A GLOBALIZAÇÃO E A BARBÁRIE

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

(Artigo publicado em 15.03.2007 no MM).

         O processo de globalização imposto pelo sistema financeiro internacional ao mundo, através dos adeptos do denominado neoliberalismo, forma atualizada de neocolonialismo, vai provocando efeitos maléficos,  apesar das promessas de benefícios crescentes, por parte dos seus adeptos. A pobreza que se alastra, o aumento frenético do desemprego, a exclusão social disseminada, a criminalidade dominando progressivamente todos os setores da atividade humana, em especial nos países menos desenvolvidos, são conseqüências inexoráveis de tal proceder. Nos casos em que a miséria absoluta tornou-se desesperadora, são realizados movimentos pontuais de perdão parcial de suas dívidas externas e declarações retóricas de dirigentes dos principais agentes da tirania financeira: FMI e Banco Mundial e assemelhados.

         Notícias recentes publicadas pela imprensa informam que o patrimônio dos bilionários brasileiros cresceu a um ritmo superior ao da média mundial. Os 20 brasileiros listados na publicação (eram 16 no ano anterior) têm hoje US$ 46,2 bilhões, 38% a mais que os US$ 33,5 bilhões contabilizados em 2005. O patrimônio dos  bilionários do mundo cresceu 35% em 2006, alcançando US$ 3,5 trilhões. A liderança do ranking brasileiro no Brasil é do banqueiro Joseph Safra (US$ 6 bilhões), o 119° homem mais rico do mundo. A seguir, Jorge Paulo Lemann (membro do Diálogo Interamericano), investidor na cervejaria Inbev (US$ 4,9 bilhões), o 165º e o empresário Moise Safra (US$ 2,9 bilhões), o 314°, além de outros menos votados.

Os bancos brasileiros divulgam seus resultados, apresentando lucros astronômicos, verdadeiramente inimagináveis há alguns anos atrás, na época do PROER, quando a União, com o dinheiro do povo, doou fortunas consideráveis aos banqueiros em apuros, a pretexto da necessidade de manutenção da saúde do sistema financeiro nacional. É assim que fortunas expressivas são constituídas da noite para o dia, beneficiando não só os pedintes, como os intermediários e os políticos que aprovaram as benesses. Se formos apurar quanto estes notáveis e suas empresas pagam de tributos, em especial de imposto de renda, vamos descobrir que, proporcionalmente, quando pagam, é muito menos do que um trabalhador de classe média.

         O sistema provoca distorções cruéis. O Estado é cada vez mais enfraquecido, com a drenagem de recursos destinados à corrupção, além de sua péssima aplicação. Faltam investimentos na infra-estrutura econômico-social (energia, transportes, comunicação, saúde , educação, segurança, ciência e tecnologia), enquanto aumenta a carga tributária do país para 40%, segundo dados do IBDT. Desta forma, aumenta a entrada de trabalhadores na economia informal. Não há emprego de qualidade. A qualificação da nossa mão-de-obra nos seus três níveis (básico, médio e superior) é extremamente precária. Cria-se o círculo vicioso. A taxa de formação bruta de capital fixo patina no patamar de 21%, o PIB cresce a pífios 2,9%, a economia só consegue gerar empregos de baixa remuneração (94% até 2 salários mínimos), além de não absorver sequer os jovens que entram no mercado de trabalho anualmente (cerca  de dois milhões). A juventude perde a esperança e os mais velhos sobrevivem ou recebendo a esmola do bolsa família ou parcos salários.

         As conseqüências são lógicas. O aumento desmesurado da criminalidade, em especial no Rio de Janeiro. O presidente Lula afirma que a solução está na educação e não na punição, enfatizando que o problema reside no insuficiente investimento no ensino, responsabilizando o “sistema”. Esquece que ele é o responsável por esta carência. Chega ao cúmulo de tentar justificar a “violência”. Como anda protegido (como sua família), por um exército de seguranças, é fácil para ele (até um graduado do Exército Brasileiro morreu em defesa de um filho seu). Porém, para nós, que estamos impedidos até de praticar o direito de legítima defesa, com a proibição, na prática, imposta pelo injusto e traiçoeiro estatuto do desarmamento, é insuportável. Todos os dias são noticiados crimes variados com a participação de “menores”, ou executores diretos ou cúmplices de marginais, com o objetivo de imputar-lhes a responsabilidade, caso sejam presos.

Cada um de nós pode apresentar vários exemplos da barbárie vivenciada pelos cidadãos. No domingo próximo passado, na esquina da rua Barata Ribeiro com Hilário de Gouveia, quase em frente a 12ª delegacia policial, às 13:00h, três “menores” assaltavam livremente os pedestres e motoristas, ameaçando-os com uma arma que estaria no calção, abaixo de uma camisa folgada. Tiveram sucesso várias vezes, até que um cidadão aparentando mais de 60 anos, pagou para ver. Levantou a camisa do meliante e viu uma garrafa de cola ao invés da arma. Deu-lhe um safanão e outro  atirou-lhe uma pedra na cabeça, a qual felizmente não o atingiu. Os marginais fugiram em desabalada carreira. Como as delegacias legais vivem com o sistema fora do ar, é muito difícil proceder ao registro de ocorrência. Mas e se o “menor” estivesse de fato armado? A conclusão é desanimadora. Não está dando mais para viver no Rio e, talvez, no Brasil. Por esta razão, centenas de empresários brasileiros já residem fora do país.

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