A GLOBALIZAÇÃO E SEUS EFEITOS

Artigo publicado no Vila em Foco em agosto de 2001

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

                   O processo de globalização imposto pelo sistema financeiro internacional ao mundo, através dos adeptos do denominado neoliberalismo, forma atualizada de neocolonialismo, vai provocando os efeitos maléficos, denunciados por nós há muito tempo, apesar das promessas enunciadas de benefícios crescentes, por parte dos seus adeptos. A pobreza que se alastra, o aumento frenético do desemprego, a exclusão social disseminada, a criminalidade dominando progressivamente todos os setores da atividade humana, em especial nos países menos desenvolvidos, são conseqüências inexoráveis de tal proceder. Nos casos em que a miséria absoluta tornou-se desesperadora, são realizados movimentos pontuais de perdão parcial de suas dívidas externas e declarações retóricas de dirigentes dos principais agentes da tirania financeira: FMI e Banco Mundial.

                   Contudo, não se iludam com os discursos surpreendentes, até bem pouco tempo atrás, pronunciados pelos Srs. Stanley Fischer, vice-diretor-gerente do FMI,  James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial e Enrique Iglésias, presidente do B.I.D. e membro do Diálogo Interamericano. Suas respectivas preocupações com o enriquecimento brutal dos países mais desenvolvidos e de suas respectivas elites não serão transformadas em atos capazes de minorar a atual tragédia vivenciada no mundo. Os dados são estarrecedores. Nos EUA, 1% da população controla 60% da renda nacional. No Brasil, o decil superior (10% mais ricos) apropria-se de cerca de 50% do total da renda nacional. Mas, de fato, só colocaram despidos os governantes que, por exigência do próprio FMI, correm o risco de restringir até verbas sociais para pagar juros das dívidas externas e internas.  A Lei de Responsabilidade Fiscal foi implantada para garantir isto.Tudo vai continuar como era, ou então piorar.

Os "gurus" do neoliberalismo pregam que só as fusões são capazes de assegurar o sucesso. Num mundo cada vez mais cartelizado, as principais atividades econômicas estão cada vez mais concentradas na mão de poucas empresas. A experiência mostra que a atividade de comunicações a distância no Brasil vai acabar num monopólio privado, como era monopólio estatal, na época da saudosa Embratel, através de "testas-de-ferro". E pensar que todas as empresas estatais privatizadas no Brasil, incluindo-se aí valores financiados pelo BNDES, "moedas podres" etc., foram vendidas (com o rico filão das telecomunicações) por cerca de US$ 100 bilhões. Agora, no setor transportes, por exemplo nas ferrovias, não houve o ingresso de capitais estrangeiros nas empresas privatizadas, como prometido e o ministério dos Transportes começa a injetar milhões de reais em investimentos, com os escassos recursos brasileiros, para evitar o colapso do setor. Mas isto sem alterar as condições de geração do lucro que depois será realizado pelos empresários privados, em sua maior parte estrangeiros.

                   O Japão realizou uma fusão bancária que criou o maior banco financiador de trocas comerciais do mundo.  E exemplos semelhantes vão acontecendo em outras partes do mundo. No início, tudo é azul. Depois, virão as

 conseqüências inevitáveis: fechamento de fábricas, desemprego de milhares de trabalhadores, aumento de preços para os consumidores, imposição de "vendas casadas" e outras. Alguns colegas economistas profetizam que a indústria brasileira terá que tomar o caminho das fusões (que acabam constituindo monopólios)  para sobreviver ao avanço da globalização no atual milênio, principalmente nos setores onde o tamanho é documento, como o de bens de capital e alta tecnologia. E os efeitos são conhecidos: desnacionalização da economia, extinção do Estado Nacional Soberano, destruição do que ainda resta da indústria nacional, desemprego, exclusão social, pobreza, miséria, amputação de direitos adquiridos, retorno do trabalhador à condição de escravo etc.

                    A união das organizações Globo com as organizações  Folha de São Paulo, para elaboração de um jornal especializado em economia, desde o 2º trimestre de 2000, com a criação de uma nova empresa, com participação igualitária (50% cada) é  um fato digno de ser analisado não só em seus aspectos econômicos, como estratégicos. Antes, ferozes concorrentes, partidários de ideologias antípodas, chegando a Folha a classificar as organizações Globo como "imprensa chapa branca" e, em contrapartida, as organizações Globo alcunhando  a Folha, como "periódico oficial do PT". A edição deste novo jornal representa a aliança entre o grupo líder na TV, com mais de 70% da audiência média no país e o jornal de maior circulação na nação, considerada sua categoria. É a união  de duas das mais poderosas famílias (cerca de sete), que controlam as comunicações no Brasil.

                   E com as perspectivas da abertura do setor de imprensa aos estrangeiros proximamente, considerando projeto de lei em estudo no Congresso, não é demais supor que entrará um grupo estrangeiro na associação com 1/3 das ações, criando-se assim um gigante que terá o monopólio da informação econômica no país. Nos bastidores do mercado  já se anuncia o nome do possível sócio alienígena: "The Walt Street Journal". Se hodiernamente cada um destes grupos já é capaz de derrubar ou nomear ministros, imaginem agora, com a nova situação. É poder demais concentrado em mãos de muitos poucos. E o que fazer  no Brasil para impedir isto, supondo-se que haja vontade política para tal?  Considerando a legislação atual, nada. Nos EUA, há leis rígidas que impedem tal tipo de concentração de poder na imprensa. Ou os grupos que possuem veículos escritos não podem ter veículos de rádio e TV, ou não podem operar em escala nacional e sim regionalmente. Nunca o governo dos EUA    permitiria tal concentração de poder em um ou dois grupos. É muito risco para a forte democracia norte-americana. Lá há no mínimo três grupos poderosos, em igualdade de condições, disputando a audiência palmo a palmo. Há o respeito à divergência de opiniões. Aqui, cada vez mais, caminhamos    para o monopólio das informações, consolidando  a "ditadura constitucional" em que vivemos.

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