A ECONOMIA DO  BRASIL E SUAS VULNERABILIDADES

Artigo publicado em outubro de 2001 no Ombro a Ombro.

 

                   Vamos basear nossa análise nos indicadores econômicos, sociais e políticos fornecidos em sua maior parte pelos próprios órgãos da administração FHC. Recordemos alguns deles. O déficit nominal alcança mais de 6 % do Produto Interno Bruto (PIB). O déficit do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes ficará em torno de US$ 25 bilhões. O desemprego atinge mais de doze milhões de brasileiros. O PIB permanece estagnado.  A dívida externa chega a US$ 210 bilhões, depois da "maquilagem" feita e a dívida interna ultrapassa R$ 640 bilhões. Só de amortizações da dívida externa o Brasil terá de pagar US$ 30 bilhões no decorrer do corrente ano.

                   A nível qualitativo, diagnostica-se a carência brutal em termos de geração de empregos de qualidade, de erradicação da pobreza absoluta, de atenuação dos desequilíbrios regionais e  outros. Na expressão psicossocial, pauperiza-se a classe média, a saúde apresenta resultados alarmantes, caracterizando um verdadeiro genocídio, o processo educacional não forma nada, nem ninguém, a insegurança aumenta. A reforma da previdência devolve o trabalhador ao tempo da escravatura. A corrupção atinge níveis alarmantes. O exemplo do Senado, da Câmara de Deputados, do município de São Paulo e outros  não deixam dúvidas sobre o que está ocorrendo no país. Na área  política, o Estado Nacional Soberano é paulatinamente destruído, as Forças Armadas são imobilizadas e assistem impotentes à derrocada da Soberania Nacional.

                   A economia brasileira não suportará muito tempo sem promover os ajustes necessários , como, por exemplo, a diminuição da taxa de juros, o da reforma fiscal capaz de diminuir as alíquotas, minimizando a sonegação e aumentando a arrecadação e o controle do saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (imposição de tarifas alfandegárias protecionistas e redução dos tributos que oneram as exportações).  As correções terão que ser feitas mais cedo ou mais tarde. O volume de reservas cambiais, cerca de US$ 35 bilhões em seu conceito líquido, não possui qualidade capaz de propiciar-nos segurança, pois diminuirá para US$ 20 bilhões, em pouco tempo. Estamos dependentes das variações experimentadas pelas economias das nações centrais, em especial da norte-americana. Tudo passa a ser função da taxa de juros arbitrada pelo FED ou da  crise que atinge  a Bolsa de Valores dos EUA ou da esperada  crise financeira mundial, agravada pelo atentado terrorista de 11 de setembro e pela retaliação prevista dos EUA.

                   Já se volta a falar no Brasil na hipótese de implantar o parlamentarismo, já rejeitado duas vezes pelo povo, em votações expressivas. A aprovação da reeleição representou um " golpe branco". A ação empreendida pelo sistema financeiro internacional dominando os meios de comunicação de massa, o controle do Legislativo e do Judiciário (em fase de conclusão) pelo Executivo e a cumplicidade da oposição, em parte já cooptada, pode provocar a continuidade, com a vitória da "oposição" de francaria.  Com mais quatro anos de mandato condicionado à vontade externa, depois de oito anos de entreguismo, pouco sobrará do Brasil que recebemos de nossos antepassados. Talvez nem a Amazônia. Falta à elite a visão estratégica, de longo prazo.

O Sr. Henry Kissinger, alemão naturalizado americano, em seu livro "Diplomacia", traduzido pelo Sr. Saul Gefter, numa visão prospectiva,  apenas considera estrategicamente como futuras potências: América, China, Europa Unida Índia e, talvez a Rússia ou Alemanha. Ao Brasil, contempla com uma só citação, condicionando sua importância à necessidade de incorporar-se à ALCA, sob comando dos EUA. Isto foi o planejado por ele, em 1972. E está dando certo. Cabe a nós, brasileiros, lutar para reverter esta situação e, com base num projeto nacional de desenvolvimento, assegurar ao Brasil o lugar que lhe é devido no concerto das potências mundiais.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

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