comércio em tese,
porém praticam abusivamente o protecionismo. A conseqüência é a crescente
dependência econômica dos países menos favorecidos, levando-os a se tornarem
cada vez mais endividados. E, traço comum a todos eles, cada vez mais constatam
a desnacionalização de sua economia e a destruição do parque industrial
nacional. Na realidade, a experiência histórica mostra que nenhum país do mundo
experimentou sucesso na atividade industrial, em função do livre jogo das forças de mercado. Na verdade, quando
ocorre, é prova da vontade ordenada de uma Política de Desenvolvimento Industrial,
devido a uma forte participação do
Estado.
Analisando-se
então a conjuntura, podemos
comprovar o alto grau de dependência
econômica do Brasil, expresso, dentre outros indicadores pelo elevado déficit
do Balanço de Pagamentos em Transações Corrente, superior a 4% do PIB. Assim, é
preciso estar ciente de que uma das funções mais importantes do sistema
econômico é a produção, uma variável-meta digna de ser agraciada em um Plano
Nacional de Desenvolvimento, onde o setor industrial deve funcionar como
elemento dinâmico da atividade econômica.
Depois
de definido o Que Fazer, ou seja, a implementação de uma Política Industrial,
conceituada como a intervenção, orientação ou apoio à atividade econômica
privada pelo Estado, além dos limites mínimos da legislação, regulamentação e
tributação, segue-se o Como Fazer, melhor dizendo as estratégias a serem
empregadas, a fim de permitir a consecução do objetivo fixado:
A – Proceder a uma Reforma Administrativa no governo,
com a criação de um órgão colegiado, subordinado diretamente à presidência da
República, com a participação de ministros de Estado, inclusive do Comércio
Exterior, e de representantes da iniciativa privada, sob a coordenação do
ministro do Desenvolvimento Industrial, com a missão precípua de elaborar e
implementar a Política de Desenvolvimento Industrial do país;
B – Estabelecer uma parceria entre o setor público e
o setor privado, com definição clara das responsabilidades e compromissos de
cada um dos agentes participantes;
C – Proceder a uma Reforma Tributária capaz de corrigir as graves distorções existentes,
procurando desonerar a atividade produtiva, com diminuição das alíquotas,
ampliação do universo tributário, para aumentar a arrecadação, diminuindo nível
de sonegação praticado no país;
D – Diminuir a escorchante taxa de juros praticada no
Brasil, trazendo-a para patamares civilizados, adequada às taxas de juro
cobradas nos principais centros financeiros mundiais e aumentar o crédito
oferecido pelo sistema financeiro, através principalmente da diminuição do
depósito compulsório dos bancos;
E – Empregar os impostos e tarifas de importação como
instrumentos de política, objetivando restabelecer a isonomia perdida entre a
produção doméstica e a produção importada e contribuir para o aumento da arrecadação
tributária;
Continua no próximo artigo.
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